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16/06/2020 às 09h38min - Atualizada em 16/06/2020 às 09h38min

Usar cor é fogo!

LUCIANO FERREIRA
O uso das cores nos quadrinhos reforça a narrativa mesmo sem usar elementos perceptíveis e vai além das funções habituais de preenchimento, profundidade e iluminação: desenvolver a história a partir de aspectos subliminares, aproveitando de simbolismos e relações culturais para criar uma narrativa paralela, complementar.

Em um dos exemplos mais conhecidos, na HQ Watchmen (de Allan Moore e Dave Gibbons, 1986), cores são ocasionalmente distribuídas ao longo dos quadros de forma a criar uma estrutura concêntrica, que remete às mandalas e ao mesmo tempo sugerindo uma analogia visual em relação às ramificações que norteiam a trama.

Já no uso corriqueiro das HQs com elementos já estabelecidos, trabalha-se para sugerir cromaticamente as emoções de uma história. Descontrole, raiva e violência geralmente usam cores vibrantes como vermelho, amarelo ou laranja. Cores frias, como azul e violeta, são usadas quando o tom é triste e deprimente. Notem que isso tende a ser embasado em correlações fisiológicas e naturais.

Quadrinhos infantis geralmente fazem uso de cores primárias de forma mais ostensiva, trabalhando com correlações de cores para propor agrupamentos, identificar times, turmas e etc. Esse recurso geralmente tem a função de ajudar as crianças leitoras a categorizarem grupos a partir de dicas visuais, podendo propor nesse tipo de obra a ideia de cor enquanto noção moral ou ética, como é o caso do onipresente uso de cores escuras em contraposição a cores claras enquanto oposição de valores.

Vale lembrar que no início do século 20, os gibis começaram a usar cores em suas impressões, e ainda que também fossem predominantemente primárias, provocaram um aumento de demanda do público por conta do efeito psicológico  na dinâmica da leitura das imagens. As cores davam um tempero a mais no arroz-e­­-feijão do preto&branco. Despesas altas e dificuldades técnicas levaram a indústria gráfica da época a pesquisar formas de coloração impressa, tendo em vista a necessidade de garantir  produtos à baixo custo.

Houve um importante passo para a expansão da indústria gráfica e por consequência influência em outros campos. Não só na estética, mas no uso dos recursos técnicos que foram disseminados a partir dessa demanda. Cabe lembrar que a partir dessa relação, os esquemas de cores de quadrinhos foram além do seu nicho, como na publicidade ou de forma mais indireta, no Audiovisual, onde Cinema e TV, que mesmo tardiamente, imitavam o uso das cores quadrinísticas em filmes e séries de TV. Quem não lembra das coloridas onomatopeias da série Batman dos anos 1960 ?
 
 POW !!



Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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