Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
01/06/2021 às 09h00min - Atualizada em 01/06/2021 às 09h00min

Canto cruzado

ENZO BANZO
Eu quis cantar minha canção iluminada de sol, ser artista no nosso convívio. Pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia. O sol há de brilhar mais uma vez? Tudo que eu tentei falhou?

Você deve notar que não tem mais tutu e dizer que não está preocupado. Mas, as pessoas na sala de jantar são ocupadas em nascer e matar e morrer. E assim nos tornamos brasileiros.

Taí, eu não preciso entender sua lógica. Vou mostrando como sou e vou sendo como posso: a cada mil lágrimas sai um milagre, quero a utopia, quero tudo e mais, quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer. Janelas e portas vão se abrir? Existirá para todo mal a cura?

Hoje é terça-feira, o céu borrou a cor, o céu se põe debaixo do tapete. Tá lá um corpo estendido no chão, em vez de um rosto uma foto de um gol. Isso aqui ô ô é um pouquinho de Brasil, ai, ai. Desce, Brasil, mostra a sua cara. Você jogou fora o amor que eu te dei, o sonho que sonhei, isso não se faz, ai meu bem, não faz assim comigo não. 

Agora, que faço eu da vida? Com que máscara eu vou pra manifestação que você me convidou? Por que aqui na face do Brasil esse bicho aê é o que vai ter? Filha do medo, a raiva é mãe da covardia.

Eu quis cantar minha canção iluminada de sol, a culpa deve ser do sol que bate na moleira, ô Sol, vê se me esquece. Odeio você, odeio você, odeio. Vingança, vingança, vingança.  Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim? Tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis. Você merece, você merece, tudo vai bem, tudo legal.

Quero a utopia, quero tudo e mais: a passeio pelo mundo sem saber qual é a rota, eu vou atrás do trio elétrico, vou dançar o negro toque do agogô, vou fazer minha folia com os Filhos de Gandhi, por que não, por que não? Ficar com certeza, maluco beleza. A vida até parece uma festa, e viver será só festejar, ê ô, ê ô, laiá. A esperança é um dom que eu tenho em mim, quando tudo era ausência, esperei. Vou ficar mais um pouquinho para ver se acontece alguma coisa.

Astronauta libertado, minha vida me ultrapassa em qualquer rota que eu faça. Minha dor é cicatriz, minha morte não me quis. Os escafandristas virão, tentarão decifrar o eco de antigas palavras. Os alquimistas estão chegando, estão chegando os alquimistas, dentro da baleia mora Mestre Jonas. Eu juro que é melhor não ser um normal. A minha alucinação é suportar o dia a dia. Minha cabeça trovoa.

O mar quando quebra na praia é bonito, é bonito. Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, qualquer maneira de amor vale amar. Belezas são coisas acesas por dentro, tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento. Mas, oh, não se esqueçam da rosa, da rosa, da rosa sem perfume, sem rosa, sem nada.

Eu vou descendo por todas as ruas, eu não preciso de muito dinheiro, samba agoniza mas não morre. Não me pergunte, não me responda, me deixe mudo. Quando eu soltar a minha voz, por favor entenda: eu quis cantar minha canção iluminada de sol, a culpa deve ser do sol, eu sou como eu sou, somos o que somos, não há sol a sós. Só, não sei sonhar. 

O sol há de brilhar mais uma vez. Eu já escuto os seus sinais.


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90