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29/01/2022 às 08h00min - Atualizada em 29/01/2022 às 08h00min

Originais

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Redes sociais
Uma das belezas da literatura reside não apenas nos belos textos, na coerência harmoniosa em que o autor expressa suas ideias ou na exposição de lindas palavras. Um bom livro vai muito além, e consegue impactar a vida das pessoas. É claro que isso pode ocorrer de diversas formas, e em vários estilos de livros, seja num romance, em uma obra de filosofia ou em algum outro tipo de conteúdo. Fato é que muitos autores se propõem a editar e produzir trabalhos com a pretensa ideia de modificar e proporcionar boas impressões nas vidas das pessoas, mas sem se preocuparem com isso, buscando meramente a obtenção de lucros. Ou seja, produzem livros tentando se encaixar no que o “mercado” espera e não no que realmente desejam falar. Acredito que quanto mais um autor se preocupa com isso, menos originalidade terá o seu trabalho. O processo criativo é espontâneo e deve ser educado e incentivado nesse sentido. 

Contudo, existem algumas mentes que conseguem atingir seu objetivo de provocar reações positivas na vida das pessoas. Adam Grant é uma delas. Em sua obra “Originais - como os inconformistas mudam o mundo”, ele joga luz sobre possíveis saídas para pessoas que acreditam não se encaixar num mundo padronizado, de regras definidas e que adoram questionar o motivo de quase tudo, mas são comumente confundidas com meros tumultuadores ou aqueles que só pretendem criar confusão. E o escritor faz isso de uma forma que acredito ser uma das mais eficazes de ensinamentos: histórias e exemplos reais. 

“A originalidade começa com a criatividade: a geração de um conceito que seja ao mesmo tempo novo e útil. Mas não é só isso. Pessoas originais são aquelas que tomam a iniciativa de transformar sua visão em realidade.” Mais que isso, Grant explica que a maioria das pessoas que dominam ou influenciam no desenvolvimento da humanidade não são constituídos apenas de pessoas cuja inteligência está acima da média, ou que possuem “superpoderes”. Ele começa essa explicação sobre a originalidade, para depois tentar fazer um paralelo com crianças que eram consideradas prodígios na sua infância. E contrariamente ao que muitos podem pensar, o motivo de que essas crianças superdotadas não conseguirem produzir coisas inovadoras, não é sua timidez. Somos tendenciosos a acreditar e talvez de certo modo a estigmatizar crianças e pessoas inteligentes, os “nerds”, como recatadas ou tímidas. Mas ele diz que essas pessoas são tão normais e sociáveis quanto qualquer um. A grande questão que permeia essa “incapacidade” dos prodígios reside justamente na sua capacidade de executar o que lhe foi ensinado. Os super inteligentes são excepcionais em absorver e reproduzir o que sabem, mas muitas vezes são apenas isso.

Como apresenta Grant, “na vida adulta, muitas crianças prodígios se tornam especialistas em suas áreas e líderes em suas organizações”, mas apenas algumas delas viram criadores revolucionários. “Eles empregam suas habilidades extraordinárias de forma comum, dominando seu trabalho sem questionar os padrões e sem provocar rebuliço. Em todas as áreas nas quais se aventuram, optam pelo caminho mais seguro, seguindo os passos convencionais para o sucesso”. É até um pouco confuso acreditar que quem de fato provoca mudanças no mundo é a “turma do fundão”. Mas isso não é aleatório e o autor dá razões para esses acontecimentos: de forma grosseira, os “menos” inteligentes precisam se virar para conseguir respeito e reconhecimento. A grande questão é que a maioria deles levam esses conceitos para a vida real e conseguem quase sempre identificar falhas onde podem tentar “contornar um sistema definido” para conseguir algum mínimo de sucesso.

Um ótimo exemplo que também me chamou a atenção no livro, foi o de uma funcionária da CIA que teve, no início dos anos 90, uma ideia que revolucionaria a forma como a agência manipulava e informava internamente seus dados. “O sistema convencional de compartilhamento de informação baseava-se em “relatórios fechados de inteligência”, divulgados uma vez por dia e difíceis de coordenar entre as agências”. Carmem Medina, analista da CIA, propôs que ao invés de cada agência do país imprimir seus relatórios, que eram espécies de jornais com as impressões e resultados das operações dos agentes, essas informações deveriam ser publicadas numa rede intranet da agência, podendo ser atualizadas assim que surgissem novos informativos. Porém, ela foi fortemente contrariada por seus colegas, que julgaram a ideia absurda, principalmente por conta de considerarem a internet, naquela época, uma ameaça à segurança da agência.
Mesmo com os ataques a sua ideia, ela continuou espalhando sua opinião por um tempo, mas sempre sem obter sucesso, e o que lhe rendeu quase uma demissão e seu afastamento das funções que envolviam ações diretas de campo. Contudo, ela não desistiu de tentar implantar o que tinha proposto, e o que Grant ensina no livro, é justamente a forma como ela aprendeu  a se comunicar, falando de forma a conquistar a credibilidade das pessoas ao invés de perdê-la. Essa nova maneira de conversar com as pessoas e seu modo de convencimento lhe renderam diversos frutos, inclusive seguidas promoções dentro do serviço de inteligência americano. Com isso, quando se tornou vice-diretora do departamento de inteligência, conseguiu finalmente ser ouvida e implantar sua ideia na corporação, ganhando uma medalha por seus serviços prestados ao país. Ou seja, ao reaprender como convencer as pessoas de que uma ideia pode ser boa, Medina se tornou “simpática” e convincente aos olhos de seus colegas, e isso pode ser bem mais importante do que o resultado propriamente dito de uma ideia, na hora de propor algo que vai quebrar algumas estruturas ineficientes que perduram por demasiado tempo e que faça com que algumas pessoas tenham que sair de sua zona de conforto.    

A obra é uma seleção de ensinamentos sobre como impulsionar nossa originalidade, como conquistar pessoas que vão aderir à nossa causa nos ambientes mais improváveis, além de como e o que fazer para enfrentar o medo e a insegurança na hora de expor nossas ideias, não apenas em relação à nós mesmos, mas também de nossos filhos e amigos. Um livro inteligente e que nos propõe bons insights para usarmos no dia a dia.

Originais - Como os inconformistas mudam o mundo, Adam Grant.

 
*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.








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