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19/09/2019 às 07h57min - Atualizada em 19/09/2019 às 07h57min

A violência

IVONE GOMES DE ASSIS

A violência mata. A morte destrói. A destruição machuca. O machucado dói. A dor provoca feridas. A ferida desencadeia doenças. As doenças matam. Esse é o ciclo vicioso da morte, justiceira injusta. Estamos vivendo um momento caótico, em que a humanidade tem se esquecido de ser humana. A violência sempre existiu, em diferentes graus, a diferença reside em agir. Conforme o sujeito vai crescendo, vai apagando as brincadeiras e guardando as mágoas, formando um processo de violência em si.

O pediatra espanhol Carlos González, em “Bésame mucho: como criar seus filhos com amor” (2005, p. 120, Pais Modernos), afirma: “Crianças criadas com carinho e respeito são carinhosas e respeitadoras. Não durante todo o tempo, claro, mas durante a maior parte do tempo [...]. Crianças educadas com gritos gritam”.

Jayme Paviani, em “Conceitos e formas de violência” (2016, p. 9) enfatiza: “[...] é necessário considerar que o termo violência atualmente está na ordem do dia. Ele frequenta a mídia, está nas ruas e na internet. O senso comum refere-se a ele de modo simplificado e parcial. Mas é preciso examinar as condições de seu uso. [...] Quando questionado sob o ponto de vista ético, pode-se distinguir entre a violência possível e a necessária, entre os comportamentos aceitos e não aceitos socialmente; entre a violência legal e aquela que provoca o mal, a humilhação; entre a violência natural e aquela que impõe dor e sofrimento evitáveis”.

A vida é feita de escolhas, mas nem todos têm sabedoria para escolhas certas quando a educação vem errada. Porque, nesta condição, de certo modo, o conceito de erro toma outro rumo. É importante entendermos que violência não é sinônimo de força, muito menos de poder. A violência não cria, mas, sim, destrói. A violência é avassaladora e apaga toda a grandeza de um ser.

Podemos comparar o surgimento da violência ao de uma estalagmite, este se forma de gotas de água, também a violência nasce de pequenos atos, pequenas falhas, pequenas gotas. Educar é uma arte, em que não se pode confundir o sentido de enfrentamento com o de violência. A não violência não se enleia com o ceder aos caprichos. O limite bem aplicado é um ato de amor, enquanto a cessão desmedida é um ato de insanidade.

A violência tem se alastrado em nosso cotidiano de forma torrencial, mas não se combate violência com violência, nem tampouco se combate violência com “vista grossa”. Para todas as coisas há um processo de ação. Thomas Hobbes, filósofo do século XVI escreveu: “O homem é o lobo do próprio homem”, evidenciando que o individualismo humano o faz viver em guerra contínua. Para tanto, basta que observemos o comportamento humano no poder. O poder leva às batalhas. “A violência é por natureza instrumental; como todos os meios está sempre à procura de orientação e de justificativas pelo fim que busca. [...]. Ninguém questiona o uso da violência em legitima defesa, pois o perigo é não apenas nítido como também presente, e o fim que justifica os meios é imediato” (ARENDT, 1985, p. 28). Embora diferentes, poder e violência caminham lado a lado. “A violência não depende de números ou de opiniões, e sim de formas de implementação, e as formas de implementação da violência, como todos os demais instrumentos, aumentam e multiplicam a força humana.” (ARENDT,1985, p. 29). A violência não emana poder, pelo contrário, o destrói.

Ivan Santos (2019, p. 127-128), na crônica “Modernidade e violência”, anota: “uma menina de apenas nove anos de idade perguntou ao pai: ‘Por que alguém mata uma pessoa que não conhece, que não está a fazer nada?’ O pai respondeu: ‘Todo mundo nasce bom, mas nem todos têm as mesmas oportunidades na sociedade em que vivem’. Ivan Santos (2019, p. 128) completa: “A verdadeira paz social é fruto da educação continuada das pessoas e da aplicação correta da justiça social e das leis”.
Poder e violência não devem ser confundidos. Sabemos que o gostinho do poder é bom, mas não podemos nos esquecer de que a violência mata.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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