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28/09/2021 às 08h00min - Atualizada em 28/09/2021 às 08h00min

Conheça Carl Barks, o Homem dos Patos

Por Weber Abrahão Jr.
Walt Disney foi muito mais um administrador de talentos que propriamente um gênio da criação artística. Após a invenção do camundongo Mickey, em 1928, dedicou-se a contratar e gerenciar equipes de criação de desenhos animados, tirinhas e quadrinhos, construindo um império dedicado à indústria cultural.  Diversos artistas anônimos emprestaram seus talentos aos Estúdios Disney, elaborando mais do que argumentos, roteiros e desenhos:  criaram personagens e biografias completas, cidades e suas arquiteturas; enfim, todo um universo de referência genericamente assinado por “Walt Disney”.

Para alguns pesquisadores, Disney não teria se importado com a aposição do nome dos autores em suas obras.  A prática da assinatura “Walt Disney” teria sido recomendação da distribuidora, a Syndicate, para uniformizar e identificar os produtos com a marca Disney.

Essa explicação não é corroborada por Thomas Andrae.  Para este autor, até 1960, e seguindo a política do Estúdio Disney e da Western Publishing, editora licenciada para a publicação de suas HQs, prevaleciam secretas as identidades dos autores das histórias atribuídas a Disney, porque era preciso manter a ilusão de que ele seria o responsável pela produção não apenas dos desenhos animados, mas também pela miríade de revistas e livros infantis que carregavam seu logotipo.

Carl Barks foi um dos principais artistas não creditados dos Estúdios Disney. Iniciou sua carreira na empresa, como desenhista de animações, em 1935. Dedicou-se aos quadrinhos a partir de 1942, devido a problemas de saúde. Intolerante ao ar condicionado do estúdio, foi morar em uma pequena propriedade rural onde, municiado com uma vasta coleção de revistas National Geografic, buscou referências iconográficas e temáticas para a elaboração dos roteiros de suas histórias.

Desde então passou a escrever os argumentos e desenhar as HQs. Em vinte e cinco anos ininterruptos, entre 1942 e 1967, Barks acumulou mais de seis mil páginas desenhadas, em cerca de quinhentas histórias em quadrinhos.
A genialidade de Barks trouxe à luz o Pato Donald e, a partir dele, todo o universo familiar e aventureiro em que orbitam o Tio Patinhas, os sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho e, é claro, a cidade de “Patópolis”.

Não obstante, foi apenas em 1960 que o nome de Barks saiu do anonimato. Um fã norte-americano chamado John Spicer, escreveu uma carta ao editor da Western Publishing que, em resposta, revelou seu nome para o leitor.
Desde que sua identidade foi descoberta, a fama de Barks, o “bom artista”, explodiu.  Seu trabalho foi apresentado em museus e tanto revistas quanto jornais famosos o anunciaram como o maior humorista da América.

As criações de Barks inspiraram vários artistas, dentre estes Steven Spielberg e George Lucas.  Ambos reconheceram a referência aos quadrinhos de Barks em pelo menos dois filmes da série Indiana Jones.

A sequência da pedra rolando em “Os caçadores da arca perdida” é uma citação de “As cidades do ouro” (The seven cities of Cibola), de 1954.
E a inundação da mina em “Indiana Jones e o templo da perdição” foi inspirada em partes do roteiro de “As minas do rei Toleimon” (The Prize of Pizarro), de 1958.
 
Dentro da fantástica e rica produção de Carl Barks, destaca-se a   relação   da   Família   Pato com o “outro”, colocado além cultural e geograficamente. Este “outro”, conhecido através das viagens de negócios do Tio Patinhas, abarca as construções feitas por Barks do latino americano, do asiático,do  nativo  americano,e  aparece em nada menos do que cinquenta e oito HQs!

Thomas Andrae credita o sucesso de Barks ao fato dele nunca ter escrito, diretamente, para os leitores jovens.  Suas histórias podem ser lidas em múltiplos níveis, apelando tanto para leitores jovens quanto adultos.


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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