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13/04/2017 às 09h36min - Atualizada em 13/04/2017 às 09h36min

“The night of”

Após ter passado a noite com uma mulher desconhecida, um homem acorda e a encontra esfaqueada até a morte e é acusado de tê-la assassinado. Diante desse caso que parece óbvio demais por causa do montante de provas encontrado na cena do crime, surge uma investigação policial que denuncia as complexas relações entre os casos analisados pela polícia de Nova York, procedimentos legais, sistema criminal e o "feroz purgatório" de Rikers Island, onde os acusados são mantidos enquanto esperam pelo julgamento.

"The night of" ("A noite em questão") é uma minissérie da HBO atrativa e que consegue fisgar o espectador de cara. Relativamente curta, com oito episódios, a produção nos deixa perplexos e curiosos após um primeiro capítulo intenso e cheio de reviravoltas. Basta assistirmos o início para que tenhamos vontade de saber o que aconteceu naquela noite. E com isso, está feita a maratona da série!

E o roteiro foi escrito de uma forma brilhante por Richard Price que consegue ao longo da história colocar pequenos detalhes na trama que são capazes de mudar a direção dos fatos. Surgem novas pistas, dúvidas, opiniões e personagens que vão nos dando um nó na cabeça ao longo da projeção. O que parecia certo no início deixa de ser. Ao mesmo tempo, o rapaz bonzinho e inocente se transforma dentro de uma prisão e com isso, já não acreditamos tanto nele como nos primeiros episódios. Price desenvolve uma trama que pode ser considerada uma obra-prima dos dramas policiais. A história é tão bem contada e desenvolvida que até mesmo quem acusa o réu não tem certeza de que ele foi o responsável pela morte brutal. Por outro lado, quem defende também não tem tanta certeza de que ele é inocente.

O resultado disso é uma verdadeira aula de direito penal (esta série passa a ser obrigatória para qualquer profissional da área). É o tipo de produção que deve ser exibida em sala de aula para longos e incansáveis debates sobre a justiça e suas falhas. E para os meros espectadores, um programa de alta qualidade que nos faz ficar horas refletindo sobre o que assistimos.

A direção de Steven Zaillian também é de encher os olhos. A capacidade dele em nos mostrar diversos ângulos de um crime à medida que as coisas vão acontecendo é satisfatória. Além disso, consegue não só nos passar essas diferentes visões, como nos mostrar muito bem o que acontece nos bastidores do sistema judiciário e por trás das grades de uma penitenciária.

Com uma fotografia melancólica que nos mostra o subúrbio de Nova York e uma trilha sonora envolvente que é capaz de aumentar o clima tenso da trama, "The night of" ainda tem um elenco de peso, na sua maioria formado por atores bem experientes e muitos vindos de outras séries famosas da própria HBO. E cada um deles desenvolve seu personagem de uma maneira eficaz, mesmo os que aparecem menos.

Quem lidera estas boas interpretações são os dois atores principais da minissérie. Riz Ahmed que nos mostra um jovem assustado com todas as acusações que pesam sobre ele na primeira parte da narrativa, se transforma nos últimos capítulos. Nós que criamos uma empatia pelo personagem Naz Khan no início, ao ponto de termos dó do que acontece com ele, começamos a ficar com raiva quando ele muda dentro da cadeia, onde raspa o cabelo, faz tatuagens, se envolve em tráfico e uso de drogas e até participa vinganças entre os detentos. O problema, é que estamos acostumados a torcer apenas para os mocinhos em produções assim. E a verdade é que, no sistema prisional, se um inocente for colocado atrás das grades o meio influencia e tira essa inocência. É a questão de adaptação e sobrevivência, como frisa o próprio advogado dele em um momento perante o juri.

Por outro lado temos a atuação do ótimo John Turturro que mais uma vez rouba a cena. O advogado de porta de cadeia Jack Stone é o centro das atenções. Com ele temos diversos tipos de emoções durante a trama.

O único problema de "The Night Of" é que a conclusão do caso torna-se arrastada e algumas vezes pode até se tornar cansativa para alguns. Mas isso não atrapalha o conjunto da obra, já que na vida real a justiça é mais lenta que isso. Além desse detalhe, para muitos o desfecho pode não agradar. É que para quem esperava rever a cena do crime como ela aconteceu, a série nos deixa dúvidas no fim, algo que a diferencia do comum. Um final satisfatório eu diria.

Nota 8

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