25/01/2020 às 08h31min - Atualizada em 25/01/2020 às 08h31min
Epitáfio titânico
JOÃO BOSCO
Eu sempre me proponho a andar pelas ruas com ares de felicidade. Numa dessas andanças, me senti falso. Cuidei-me logo de falsear a falsidade. Pus-me a assoviar um improviso. Estado em que me fez ver o lixeiro, o padeiro, o balconista, o camelô, o cachorro de rua, o urubu urbano, enfim, a cidade. E que bonita cidade! Tão dinâmica e massificada. De gente inteligente. De gente indigente. Com seus órgãos a funcionar: bancos, lojas, bares, jogos e toda a sorte de semoventes: carros, ônibus, motocicletas.
O meu assovio, por horas, tomou um ritmo alegre e eu me senti leve como uma pluma de paineira a flutuar bem alto, e depois despencar num bailado suave até cair na sarjeta e ser substituída por uma imagem de uma “vaga humanidade” — conforme Eça — , a fervilhar e a ofegar, no meio dos gases e ruídos “na busca dura do pão, ou sob a ilusão do gozo”. Imagem suficiente para cair na realidade, virar o disco e assoviar aquele infalível epitáfio titânico: “ devia ter amado mais, brigado mais... e sabe por que, meu caro? Claro que você sabe!
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