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12/12/2019 às 14h22min - Atualizada em 12/12/2019 às 14h22min

Luzes para a cidade

IVONE ASSIS
Entre sinos e luzes, as cidades vão se decorando, vão tomando um estilo natalino. As pessoas começam a saga do consumo. A temática, praticamente, se resume em olhar e comprar. Quando perguntamos às crianças se sabem o que está acontecendo, de pronto, respondem, na sabedoria de um inocente: “É Natal”. E insistindo um pouco mais, perguntamos: “O que é o Natal?”. Outra vez, na mais pura transparência, a criança conclui: “É quando a gente ganha presentes”. Mas quantas crianças não irão ganhar nada! Acaso, elas não viverão o Natal?

Há muitas versões para o surgimento do Natal e para a convenção de que a data seria 25 de dezembro. Isso já caminha para mais de 1600 anos. Creio que não há problema algum em se trocar presentes. Pelo contrário, podendo, é bom demais. Quem não gosta de ganhar presentes? Eu amo! Contudo, há que se ter sempre em mente que Natal é nascimento, e esta data que se acertou, 25 de dezembro, é para comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Em se tratando deste aniversariante, o melhor presente que podemos dar ao próximo é amor, compreensão, calor humano. Sem pelo menos um destes três elementos, qualquer presente será como o soar de um sino em cidade abandonada.

Menciono aqui o poema “Sinos de Natal”, da poetisa parnasiana brasileira Yde Scholoenbach Blumenschein, conhecida por Colombina: “Sinos que bimbalhais dentro da noite, ó sinos / Que a vossa voz de bronze erguestes, em louvor / Desse amigo Jesus, que amou os pequeninos, / Que aos humanos legou o Evangelho do Amor! // Sinos que simbalhais! Olhai os desatinos / Deste mundo infeliz! Escutai o clamor / Dos que têm fome e frio e os seus tristes destinos / Açambarcados vêem pela miséria e a dor. // Sinos que badalais na noite que devia / Ser de ternura e paz, de encantamento e luz, / Calai-vos ou plangei, perante essa agonia. // Como plangeste quando aos braços de uma cruz / De espinhos coroado e ultrajado morria / O maior semeador do bem, que foi Jesus!

Este poema é uma reflexão que nos remete a muitos pensares. Todavia, o mais inquietante é: “Por onde bimbalha o amor?!

Andando pelas janelas literárias e abrindo as portas poéticas, eis que deparo com Olavo Bilac (1865 – 1918): “No ermo agreste, da noite e do presepe, um hino / De esperança pressaga enchia o céu, com o vento... / As árvores: “Serás o sol e o orvalho!” E o armento: / “Terás a glória!” E o luar: “Vencerás o destino!” / E o pão: “Darás o pão da terra e o pão divino!” / E a água: “Trarás alívio ao mártir e ao sedento!” / E a palha: “Dobrarás a cerviz do opulento!” / E o teto: “Elevarás do opróbrio o pequenino!” / E os reis: “Rei, no teu reino, entrarás entre Palmas!” / E os pastores: “Pastor, chamarás os eleitos!” / E a estrela: “Brilharás, como Deus, sobre as almas!” / Muda e humilde, porém, Maria, como escrava, / Tinha os olhos na terra em lágrimas desfeitos: / Sendo pobre, temia; e, sendo mãe, chorava.

A literatura nos presenteia com o conhecimento, amplia nosso número de amigos e, ainda, de bônus, concede-nos um “remédio” para o coração, porque nos mostra o encanto e o desencanto, mas nos propicia o entendimento, para que, em se querendo, tenhamos possibilidades de fazer um mundo melhor.

Embalada pela poética da vida, abro as cortinas dos meus olhos, para, neste Natal, ver sem ofuscamento a alma do meu semelhante. Quem sabe, assim, possa fazer a diferença na vida de alguém, somando valores, diminuindo desalentos, multiplicando bênçãos, dividindo amor e, desse modo, promovendo fraternidade. Não quero ser mais, nem menos, quero ser eu mesma, para que eu não me esqueça de quem sou. E sendo eu mesma, poderei, assim, todos os dias, fazer a diferença na vida de alguém. Então, quando vier o Natal, cheio de amor próprio e de amor ao próximo, poderemos decorar as cidades com nosso próprio brilho, entre sinos e luzes.


*Esta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.





 
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