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07/09/2021 às 08h00min - Atualizada em 07/09/2021 às 08h00min

O voo do Urutau na transcendência do Juízo

Divlgação
 Transcendência. A fuga é para fora ou para dentro? O devaneio é fuga ou é encontro?  Perguntas que surgem diante da audição de "Juízo", novo single do duo Urutau, que pousou no mundo das plataformas digitais de música ontem, 6 de setembro.   

Urutau é formado por Anna F. Monteiro e por Arthur Rodrigues, ambos agitadores culturais do selo-movimento Cena Cerrado. A banda com nome de pássaro é desses projetos que surgiram entre as paredes da pandemia, impulso do voo ante as asas cortadas.

Anna e Arthur começaram suas experiências em home studio, garagem dos nossos tempos. O som conectado às placas dos computadores ganhou vida tal qual o pássaro noturno que se esconde na mata, cujo canto ouvimos, cujo corpo-asa não vemos.  

O duo tomou concretude digital dia desses, com o primeiro single, "Oração", que já circulou nas vias intocáveis das plataformas digitais de música. "Juízo" é o novo voo, nos preparativos para o álbum de instigante nome "Donizete", que está por vir.

A faixa foi gravada em um dos pulsantes espaços da cultura independente da cidade, o estúdio Casa Verde, por Rafael Vaz, que também toca baixo, junto do sax de Mauro Fontoura e da guitarra de Lucas Simon. O play chama para voar junto.

"Juízo" canta a perda do juízo. O juízo cerceador que limita a experiência no mundo. Abertura de possibilidades: o que pode um corpo? Onde termina a paisagem? Tudo é abertura.
"Eu acordo e invento a pessoa que eu sou",  canta Anna F. Monteiro sobre a cama envolvente da base sonora que, orbitando entre dois acordes, desenha texturas capazes de abrir os sentidos: "meu corpo viaja pra longe daqui".

Essa reinvenção de si mesma combina com uma estreia vocal, como a de Anna. Na faixa, a artista se revela cantora, trazendo para as cores da própria voz a palavra com a qual lida no diário da labuta. Voz que é, sobretudo, materialização da carne. Voz que é singular: "toda carne tem um jeito de ser", como canta em um dos versos.

Carne vocal, experiência sonora, mergulho, abertura. O som de "Juízo" se expande no videoclipe que acompanha o single, bela produção da Graviola Comunicação e Mídia com direção da própria Anna junto de Joyce Fonseca.

Na tela, a dança de Gio de Oliveira sintetiza a dualidade: o movimento do corpo, ao ultrapassar o espaço que ocupa, abre o caminho para dentro de si. Os morros de Ouro Preto são o macrocosmo do universo que sugere aquilo que está para além do que capta a fotografia. Corpo aberto. Campo expandido.

"Juízo" canta a possibilidade de transcendência em um movimento que, se parte da reinvenção de si mesma no espectro individual, desenvolve-se como convite ao outro: "só atravessa o meu portão".
Convite que envolve o corpo do ouvinte-espectador, a quem são oferecidas as aberturas infindas, sob o cobertor do beat. Para além de qualquer juízo, sentimos as asas: voamos juntos com o Urutau. 
 
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