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19/05/2020 às 09h25min - Atualizada em 19/05/2020 às 09h25min

Quadros dos Quadrinhos

LUCIANO FERREIRA
Ao contrário do Cinema, da Pintura e de outras artes que usam suportes com dimensões específicas para exibir um conteúdo artístico, as Histórias em Quadrinhos podem se dar ao luxo de reinventar a ‘moldura’ de cena de forma dinâmica e criativa, interferindo no modo que o leitor percebe várias relações entre as imagens, textos e a utilização do espaço.

E aqui não é o caso da internet, onde a exibição isolada de um único quadro, ou o painel de exibição de imagens, tem efeitos e procedimentos diferentes daqueles encontrados em publicações impressas, embora isso mereça ser tratado em outro artigo, com a atenção que a especificidade desse tipo de publicação merece.

O encadeamento narrativo dos quadros nas HQ´s é tão vasto, que é impossível encerrar o assunto aqui, mas vale uma breve reflexão para o que o leitor possa apreciar esse aspecto das HQ´s. E para isso eu proponho aqui um exercício simples de comparação entre a separação entre linhas de texto e os quadros de Quadrinhos, sendo que cada linha representa um espaço equivalente a de um quadro.

- O Dado

- Rolando sobre a vida

- Jogou contra o chão

Vemos aqui que os espaços entre as frases dão um certo respiro entre um texto e outro, permitindo um curto período de pausa onde o leitor pode processar o significado das palavras de forma tranquila.

No exemplo a seguir, o mesmo texto é apresentado sem espaços e sem uma pontuação que incentive pausas na leitura, evidentemente com a intenção de torná-lo mais rápido e fluído:

- O Dado rolando sobre a vida, jogou contra o chão.

Como já havia adiantado, a leitura desse texto é diferente do texto anterior e ainda que não tenha a intenção entrar nos detalhes de pontuação e sintaxe, a sugestão é que o leitor faça uma comparação, ainda que intuitiva, com a imagem que ilustra esse artigo.

Seja como for, em geral não damos muita atenção ao modo que os quadros são dispostos em uma história em quadrinhos, mas certamente o uso desse recurso é tão ou até mesmo mais importante do que os desenhos e o texto. Veja a linearidade dos quadros das tiras de Garfield e compare com as tiras da Laerte, os grandes quadros dos gibis de super-heróis, com a regularidade formal do Maurício de Souza.

Em cada um desses casos, a forma dos quadros (co)responde ao conteúdo desenhado e escrito, na medida que a dinâmica da narrativa pede uma ‘moldura’ que valorize o que está registrado ali, seja a exploração de um espaço geográfico de campo de batalha, o espaço social de um grupo de crianças ou um espaço fantasioso de um delírio, cada momento pede que sua ‘moldura’ privilegie uma determinada informação, ainda que isso sacrifique ou valorize a moldura e por consequência, a obra.



O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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