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30/06/2020 às 18h38min - Atualizada em 30/06/2020 às 18h38min

Por que histórias em quadrinhos não são nem Artes Visuais e nem Literatura?

LUCIANO FERREIRA
Para começar essa conversa, pegue qualquer história em quadrinho e copie só o texto. Se o texto explicar por si só, se ‘contar’ a história, então teremos um eventual texto literário.

Mas se não ocorrer isso, se a dinâmica entre as ações das imagens complementar ou for essencial para o leitor acompanhar o que se passa em uma história, então podemos dizer que as Histórias em Quadrinhos são, essencialmente, Artes Visuais?

Acredito que não, pois além do fato histórico de que narrativas gráficas são tão ou mais antigas que pinturas, esculturas e outras formas de artes visuais, também há o fato de que a estruturação das imagens explicitam atos, gestos e contextos e que isoladamente, não carregam por si só, todo o sentido que uma história inteira pode carregar. Quer dizer, podemos até deduzir ou recordar de uma história inteira, a partir de um único quadro, mas apenas se os elementos representados ali, já forem previamente conhecidos.

Meu nariz não vai crescer se eu falar que se você ver a imagem de duas toras de madeira cruzadas, imediatamente vai lembrar da história de Jesus, que aliás era carpinteiro.

Mas Gepeto também era carpinteiro e a sugestão trapezoidal, que há entre o tronco e os membros de uma figura antropomórfica, poderia lembrar a cruz.

Esse exemplo superficial pode nos ajudar a lembrar do poder do condicionamento e do quanto isso pode ser importante para uma narrativa baseada em sequências de imagens e de textos, pois ao jogar com elementos simples como madeira, cruzes, marionetes e geração de vida, já relacionamos indiretamente duas histórias que, na superfície, não têm relação alguma.

O mesmo tipo de procedimento também vale para narrações literárias, onde homonomias, sinônimos, heterônimos e uma infinidade de figuras de linguagem, podem ser utilizadas em simbiose com imagens e suas articulações.

Mesmo que o texto seja condutor em uma grande parte da produção de quadrinhos e que isso deixe as imagens em segundo plano em relação à narração, isso não exclui automaticamente os casos de Histórias em Quadrinhos, onde não há texto algum ou a relação entre texto e imagem é feita de forma a provocar uma fusão de sentidos e interpretações.

Nesse último caso, temos como exemplo as onomatopeias que, a grosso modo, são aquelas palavras ‘desenhadas’ e cujo desenho imita o efeito e o sentido que essa palavra tem, amplamente utilizadas em HQs e animações. Com as onomatopeias, temos a fusão entre o sentido abstrato de uma palavra e a percepção gráfica de uma forma visual previamente conhecida, gerando uma fusão de sentidos simultâneos, mas que podem ter sentido textual ou figurativo, se realizados separadamente.
 
Continua...



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