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03/03/2020 às 08h30min - Atualizada em 03/03/2020 às 08h30min

20 anos de Porcas Borboletas

ENZO BANZO

A mesma história é uma história diferente para cada um. Já faz tempo que entendemos que o Porcas Borboletas vai muito além de seus integrantes, e isso se confirma, para mim, sempre que no meio de uma conversa em uma balada ou outro lugar qualquer, alguém me conta como e quando conheceu a banda, os episódios que viveu às voltas daquele som, suas descobertas e aventuras. O meu jeito de narrar o começo dessa história que completa 20 anos é, portanto, uma visão pessoal, diferente da de meus parceiros ou de qualquer pessoa. Aqui não se pretende contar nenhuma verdade tropical.

A minha história no Porcas Borboletas começa alguns anos antes do início da banda, quando entrei na faculdade de Direito (que, a propósito, não concluí), era o longínquo ano de 1996, século passado. Ali conheci Danilo, futuro Danislau, então colega de sala. Me identifiquei com ele antes mesmo de conversarmos, por dois motivos: o garoto também tinha espinhas, eu não estava só;  na chamada do austero professor engravatado, seu nome vinha acompanhado do mesmo sobrenome que o meu, Bernardes. Uma das diversões de Danilinho era escrever pequenos e engraçados poemas em folhas amassadas de caderno, e mandar pros coleguinhas. Um destes escritos − que conta a história de um menino que chora durante a execução do hino nacional, não por patriotismo, mas pela incontinente vontade de mijar − se tornou a canção "Tarde na Escola", que faz parte do nosso primeiro disco.  Frequentando a casa do amigo, onde costumava filar o almoço, conheci mais um Bernardes, seu irmão Moisés, que já era Moita, então estudante secundarista e talentoso aprendiz de violão e guitarra. Note-se que para Moita e Danislau, sendo irmãos, a história da banda começa no dia em que Moisés chegou ao berço.

Quando começava o terceiro ano de faculdade, veio a greve (que, pelo jeito, logo volta). Nunca fui tanto à universidade como naquele greve. Estudantes acampados, tenda dos professores com shows todos os dias, aquilo era um movimento cultural, e eu, tímido com meu violão, logo tornei-me um dos tocadores oficiais das rodas e festas estudantis repletas de gente inteligente, cabeluda e libertária. Quando a greve acabou, não voltei pro Direito. Parecia ter encontrado meu caminho certo. Dali surgiu minha primeira banda de músicas autorais, o Tulane. Um dos seis integrantes do grupo era o Ricardim, estudante de Artes Plásticas que veio trazido pelo percussionista Fabrício Penha. Em um dos primeiros ensaios, arranjando uma composição, chegamos a um breque de silêncio brusco, e não sabíamos o que fazer a partir dali. Ricardim, normalmente calado, proferiu as sábias palavras: "e se nessa hora eu quebrasse uma garrafa?" Foi ali que o conheci.

Eu não poderia viver em eterna greve e resolvi começar outro curso. Fui para as Letras, e o Danislau também. Moita entrou na Filosofia. Uma tarde, na casa dos dois, estávamos os três mais Lígia Viana, e começamos a inventar uns coros de vozes com umas letras curtas e engraçadas. Não conseguíamos completar as ideias porque sempre alguém tinha uma crise de riso no meio de algum verso: "champanha, champagne, chambinho, champignon, xampu pu pu, pu chão pá pá".  Ia ter um congresso na Letras, com espaço para apresentações artísticas. Danislau deu a ideia, vamos lá apresentar aquelas músicas (eram músicas?). Não me lembro como, mas o fato é que na hora da apresentação, lá estava o Ricardim com uma percussão feita de um cano enorme. Cantamos as canções lendo as letras escritas a mão, segurando muito pra não rir diante da risada geral. Éramos um coral de músicas curtas e engraçadas. Não era pra ser uma banda, não tinha cara nem som de banda. E hoje sopramos velinhas, alcançando os 20 anos que tínhamos então.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.















 

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