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13/07/2021 às 08h00min - Atualizada em 13/07/2021 às 08h00min

Coisas de cinemas

ANTÔNIO PEREIRA
Quando Aníbal Saglia, um industrial uruguaio que enlatava línguas de boi para enviar para a Europa, terminou a construção do Cine Theatro Uberlândia, em 1937, com capacidade para 2.200 espectadores, Uberlândia ficou super nutrida de cinemas. Já tínhamos o Cine Avenida, do Joaquim Marques Póvoa e do José Peppe, com centenas de lugares. Daí a pouco o Póvoa construiu mais o Eden ali perto da estação da Mogiana, depois Fórum Abelardo Penna.

O José Peppe Jr., gerente do Avenida e sócio do Póvoa, detinha contrato com as grandes distribuidoras, Metro, Columbia, Warner Bros, Paramount, Montion e outras menores, sobrando pouco para o gerente do Saglia, o Eurico Grunde. Depois de construído o Éden, o Peppe mandava passar lá os mesmos filmes que passava no Avenida, só que a preço reduzido. Lá era o “Poeira”, onde a discriminação forte cá do centro não funcionava. Para enfrentar a novidade, o Grunde começou a distribuir, nas sessões de domingo, ingressos gratuitos para a “Sessão das Moças”, na terças-feiras.

O Pepe, por sua vez, arrebanhou os músicos do cinema mudo e trouxe-os de volta para a antessala. Era Luiza Borges (piano), José Maria (bateria), Antônio Lopes (violino), Delizola (flauta), Isaias Siqueira (contra baixo) e o Parada (clarinete). Enquanto não começava o filme, a rapaziada transformava o cinema num salão de baile. O Grunde também colocou músicos, permitiu a dança, colocou duas sessões, números de mágica, cantores, distribuição de balinhas, rosas e sorteios.

O Peppe comprou uma bombinha de “flit” (inseticida), enchia de água perfumada que espargia por toda a sala antes de abri-la para o público.

O Póvoa resolveu sair da briga e alugou seus cinemas para o Nicomedes Alves do Santos que, em seguida, comprou o Cine Theatro Uberlândia do Saglia. O Saglia também resolveu acabar com sua indústria e voltar para o Uruguai. Levou num pé de jabuticabas, já produzindo, para usufruir lá na sua terra. Não se sabe se deu certo.

O José Marques Póvoa construiu três cinemas: o Avenida, o Eden e o Brasil, todos três passados ao Nicomedes. Só permaneceu ativo o Brasil, que virou Cine It. Este cinema teve uma trajetória histórica. Quando desativado, virou depósito dos Móveis Freitas, fábrica que havia na rua Barão de Camargos bem defronte à avenida Afonso Pena, bloqueando-a. Quando os móveis saíram de lá, virou Rodoviária, depois virou um magazine que inaugurou o sistema de compras a prestações na cidade, era o Mundo Elegante. E voltou a ser cinema passando filmes pornográficos.

As outras salas também tiveram sua história, porém todas chegaram ao fim, menos ele, único que ficou e foi ficando, ficando até que foi “tombado” no sentido literal da palavra.
 
Fontes: José Peppe Jr., jornais.
 
 
Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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