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19/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 19/10/2021 às 08h00min

De vilãs a heroínas mulheres nos quadrinhos de heróis

CHICO ASSIS
Personagens mulheres de histórias em quadrinhos de heróis são extremamente exuberantes. Independentemente de seu poder, se são vilãs ou heroínas, elas conquistam personagens e leitores com sua beleza. As vilãs são ainda mais ousadas e usam da sedução como arma.
 
Nos quadrinhos, em 1940, a Mulher Gato surgiu como uma antagonista do Batman e garantiu sua vaga, até hoje, como uma das principais vilãs desse universo. Electra é uma grande assassina, e também, uma das mais temidas personagens. A vilã conquistou o coração do Demolidor e o deixou arrasado. Houve até quem mudasse de lado, no universo da Marvel, a Viúva Negra começou como uma vilã do Homem de Ferro, no clima da Guerra Fria, mas logo se tornou espiã e assassina de elite ao lado dos heróis.
 
Todas as personagens citadas têm em comum sua beleza padrão, corpos curvilíneos, bundas enormes, seios fartos e suas roupas extremamente sensuais. Nota-se que há um propósito em representar essas mulheres como sedutoras, imprimindo uma imagem hipersexualizada. Essa representação é muito comum nas narrativas de caças às bruxas em todo o mundo, que teve início na Idade Média e perduram de alguma forma até hoje. Mulheres provocam uma atração considerada incontrolável, principalmente na ótica das igrejas cristãs. Para o tribunal da inquisição a sexualidade feminina era descrita como algo diabólico, era a quintessência da magia que definiam uma bruxa.
 
Apesar da caça às bruxas ter uma explicação multicausal, o poder feminino é temido em uma sociedade patriarcal, a violência contra as mulheres está diretamente ligada ao comportamento que é desejável delas. Qualquer desvio é considerado perigoso. Existe um empenho em construir um imaginário onde a mulher subversiva perverte os objetivos sociais e divinos.
 
A bruxa, assim como a vilã é uma mulher de má reputação, libertina e promíscua, que contradiz o modelo de feminilidade. A insubordinação social também é presente nestas personagens, que muitas vezes movidas por vingança, desafiam as autoridades. Até mesmo, heroínas que em situações adversas mostravam um comportamento não desejável, como a Jean Grey integrante da escola do professor Xavier em X-Man, que quando está possuída pela entidade Fênix, tornando-se a Fênix Negra, ela se torna um ser sexy, atraente, porém, violenta. Jean tem poderes que não pode controlar o que é uma ameaça ao domínio do Estado e à sociedade.
 
Neste sentido, o conhecimento também é ameaçador. Hera Venenosa, a vilã do Batman, além de sedutora, ela é controladora de plantas e venenos naturais. Este conhecimento remete a um poder popular que foi cada vez mais restringido aos homens da ciência. No renascimento, as mulheres curandeiras eram referência nas revoltas contra o cercamento de terras, seus perseguidores a acusavam de querer virar o mundo de cabeça para baixo.
 
A beleza é um produto vendável, mas porque ela foi construída e moldada de acordo com os interesses capitalistas. Há uma motivação ideológica e uma manutenção do poder patriarcal que reforça a ideia de quanto mais agradável aos olhos, mais mortal para a alma. A repressão do desejo feminino foi colocada a serviço de objetivos utilitários, reduzindo esse desejo às necessidades sexuais dos homens. Ressignificar essa liberdade como vilania é exorcizar todo o seu potencial subversivo e transformador das mulheres.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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