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01/07/2021 às 08h00min - Atualizada em 01/07/2021 às 08h00min

A boca do lixo é faminta

IVONE ASSIS
Nos longínquos 1965, Augusto de Campos escreveu o poema concretista LIXO LUXO, o qual tem uma interessante composição gráfica, em que o design lembra uma conhecida marca, e quando a estrutura do poema é observada de pertinho, vê-se uma montanha de “luxo, luxo, luxo...” e conforme os olhos vão se distanciando, o amontoado de luxo vai se transformando em uma palavra gigante, como se fossem edifícios, até que somos capazes de enxergar, unicamente, o LIXO.

O poeta que, a seu estilo, vai aproveitando o espaço da página, preenchendo-o de modo a dizer muito com poucas palavras, enquanto segue denunciando o consumismo exacerbado e supérfluo da sociedade, vai também acionando uma luzinha de consciência no leitor. Não é de hoje que o correto descarte do lixo tem preocupado o mundo. A cada dia, a situação se agrava ainda mais. A arte, a seu jeito, nos mais diferentes gêneros, apresenta sua preocupação com esse problema. Mas, em meio a uma multidão como a população mundial, é preciso, além das Artes, ações governamentais e privadas de excelência.

A poesia concretista foi abraçada por vários grandes nomes, como Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro (1932), Gullar, Ronaldo Azeredo, Leminski, Arnaldo Antunes, Harold de Campos... cada qual com seu pêndulo, seu lixo, na desconstrução do verso, revelando gente ET, em que tudo vai girando feito girassol, em sua velocidade, em seu tempo.

Do abstrato da poesia concreta à concretude do mundo real, vimos erguer um universo de sólidos, líquidos e gasosos... cujo excesso de consumo e inconsequência na destinação dos resíduos desencadearam um planeta de lixo sem precedentes. E, como um intestino, tudo que entra precisa sair, a Terra está empanzinada, precisando de atendimento médico. Estamos na metade do 2021 e o planeta tem até 2025 para ser liberto de, pelo menos, 1 bilhão de toneladas de CO2 do ar, se não quiser colapsar.

Quanto mais aumento do CO2, mais se compromete a vida. A água se torna mais ácida, e a vida marinha e terrestre vai sendo espreitada. De acompanhante vem o alto índice de doenças, em especial, doenças respiratórias, cânceres, doenças de pele e mais uma lista sem fim de problemas. Quando se trata de Dióxido de Carbono, sabemos que o filtro mais eficiente são as plantas, as florestas e as ações nas indústrias. No entanto, todo sujeito pode ser útil e eficiente, fazendo sua parte, porque o pouco, quando junto, se torna muito. E, se nada for feito, como caldeira, o planeta vai se aquecendo. Só neste mês, mais de uma centena de pessoas já morreram de calor no Canadá. Por enquanto, vivemos exaustão sazonal, em que a estação quente ainda vai embora. Mas se nada for feito, o aquecimento pode fazer morada.


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