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09/01/2020 às 08h21min - Atualizada em 09/01/2020 às 08h21min

Velhas árvores

IVONE GOMES DE ASSIS

A cada amanhecer, uma nova oportunidade de se refazer. “Algumas pessoas passam a vida inteira tentando conseguir alguma coisa que nunca terão. Se você permitiu que o fato de não ter sido amado arruinasse sua vida até agora, não permita que arruíne o resto”. (Meyer, 2013, p. 58). Estudos, fortunas, sucesso... tudo isso só alcança o resultado positivo quando o eixo central (o indivíduo) está em paz consigo. A paz de espírito é uma das maiores conquistas humanas, e só se consegue esta fleuma quando o ser se sente amado, ou seja, sente-se pertencente.

Estamos iniciando o ano de 2020, e ao vasculhar os jornais do dia, são dezenas de ocorrências trágicas, em que vítimas da intolerância foram violentadas, assassinadas, agredidas... A causa, como sempre, está atrelada à inaptidão de amar o próximo. Em alguns casos, os réus carregam uma inabilidade de se compreender humano e também são incapazes de compreender que a vida é apenas um sopro. Carregam mágoas de uma vida inteira, fecham os olhos para as conquistas, enxergando unicamente as derrotas, com isso, cegam-se para as oportunidades e, assim, desmantelam suas vidas e, quase sempre, derruem a vida de suas famílias também.

Milhares de pessoas cometem erros seriíssimos, por ficarem presas no passado, esquecendo-se de que a vida, em sua brevidade, pede movimento, pede foco no presente e, ainda, a vida nos ensina que todo amanhã se torna hoje, e todo hoje vira passado. Logo, é essencial que nosso foco esteja no presente e não no passado ou no futuro. Apenas o presente tem a capacidade de mudar o resultado.

Olavo Bilac, em “Velhas árvores”, chama a atenção para a importância de se viver em harmonia, compreendo que a vida é um ciclo de aprendizado diário, pois, cada dia tem sua própria história.

“Olha estas velhas árvores, mais belas / Do que as árvores novas, mais amigas: / Tanto mais belas quanto mais antigas, / Vencedoras da idade e das procelas... // O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas / Vivem, livres de fomes e fadigas; / E em seus galhos abrigam-se as cantigas / E os amores das aves tagarelas. // Não, amigo, a mocidade! / Envelheçamos rindo! Envelheçamos // Como as árvores fortes envelhecem: // Na glória da alegria e da bondade, / Agasalhando os pássaros nos ramos, / Dando sombra e consolo aos que padecem!” (Olavo Bilac, in "Poesias").

Em Bilac, aprendemos que nos mais velhos encontramos conhecimento e segurança. Ainda, somos convidados a aceitar o envelhecer, fazendo-nos, não somente porto seguro à geração que vem depois, mas também, devemos ser inspiração, por meio de nossas vivências. Ao citar “O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas...”, o parnaso aponta para a igualdade, para o tão conhecido “fazer o bem sem olhar a quem”. O poeta nos ensina muito bem o valor de se viver o presente, com alegria e amor, visto que, é com amor e bondade que acolhemos àqueles que necessitam de nós. Às vezes, somos sombra de árvore frondosa, dando um pouco de conforto aos que estão ao nosso redor. Às vezes, somos apenas inspiração pela nossa resiliência. Nossa missão é viver bem para abrigar bem. É insano querer se destacar fora de seu tempo.

Perdem aqueles que pensam que o melhor é acumular, mas também perdem aqueles que imaginam ser a vida ideal, aquela composta somente de sentimentos. “A vida não é divertida quando é controlada pelos sentimentos, porque os sentimentos mudam [...] de um momento para o outro”. (Meyer, 2013, p. 100). Devemos agir com sabedoria, frutificando conforme a estação. Dentro de todos nós há um plugue para acionar o dosador de sentimentos, é necessário, tão só, que saibamos usá-lo a cada amanhecer.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.








 

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