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05/02/2022 às 08h00min - Atualizada em 05/02/2022 às 08h00min

As Seis Lições

EDMAR PAZ JUNIOR
Praticamente tudo o que acontece numa sociedade é precedido pelo que é ensinado nas escolas e debatido nos círculos dos “intelectuais”. Ou seja, os aprendizados, as conversas, as brincadeiras e principalmente os hábitos de leitura e livros que são estimulados nos alunos, são de fundamental importância na continuidade da vida social das crianças, e consequentemente no ambiente comunitário em que todos convivem.
 
Esse é um dos vários desmembramentos possíveis de um raciocínio “simples”, mas contundente que Ludwig Von Mises utiliza em suas palestras, no ano de 1959, que ministrou na Argentina durante seis dias e que ficaram registradas na forma desse livro. “Tudo o que ocorre na sociedade de nossos dias é fruto de ideias, sejam elas boas, sejam elas más”.
 
Se basicamente tudo o que vivenciamos é originário do que aprendemos e buscamos aprender, se faz mais essencial ainda o incentivo, desde a juventude, ao desenvolvimento intelectual. Um dos pontos cruciais e também grande desafio dos educadores, reside em preparar os alunos para que sequencialmente à escola possam se aprofundar nos temas que tenham afinidade e se sintam mais à vontade.
 
Concomitantemente aos estudos das disciplinas regulares, a escola necessita incentivar os alunos a querer enxergar e buscar o que é Bom, Belo e Verdadeiro e não apenas “conhecimentos técnicos”.
 
O professor Olavo de Carvalho ensina sobre um conceito que vivenciamos e vemos todos os dias ao nosso redor: a paralaxe cognitiva. “O afastamento entre eixo da construção teórica e o eixo da experiência real anunciado pelo indivíduo”, ou seja, a pessoa fala sobre uma ideia, mas vive de forma contrária ao que ela mesmo diz. Familiar, não? A maioria da sociedade aprende, ainda na escola, conceitos distintos do que os que de fato se mostram eficazes na melhora de vida de todos e é urgente a retomada dos significados reais daquilo que move a nossa vida em comunidade.
 
A ideia de Mises durante essas palestras ministradas na década de 50 era justamente trazer ao conhecimento das pessoas, ideias que até então, e na verdade perduram até hoje, foram amplamente disseminadas de forma a confundir a população. Durante uma semana, ele falou sobre seis temas diferentes, mas que estão interligados e formam uma pequena espécie de rede, nesse complexo emaranhado de relações e sistemas humanos de convívio.
 
É claro que todo o seu conhecimento e seus estudos não se resumem a esse livro, de forma que o escritor faz apenas brevíssimas exposições, como uma espécie de pincelada pelos seus conceitos, mas suficiente para  se ter uma ótima noção do quanto somos “mal informados” pelos veículos de informações que determinam as diretrizes de ensinos.
 
Nessa obra, com capítulos no formato de verdadeiras lições, o autor ensina sobre Capitalismo, Socialismo, Intervencionismo Estatal, Inflação, Investimento Estrangeiro e sobre as Políticas e Ideias que podem melhorar a vida das pessoas. É perceptível que o Capitalismo é ensinado e disseminado de forma equivocada no nosso país, e já desde o início dos estudos escolares, é dito nas entrelinhas dos livros de que se trata do mal do mundo, por “ser uma ideia materialista, em que as pessoas colocam os bens materiais acima de qualquer coisa”.
 
Não é isso o que vemos no dia a dia. Capitalismo não se trata de uma ideologia, como o socialismo, que prega uma igualdade inatingível e um projeto de controle sobre as pessoas, mas sim de um sistema econômico que é utilizado por todos. Como tudo o que é desenvolvido pelo ser humano, não é perfeito, porém se trata da melhor forma de proporcionar conforto às pessoas, elevando o padrão de vida de uma sociedade.
 
Se alguém produz um determinado produto ou gera alguma espécie de valor para os outros, pode usufruir do fruto do seu trabalho. Quanto mais livre um ambiente econômico em um país, maiores são as chances de que as pessoas se tornem mais ricas e vivam melhores, não apenas em termos financeiros, mas também em relação à uma comunidade segura e um lugar que seja bom para viver.     
 
Aqui se apresenta outra questão que Mises também fala, que é sobre o Intervencionismo do Estado na vida das pessoas. Quando, por exemplo, o governo tenta controlar o que pode ser vendido, como e por quem, acaba por interferir num processo natural que o próprio mercado realizaria. Induz e incentiva artificialmente quem “poderá” lucrar, produzindo verdadeiros barões empresariais, e esse ponto é o lado ruim de se tentar controlar e direcionar o capitalismo, porque geralmente são decisões equivocadas.
 
Perceba, quando é o mercado quem decide, e aqui falo de mercado como o conjunto das relações entre empresas, consumidores e tendências, existe um movimento natural que excluirá aqueles que não atendem as demandas da sociedade, ou seja, se a empresa produz algo de valor ela será recompensada com lucros, se não, vai perder espaço até o momento em que seja necessário se reinventar, ou na pior das hipóteses, fechar as portas.
 
Sobre esse ensinamento acerca do Intervencionismo, existe um case interessante que aconteceu recentemente. O governo federal isentou de impostos a importação de trigo, tornando consequentemente a produção de seus derivados mais baratos. Determinado político, simplesmente por ser contra o governo, questionou dizendo que não se poderia praticar tal política, “uma vez que ficaria mais barato para o Nordeste importar trigo estrangeiro, do que comprar dos produtores do Sul”.
 
Ora, o Brasil é um dos maiores produtores de grãos do mundo, se possivelmente não for o maior, e quadruplicou sua produção com a mesma área de produção nas últimas décadas, de forma que a melhor tecnologia de plantio é nacional, restando uma simples questão: se os produtores estrangeiros conseguem produzir trigo barato, por que os nossos, com a tecnologia de ponta que temos, também não conseguem? Ainda, o que é mais vantajoso para a população, comprar trigo barato ou comprar trigo nacional?
 
Esse tipo de argumentação que o político oposicionista utilizou, apenas revela o interesse por trás de quase todas as políticas públicas: arrecadar dinheiro para manter a imensa máquina pública “funcionando”. Não se visa o bem e o desenvolvimento social, mas tão somente a manutenção de benefícios da classe política.
 
É sobre isso, sobre a circulação de informações, sobre ensinar as pessoas o que realmente significam políticas públicas e mostrar que quando se conhece o processo de implementação de políticas, de produção de bens e também dos mecanismos da economia, do mercado e seus ciclos, abrimos espaço para que cada vez mais pessoas possam “fiscalizar” o debate público e filtrar quais são as propostas que realmente serão benéficas para a sociedade como um todo. Assimilar o que Mises apresenta nesta pequena, porém poderosa obra é um bom começo para começarmos a entender o jogo que fazemos parte e assim, deixar de sermos meros espectadores sem poder de ação.
 
Fonte: As Seis Lições, Ludwig Von Mises
 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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