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03/09/2020 às 08h30min - Atualizada em 03/09/2020 às 08h30min

A importância da PrimaVera

IVONE GOMES DE ASSIS

No Brasil, setembro é o mês das flores, quando nossos olhos fotografam as cores e nossas narinas registram o aroma da natureza. O amarelo é a cor do setembro, é a cor do Ipê, é também a cor da vida. Em setembro, o cerrado, que mais parece uma vegetação de ponta-cabeça, busca forças, em meio à sequidão, e decora os campos e alguns pontos de pradarias, onde o Ipê foi mantido. A floração dos ipês convida à floração da vida.

Em busca de ressignificar a história de muitos, o setembro foi escolhido para abrigar a prevenção mundial contra o suicídio. Desse modo, diversas pessoas passaram a ser como os ipês nas pradarias, que, apesar dos conflitos, escolheram florescer, para fazer a vida ainda mais bela. Somos como ipês, nas mais diferentes cores, podemos fazer com que a vida floresça, e encha o cerrado de beleza e encantamento, até que chegue a mudança natural das estações.

Os ipês, plantas de floração breve, geralmente, variam seus meses de florada, conforme a região, o clima, a adubação... e outros fatores, próprios da necessidade de cada um: o ipê rosa (em suas muitas variações, de roxo a rosinha), o branco, o verde... já o ipê amarelo, este começa em julho e se intensifica em setembro. O jacarandá mimoso costuma fazer companhia ao ipê. Vejo, da mesma forma, a empreitada a favor da vida se faz aqui e ali, durante todo o ano, variando de lugar para lugar, conforme a necessidade, mas intensificando-se em todo o mundo no mês de setembro. Florescendo, então, o Setembro Amarelo. Assim como os ipês florescem em temperaturas menores, as campanhas para a vida também florescem, na companhia dos grandes parceiros, quando o estímulo para se viver é menor.

Desses parceiros, quero citar a CVV e o grafiteiro paulista Samuel Freiria, que mudou a aparência dos banheiros de uma escola pública de Franca (SP), dizendo NÃO à morte e SIM à vida. Os dois citados, em consonância a centenas... milhares de outros, optaram por mudar o cenário, levando positividade às pessoas, em especial aos jovens e adolescentes, na tentativa de trocar o ódio pelo amor; a ofensa, pela gentileza; o suicídio, pela vida.

Dentre as respostas de Freiria, às mensagens dos alunos nos azulejos, estão: (azulejo/GRAFITEIRO) “A conexão humana anda sem sinal / REINICIE!”; “Se todo mundo desiste de mim, por que eu não posso? / PORQUE VOCÊ É ESPECIAL PARA ALGUÉM”.
Quem ama cuida. E amor é grande demais para ficar apenas em casa, mas é flexível o suficiente, para morar em mentes e corações de todos os tamanhos e idades. O amor pede espaço, para alcançar além oceano. O suicídio é coisa séria demais, para passar despercebido entre as pessoas e governantes. Como ser humano, é preciso ler, ver e ouvir nas entrelinhas. É incongruente dizer que em um mundo com superpopulação as pessoas estão cada vez mais sozinhas.

Para o músico e educador Stephen Nachmanovitch, em sua obra “Ser criativo: o poder da improvisação na vida e na arte” (1993, p. 22)”: “Não se pode falar de um processo criativo, porque as personalidades são diferentes e o processo criativo de uma pessoa não é igual ao de outra. Na luta pela expressão do ser, muitos seres podem ser expressos. Cada um precisa descobrir sua própria maneira de penetrar e atravessar esses mistérios essenciais”.

Assim como os ipês colorem o acinzentado do cerrado seco, devemos colorir o cinza das mentes solitárias. A cegonha pode até ter encerrado as entregas de bebês, mas o pombo-correio continua ativo, mandemos mensagens de amor e superação para os destinatários anônimos ou não. Todas as pessoas precisam irrigar o amor dentro de si, para ser capaz de amar também. Em vez de afetar o outro, levemos afeto ao outro. O pino da granada, que promove o intento contra a própria vida, tem muitas faces: depressão, ansiedade, solidão, tristeza, mas podemos encher a vida de cores, enfatizando a importância da PrimaVera.

*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 

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