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04/04/2020 às 08h30min - Atualizada em 04/04/2020 às 08h30min

Unidos na Solidão

ALICE GUSSONI
No escuro da noite, escuto um choro baixinho vindo do quarto dos meninos. Uma pequena voz trêmula pergunta.
Caio, o que foi?
Não posso dizer, é segredo. Tenho vergonha.
Conta, não gosto de te ver triste. 
É que… é … eu… não sei de nada de bom que vai acontecer amanhã. 
Como assim Caio?
É Theo, amanhã o dia vai começar e acabar assim, sem nada de diferente pra deixar a gente empolgado. Todo dia é igual!
Eu sei, eu sei. Mas vai ficar tudo bem, a gente inventa.
Não posso ir na praça, não posso ir pro futebol, pra casa de ninguém, e além disso eu sinto muita falta dos meus amigos!
E Caio chora o choro mais sincero do mundo
E ainda por um tempo se seguiu o lamento do bloquinho do Unidos na solidão. Quando fui falar com o Caio, tão envergonhado por ter seu segredo revelado, eu lhe disse que não era segredo nenhum. Que nesse mesmo momento, ninguém menos que o mundo inteiro sentia a mesma coisa que ele. Cada um em sua casa, espalhados pelos continentes, estamos todos sentindo as mesmas angústias. Isso sim, fato tão inédito em nossas vidas. Só Raul Seixas previu, em “O dia em que a terra parou”.
Quando foi que tivemos a oportunidade de viver como se ninguém estivesse olhando? Há quem se deprima, e queira mais do que nunca ser visto e ouvido. Há quem coloque na porta “volto logo”, e siga vivendo as alquimias internas que só a invisibilidade te proporciona.
Há quem lide com muito humor e há quem se permita viver irritadiço. Há quem se ocupe colocando-se a serviço dos que precisam.
Mas o interessante é que, assim como Caio, todos sentimos falta do novo, e todos nos sentimos sozinhos. Quem tem hábito de meditar, percebe que apenas quando tudo se cala, o que precisa ser dito consegue ter voz. Só em águas paradas conseguimos ouvir nossos diálogos internos. Interessante também, como disse Theo, é que tudo vai ficar bem, porque a gente se inventa. Quando vejo que o turbilhão em que estou vivendo nesse momento é coletivo, relaxo e me permito ir no fluxo do que precisa ser experimentado. Porque confio no que vamos criar juntos. Uma psicóloga muito querida uma vez me disse que quando a casa cair, aproveite para derrubá-la por inteiro, em seguida construir uma novinha como você sempre quis. Talvez essa seja a deixa.
Algo que também nos une, é a fome e a vontade de comer. Quarentena aumenta nosso potencial apetite. Nos tornamos dedicados glutões! Peguei emprestado essa receita do meu irmão Marcel, que é uma verdadeira ode aos sentidos! Assim que puder, abra um vinho, coloque uma música, dance com o pano de prato, e prepare esse delicioso Frango Cítrico com mel e gengibre. 

Frango assado em tempero cítrico, mel e gengibre

INGREDIENTES
– 2kg de coxa e sobrecoxa
– 2 laranjas (suco e raspa)
– 2 limões (suco e raspa)
– 4 colheres (sopa) de mel
– 2 colheres (sopa) de óleo de gergelim
– 1 colher (sopa) de sementes de coentro esmagadas ou moídas na hora
– 2 colheres (sopa) de gengibre ralado
– 3 colheres (sopa) de shoyu
– 2 cabeças de alho
– sal a gosto
– ervas frescas para finalizar

SUGESTÃO
Tenha de reserva mais dois limões e duas laranjas para fatiar e assar junto com o frango. Além de bonito fica uma delícia para espremer sobre o frango na hora de servir.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.







 
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