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08/02/2022 às 08h00min - Atualizada em 08/02/2022 às 08h00min

“Crás” uma revista... uma experiência

CHICO DE ASSIS
A produção de quadrinhos no Brasil vive um momento no mínimo muito interessante, é mesmo difícil acompanhar o volume do que é publicado. Entre as premiações no festival de Angoulême pelo trabalho de Marcelo Quintanilha, ou de João Pinheiro e Sirlene Barbosa, ambos publicados pela Editora Veneta. A série “Ugrito” da Revistaria e editora Ugra que traz provavelmente o mais experimental da atualidade. Os trabalhos da coleção Graphic MSP projetando autores para uma visibilidade dentro do mainstream. Tem de fato muito a ser lido e apreciado.  Se, e como isso vai se manter é outra história, questões como a extinção de políticas públicas de apoio à cultura, e o preço do papel no mercado apontam um futuro complicado, mas nada disso é novidade. O Quadrinho sobrevive e sobreviverá porque é parte de nossa vida e da construção de uma identidade, e resistirá como sempre resistiu. Enfim, entre críticas e aplausos sobre essa cena toda, existe um passado, sobre o qual devemos nos debruçar... é sempre “sobre ombros de gigantes que vemos melhor o horizonte”.

Houve, em um contexto político específico, uma batalha para a criação de uma cooperativa de quadrinhos nacionais, a criação de uma lei de apoio e proteção à produção brasileira. Tudo isso esbarrou em momentos históricos complicados e nunca se efetivou de fato. E entre isso tudo temos a experiência da editora Abril com a “Revista Crás”. Em meados dos anos 70 que se propôs a uma publicação voltada para o público infantil com autores brasileiros, e com histórias autorais.  

A revista “Crás” durou, infelizmente, apenas seis números. Mas trouxe trabalhos de inúmeros autores muitos des/conhecidos nas revistas da editora Abril. Entre eles Zélio, Xalberto, Ciça, Ivan Saidenberg, Jayme Cortez, Nico Rosso, Primaggio Mantovi, Waldir Igayara de Souza, Miguel Paiva. E claro Renato Canini grande desenhista do Zé Carioca, que sendo tão brasileiro em sua representação do personagem foi “convidado” a deixar de fazê-lo pois não era Disneyano o suficiente... A Crás era brasileiríssima, a impressão que temos é que os autores tinham grande liberdade em criar suas histórias. Não sei se hoje poderíamos publicar muitas de suas HQs, sem ser questionados. 

Essa Revista é hoje desejo de muitos colecionadores idosos como eu. Felizmente editoras novas têm trazido o trabalho de alguns desses “antigos” autores. Mas o que me pergunto é o seguinte: “o que temos publicado de quadrinhos para crianças brasileiras com conteúdo brasileiro?” o que temos feito para formar leitores para o quadrinho brasileiro além de "Turma da Mônica" ou “Disney” ou de quadrinhos japoneses... existe uma produção brasileira de quadrinhos “brasileiros” para nosso público juvenil? Se existe, qual é? E se não existe, porque não? Porque editoras brasileiras, se elas ainda existem, não fazem esse tipo de aposta para esse público? Porque apostar apenas no público adulto? Enfim, tenho saudades da “Crás”... mas isso talvez seja um problema velho...ou não!

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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