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12/01/2021 às 08h00min - Atualizada em 12/01/2021 às 08h00min

Clark Kent da vida real

LUCIANO FERREIRA
A partir da historicidade das charges - que tratam graficamente questões sociais, políticas, econômicas e afins - e de quadrinhos de caráter biográfico ou autobiográfico, o gênero de ‘’Reportagem em Quadrinhos’’ (ou Quadrinhos Jornalísticos) surge como resultado das transformações que o próprio Jornalismo tem sofrido nas últimas décadas, onde questões como o Infotenimento (informação com entretenimento) e o ‘’New Journalism’’ (com os relatos em primeira pessoa, romances de não-ficção de expoentes como Truman Capote e Hunter S. Thompson), entre outras, incentivam a investigação de caráter jornalístico a partir de outros meios, modos e métodos.

Art Spiegelman e sua novela gráfica ‘Maus’ é referência na produção de Quadrinhos Jornalísticos por tratar de forma mista os aspectos autobiográficos e alegóricos da vida de sua família, sobrevivente do Holocausto.

O desenhista maltês Joe Sacco, que também é jornalista, realizou reportagens investigativas sobre a situação dos palestinos em zona de conflito, privilegiando a construção de seus personagens a partir de relatos verídicos.

Temos também o brasileiro Vitor Teixeira, a iraniana Marjane Satrapi (autora da HQ Persépolis, que mais tarde virou animação) e a novela gráfica portuguesa "Reportagem Especial" (2016), todas partindo de premissas jornalísticas ou a partir do trabalho investigativo de jornalistas.

Enquanto meio, os quadrinhos dão alguma liberdade para compor e organizar os fatos reportados, pois ainda que o uso de elementos gráficos não esteja adequado aos padrões de verificação característicos do jornalismo, seu deslocamento visual e estético tende a não comprometer a relação com os fatos.

Enquanto modo e método, as tendências gerais de pesquisa e registro de reportagem se mantêm, respeitando as múltiplas verificações de fatos, o sigilo da fonte e os aspectos gerais do Código de Ética Jornalística.

As possibilidades estéticas e na articulação de fatos a partir das possibilidades dos quadrinhos não altera a intenção jornalística, podendo até aprimorar e explorar graficamente os pontos vagos de um relato, ou utilizar fontes documentais de forma integrada à narrativa gráfica.

Com essas potencialidades e com um público fiel, as Reportagens em Quadrinhos podem compor elementos que se entrelaçam e atiçam o interesse do leitor, dando um passo adiante nas possibilidades de expressão artística e jornalística, onde pautas e temas que sejam, de alguma forma, negligenciados possam receber não só a atenção devida, mas também um tratamento adequado a cada necessidade, seja enfatizando as questões visuais e gráficas, seja pelo aprofundamento no tema, para citar alguns exemplos. 


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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