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08/04/2020 às 15h48min - Atualizada em 08/04/2020 às 15h48min

O Poço

KELSON VENÂNCIO
Nessa época que vivemos uma pandemia provocada pelo coronavírus, o filme “O Poço” é sem dúvida uma das melhores sugestões pra você assistir em quarentena no conforto da sua casa. E não apenas pra passar o tempo, mas sim para que você faça uma profunda reflexão sobre os diversos aspectos abordados por esta obra-prima do cinema.
A história do longa se passa em um futuro distópico, onde uma prisão vertical mantém duas pessoas em cada andar, com a comida sendo distribuída de cima para baixo. Quem está na parte de cima come melhor, enquanto quem está embaixo precisa lutar pela sobrevivência.
Em primeiro lugar a ideia que serve de premissa para a incrível história que acompanhamos durante a projeção é simplesmente brilhante. A comida (ou a falta dela) vai desencadear uma série de acontecimentos que vão nos deixar boquiabertos com tudo que a gente vê ao longo da narrativa. E cada um mais assustador que o outro. E isso significa que nesse longa temos uma junção do estilo “horror movie” com o drama, já que temos elementos fortes como cenas de extrema violência e muito sangue, mas ao mesmo tempo com mensagens extremamente interessantes em cada uma delas.
Eu particularmente adoro filmes com baixos recursos, poucas locações, elenco pequeno, mas que são criativos e eficientes porque nos trazem uma boa história. “O Poço” é exatamente assim já que tudo se passa em apenas um lugar, uma prisão vertical que deixa qualquer pessoa louca. Todos os atores deste filme espanhol são simplesmente perfeitos em suas atuações. Especialmente aqueles que atuam no arco principal. Cada personagem tem características marcantes e dão um show de interpretações.
Mas o melhor do filme são as discussões e reflexões que ele propõe ao público. Existem inúmeras metáforas em meio a história e por isso prestar atenção em cada detalhe é fundamental para tirar o máximo de proveito dessa trama intrigante e surpreendente. É preciso observar as frases ditas pelos personagens, os gestos e as mensagens subliminares que nos levam a liberdade de imaginação que vai além do roteiro.
A prisão é dividida em níveis e cada um deles representa as classes sociais. E assim podemos ver e sentir na pele como são essas desigualdades e o que elas provocam na sociedade extremamente individualista. É bem o que está acontecendo em plena pandemia de coronavírus. As pessoas vão ao supermercado e farmácias e abarrotam os carrinhos de alimentos, máscaras e álcool gel sem dar a mínima para o próximo que também precisa. Só que as mudanças constantes de níveis dos presidiários nos mostram que como no filme estamos sujeitos a cair de nível social também e isso pode ter consequências extremamente desagradáveis por causa da hipocrisia da nossa sociedade. O filme ainda traz um final surpreendente e inesperado que nos leva a reflexão do que pode ter acontecido no desfecho. É daquelas produções que quando acabam vem aquele nó na cabeça e provoca inúmeras discussões. Será que? Mas se for assim, isso era daquele jeito! Mas porque isso? A quantidade de hipóteses levantadas ao término de “O Poço” é muito grande e o melhor que mesmo raciocinando muito depois de assistir ao filme, a gente sempre vai ficar com “a pulga atrás da orelha”.
É preciso ter estômago pra assistir, mas se você aceitar o desafio, te garanto que a experiência será incrível.
 
Nota 10


Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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