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15/01/2022 às 08h00min - Atualizada em 15/01/2022 às 08h00min

Uma breve reapresentação

EDMAR PAZ JUNIOR
Vou aproveitar o dia de hoje, por ser a primeira coluna do ano, para tentar fazer um texto um pouco diferente e mostrar a proposta que desejo para este espaço, o que não fiz no ano passado. Acredito que foi muito mais pela ansiedade de produzir, apresentar os textos e começar a “falar” sobre os ensinamentos que tenho conhecido cada dia mais, do que propriamente uma falta de educação. Peço perdão ao leitor pela indelicadeza, não foi proposital. 
 
Não vou comentar sobre uma obra específica, mas sim sobre um autor, que ultimamente tem me fascinado, e de certa forma até me influenciado, pois tenho sedimentado pouco a pouco cada vez mais minha fé cristã. É gratificante conseguir entender, mesmo que por brevíssimos momentos, o significado das palavras Posteridade e Eternidade que ele tanto fala em seus textos. Gustavo Corção é o típico autor brasileiro “deixado” de lado, simplesmente por defender um algo contrário ao “viver o hoje indiscriminadamente”, o que não é nem de longe lucrativo. Aqueles que “decidem” o que vende ou não estão em busca de lucros e querem sempre o que empolgue, que seja chamativo e atrativo, coisa que a religião verdadeira não é em sua aparência, mas tão somente em sua essência. O Cristianismo prega o “morrer para viver”, e certamente isso não é nem um pouco excitante aos olhos do mundo, e tampouco compreendido pela maioria das pessoas. Quando começamos a olhar para nossa vida com os olhos da Fé, percebemos que grande parte da sociedade entende de forma equivocada o que representa, por exemplo, uma expressão como o Carpe Diem. Não é um “viva o agora, pois só existe este momento”, mas muito mais um “aproveite o presente para cuidar do seu depois”. 
 
Coração repete em algumas crônicas ensinamentos sobre o livro de Eclesiástes, que nossa vida não está limitada aos horizontes terrestres e nem apenas ao que podemos tocar, e diz ainda que é um ‘livro existencial, uma espécie de filosofia do absurdo, um manual de contrassenso escrito na pauta da limitação marcada pelos horizontes terrenos. Se a sorte do homem é o que se vê sob o sol, então a vida é absurda. A forte estimulação desse livro consiste na confiança incondicionalmente posta na fé dos mandamentos. Esses, aconteça o que acontecer, não podem ser absurdos. Serão incompreensíveis, como os sofrimentos de Job e como o sacrifício pedido a Abraão. No dinamismo das propulsões negativas, ou melhor, do vácuo produzido por essa bomba pneumática, tira-se a conclusão: a sorte do homem não pode limitar-se ao que se vê. Ou ainda, do que se vê tira-se todo um prenúncio do que está escondido”.
 
Em seu livro A Descoberta do Outro, que falarei futuramente, ele relata sua dívida com escritores como Jacques Maritain e G.K. Chesterton, o que acredito ser de suma importância, necessário sempre ter em mente e que também devemos começar a observar melhor. Precisamos aprender a reconhecer a influência que recebemos daquilo que lemos, ouvimos e assistimos, e consequentemente, da impressão que deixamos nas pessoas. Porém, essa influência que digo, não é simplesmente saber que somos impactados, mas também no sentido de ser grato, de reconhecer que alguém antes de nós fez algo e que entramos e saíremos da história no meio do caminho e não no começo ou no fim, de forma que nosso papel é colocar um tijolinho numa imensa construção que é a humanidade. Indo além ainda, note que só conseguiremos entender que deixamos marcas na vida das pessoas que convivem conosco, quando assimilarmos como e por quem somos influenciados. 
 
Gosto da metáfora de que somos anões sobre os ombros de gigantes, porque expressa a ideia de que descobrimos a verdade a partir das descobertas anteriores. João de Salisbury atribuiu esse conceito a Bernardo de Chartres, dizendo que “este costumava nos comparar a anões empoleirados nos ombros de gigantes. Ressaltou que podemos ver mais e mais longe do que nossos predecessores, não porque temos visão mais aguçada ou maior altura, mas porque somos levantados e carregados sobre sua estatura gigantesca”. Isaac Newton adaptou esse conceito em 1675: “Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”.  
 
A ideia deste espaço engloba também falar sobre eles, os autores e a influência que exercem sobre nós, e não apenas sobre suas obras. Tenho uma crescente admiração pelo Corção, pela forma como escreve e principalmente pelo seu entendimento sobre os acontecimentos cotidianos. Ele consegue encontrar Deus nos mínimos detalhes da vida. Acredito que escrever é um Dom, e por mais simples que seja a situação que nos acontece em algum momento, não é fácil colocar “no papel”(experimente escrever como foi o seu café da manhã e todas as sensações que consegue identificar). Admiro-o ainda mais por seu posicionamento em relação à Igreja Católica, e a defesa que faz de suas tradições. A sociedade, as liberdades e a facilidade com que vivemos hoje, foram precedidas de árduas lutas e infindáveis batalhas por sua continuidade. Não podemos simplesmente “fingir” que começamos a viver agora, e por isso reforço essa ideia de que devemos ser gratos aos nossos antepassados que tanto fizeram por nós. 
 
A literatura é uma dessas formas de gratidão, pois é através dela que podemos deixar gravado na história nossos ensinamentos e aprendizados, e conseguimos dar sequência ao que veio antes de nós. Ler bons autores, falar e escrever sobre eles é também uma maneira de perpetuá-los. Gustavo Corção é mais um brasileiro genial que está esquecido em algum canto da história e merece que o façamos circular na cultura nacional, nas rodas de bate papo, nas redes sociais e principalmente nas escolas. Leia-o, você ficará impressionado. 
 
Que nesse ano de 2022 possamos aprender cada vez mais e realizar todos os nossos planos. Desejo Paz, Saúde e Sucesso a todos! 

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
  
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