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22/09/2020 às 08h00min - Atualizada em 22/09/2020 às 08h00min

O Liceu de Uberlândia

ANTÔNIO PEREIRA
A partir dos anos 20 do século passado, começaram a surgir, na cidade, as primeiras escolas de Curso Secundário (hoje embutido no Primeiro Grau). Escolas que ostentavam toda aquela seriedade e pompa dos tempos do “magister dixit”. Escolas que deixaram saudade e marcaram uma época de transformação política e cultural da cidade.

São escolas pioneiras e marcantes: o Ginásio de Uberabinha (depois Colégio Estadual), a Escola Normal (depois Colégio Brasil Central), o Liceu de Uberlândia e o Colégio Nossa Senhora das Lágrimas.

O Liceu de Uberlândia foi fundado no dia 15 de janeiro de 1928 por duas personalidades das mais expressivas da nossa História: o promotor público Mário de Magalhães Porto e o farmacêutico Antônio Vieira Gonçalves.

Antônio Vieira Gonçalves, de atitudes pitorescas, foi dedicado profissional no socorro ao próximo, um dos heróis da luta contra a gripe espanhola que tantas vidas ceifou no fim da segunda década do século passado. Mário Porto foi homem de ideias avançadas para a sua época, responsável por uma verdadeira guinada no pensamento político da juventude.

Poucos anos depois, Vieira Gonçalves deixou a sociedade.

Em 1929, quando o Ginásio de Uberabinha (particular) foi encampado pelo Estado, o Presidente Antônio Carlos visitou a cidade. Foi saudado pelo dr. Mário Porto curiosamente debaixo da lona de um circo que se armara na praça defronte à escola. Foi tão estimulante o discurso que o Governador se dispôs a atender qualquer pedido seu. Mário Porto solicitou a honra de ser o primeiro Reitor da nova Escola. Foi atendido.

Afastando-se da direção do Liceu, Mário Porto convocou o irmão Nelson para substitui-lo. Os Magalhães Porto eram de Caruaru, Pernambuco. Nelson veio, entretanto, teria passagem rápida pela cidade. Foi um dos soldados que estiveram na frente de combate, na Revolução de 1930, na ponte Afonso Pena. Desejando seguir estudos, mudou-se para São Paulo. Mário convocou o terceiro irmão, Milton Porto.

Foi pitoresca a saída de Milton Porto de Caruaru. Ele já era casado com d. Maria Fausta e já tinha o filho Galba. Extremamente respeitoso para com o pai, o velho cacique político, Leocádio Rodrigues Duarte Porto, Milton ficou constrangido em comunicar-lhe a decisão de descer para Minas Gerais e saiu sem dizer nada. Deixou a esposa e o filho, que, pouco tempo depois, desceram também. Posteriormente, ao contar esta passagem de sua vida, o professor Milton dizia sorridente que tinha “fugido” do pai.

Chegou em 1931. Muito escrupuloso, achava que não devia lecionar porque não tinha a menor experiência. Mário estimulava-o dizendo-lhe que não havia o que temer, ele tinha conhecimentos e o Brasil, em matéria de ensino, precisava fazer muito ainda. Era preciso que pessoas como ele se dedicassem à educação. Orientava-o, estimulava-o. Na primeira aula que daria, Mário esperou que o irmão entrasse na sala, ficou de fora e trancou-a. Nas aulas seguintes, ficava na porta da sala acompanhando-o. Milton acabou identificando-se com o ensino e se transformou num dos mais eméritos professores de Uberlândia. Em suas mãos a escola se transformou num grande centro educacional da região. Foram quarenta e três anos de atividades pedagógicas.

Mário Porto, mal interpretado pelo conservadorismo local, para evitar maiores constrangimentos, resolveu mudar-se para o Rio de Janeiro onde continuou suas atividades educacionais.

Milton ficou só. Além de dirigir o Liceu, ampliou suas atividades abrindo a Escola Técnica de Comércio, o Colégio Oswaldo Cruz, o Colégio Normal Mário Porto, o Curso Primário e o Curso Científico, alguns funcionando à noite.

Com o passar do tempo, as mudanças e a necessidade de descansar um pouco, Milton Porto encerrou, em 1973, as atividades do velho Liceu e das outras Escolas; porém ainda deu muito de si em prol da instalação da Universidade.

Milton Porto e o complexo escolar do Liceu plasmaram muitos líderes nacionais em várias atividades, bastando citar, para ilustrar a afirmação, o ex-Ministro Rondon Pacheco.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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