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01/10/2021 às 08h00min - Atualizada em 01/10/2021 às 08h00min

Presente

WILLIAM H STUTZ
O ano? Um tanto longe 2012. Chegou à minha porta, um mensageiro para a entrega de um pacote embrulhado para presente. Papel de um cinza brilhante com listras brancas em uma das beiradas. O sol alto o fazia brilhar intensamente como se fosse luz refletida em espelho.

Já perceberam a sensação de quando chega uma encomenda inesperada? Se for via Correios, acredito que não tem aquele que consegue assinar o comprovante de recebimento sem certa ansiedade e sem desgrudar os olhos do pacote, seja ele grande ou pequeno, envolto em papel ou plástico amarelo e azul. De quem será? O que contém? Para quem da casa? Quando o encarregado da entrega é um mensageiro então, a sensação é ainda mais forte por pressupor-se que seja de alguém conhecido, principalmente se não lhe pedem para nada assinar. Geralmente apenas um curto comentário:

— Pediram para entregar.

Agradecemos meio sem jeito já com as mãos na encomenda, afoitos para saber quem é o destinatário. Todo mundo que está em casa vem espreitar para saber o que e para quem é. Desta feita, para minha surpresa, o escolhido fui eu. Quase não chega encomenda em meu nome. Contas, promoções de supermercados, imãs de venda de água e gás, estes chegam aos montes a mim endereçados. Neste ano então, vai chover santinho de candidato, vou me sentir “tão importante”. Temporada política tem dessas coisas. Mas encomenda, presente mesmo, raramente.

— É para você! E me entregaram aquele reluzente regalo.

Abri com o cuidado místico quase ritualístico: o momento assim exige, saboreando cada segundo. Antes apalpei cada pedaço na tentativa de adivinhar o que poderia conter. A cada presente nos tornamos outra vez criança, até o cheiro do papel é deliciosamente diferente e prazeroso.

A expectativa toma conta de todos que estão ali à sua volta

— Abre logo pai! Quem mandou?

Os filhos são sempre apressados. De propósito só para me divertir, faço tudo mais devagar ainda.

Era um livro. Maravilha. Adoro ganhar livros. Este me foi enviado por um grande amigo, de longa data, desde a época de escola. Ele estudando Medicina e eu, Veterinária.

Conhecemo-nos há mais de 40 anos e, com uma série histórica dessa é fato que se pode traçar o perfil de uma pessoa que, mesmo não a encontrando todos os dias, os laços de amizade e admiração permanecem infatigáveis.

O que nos aproximou inicialmente foram nossas esposas que, como alguns números, são primas entre si. Hoje, Luiz Mauro se tornou renomado médico em Uberlândia e embrenhou-se também pelos difíceis mistérios dos estudos da sexologia o que, atesto, provavelmente, seja uma das causas que o leva a ver seus pacientes de maneira mais holística. O estudo do comportamento das gentes em área tão delicada, rica e profunda, humaniza sobremaneira o conhecimento técnico.

“Ostra feliz não produz pérola” de Rubem Alves, este foi o livro com o qual fui brindado. Na dedicatória, uma referência à lembrança de minha pessoa a cada releitura que fizera.

Começo com curiosidade mais aguçada a saborear este livro me procuro em cada dizer. Às vezes lisonjeado, às vezes cabreiro, olha eu lá.

Leitura cativante e direta, autor que consegue ser, prazerosamente, repetitivo sem entediar.

Ao final, certamente, muito teremos a prosear, Lula, e assim entender por meio de quais fragmentos e lentes caleidoscópicas você vê e avalia a alma desse velho amigo.
 

Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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