Por um bom tempo, fui um produtor de lixo seletivo. Latinha, pets, plásticos e vidros eram ensacados em recipiente próprio. Orgânicos e outros resíduos ensacados para a coleta pública. Com o passar do tempo, a minha clientela ficou mais exigente. Uns recolhiam só latinhas, outros acrescentavam os pets ou plásticos e as garrafas de vidros ninguém queria. Aquilo me dava trabalho dobrado e indignação. Bonitão, radicalizei. Decidi não selecionar lixo. Com a ignorância pendurada no pescoço, metia tudo no saco preto. Dias depois, passo a me deparar com resíduos de lixo na calçada. Vou averiguar. Saco de lixo rasgado. É o gato da dona Emília. Fiquei de tocaia. Eram catadores que rasgavam os sacos para garimpar recicláveis. A cena nada agradável de se ver um semelhante a revolver lixo como fonte de renda me aborreceu. Decidi facilitar a vida deles. Voltei a selecionar o lixo. Bonzinho eu não? Eu comigo — fala sério João, facilitar a vida deles, ou a sua.
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