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09/03/2021 às 14h59min - Atualizada em 09/03/2021 às 14h59min

De vilãs a heroínas: mulheres nos quadrinhos de heróis

ALINE ROMANI
Mulher Gato, Jean Grey, Hera Venenosa, Electra e Viúva Negra
Personagens mulheres de histórias em quadrinhos de heróis são extremamente exuberantes. Independentemente de seu poder, se são vilãs ou heroínas, elas conquistam personagens e leitores com sua beleza. As vilãs são ainda mais ousadas e usam da sedução como arma.
 
Nos quadrinhos, em 1940, a Mulher Gato surgiu como uma antagonista do Batman e garantiu sua vaga, até hoje, como uma das principais vilãs desse universo. Electra é uma grande assassina, e também, uma das mais temidas personagens. A vilã conquistou o coração do Demolidor e o deixou arrasado. Houve até quem mudasse de lado, no universo da Marvel, a Viúva Negra começou como uma vilã do Homem de Ferro, no clima da Guerra Fria, mas logo se tornou espiã e assassina de elite ao lado dos heróis.
 
Todas as personagens citadas tem em comum sua beleza padrão, corpos curvilíneos, bundas enormes, seios fartos e suas roupas extremamente sensuais. Nota-se que há um propósito em representar essas mulheres como sedutoras, imprimindo uma imagem hipersexualizada. Essa representação é muito comum nas narrativas de caças às bruxas em todo o mundo, que teve início na Idade Média e perduram de alguma forma até hoje. Mulheres provocam uma atração considerada incontrolável, principalmente na ótica das igrejas cristãs. Para o tribunal da inquisição a sexualidade feminina era descrita como algo diabólico, era a quintessência da magia que definiam uma bruxa.
 
Apesar da caça às bruxas ter uma explicação multicausal, o poder feminino é temido em uma sociedade patriarcal, a violência contra as mulheres está diretamente ligada ao comportamento que é desejável delas. Qualquer desvio é considerado perigoso. Existe um empenho em construir um imaginário onde a mulher subversiva perverte os objetivos sociais e divinos.
 
A bruxa, assim como a vilã é uma mulher de má reputação, libertina e promíscua, que contradiz o modelo de feminilidade. A insubordinação social também é presente nestas personagens, que muitas vezes movidas por vingança, desafiam as autoridades. Até mesmo, heroínas que em situações adversas mostravam um comportamento não desejável, como a Jean Grey integrante da escola do professor Xavier em X-Man, que quando está possuída pela entidade Fênix, tornando-se a Fênix Negra, ela se torna um ser sexy, atraente, porém, violenta. Jean tem poderes que não pode controlar o que é uma ameaça ao domínio do Estado e à sociedade.
 
Neste sentido, o conhecimento também é ameaçador. Hera Venenosa, a vilã do Batman, além de sedutora ela é controladora de plantas e venenos naturais. Este conhecimento remete a um poder popular que foi cada vez mais restringido aos homens da ciência. No renascimento, as mulheres curandeiras eram referência nas revoltas contra o cercamento de terras, seus perseguidores a acusavam de querer virar o mundo de cabeça para baixo.

A beleza é um produto vendável, mas porque ela foi construída e moldada de acordo com os interesses capitalistas. Há uma motivação ideológica e uma manutenção do poder patriarcal que reforça a ideia de quanto mais agradável aos olhos, mais mortal para a alma. A repressão do desejo feminino foi colocada a serviço de objetivos utilitários, reduzindo esse desejo às necessidades sexuais dos homens. Ressignificar essa liberdade como vilania é exorcizar todo o seu potencial subversivo e transformador das mulheres.


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