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16/06/2019 às 08h00min - Atualizada em 16/06/2019 às 08h00min

A arte de cozinhar

ALICE GUSSONI
(Divulgação)
Já mencionei aqui que sou praticante do Zen budismo. Há alguns anos comecei a frequentar um centro de prática no Rio Grande do Sul, o Vila Zen. Lá, comecei a participar de retiros e trabalhar na cozinha. Pouco tempo depois, cozinhar em retiros virou minha religião. Desde pequena me aventuro na cozinha, mas nos retiros comecei a criar forte sintonia com todo o processo. Cozinhava das seis da manhã até meia noite. Apesar de exaustivo, esse trabalho foi vital para que aprendesse conceitos que me transformaram profundamente.

Foram anos de muito aprendizado entre panelas e sutras. O aprofundamento dessa prática deu margem a incríveis reflexões, insights e diálogos entre eu e Jonas, outro cozinheiro do Vila Zen (hoje meu marido), sobre o caminho espiritual do ato de cozinhar. Isso nos motivou a seguir nesse estudo e com o apoio de outra praticante, Ana Beatriz, escrevemos o livro Comida de Santo, que foi realizado com apoio do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Uberlândia. Por sugestão de Ana, incorporamos outras religiões à pesquisa e mergulhamos por meses em templos, terreiros, altares e sagrados sabores. Descobrimos quão presente é a sacralização do alimento, quanto ele nos conecta essencialmente a algo elevado.

Enquanto lavamos as folhas, meditamos. Ao picar e ferver, honramos. Ao servir a comida, doamos, recebemos, compartilhamos. Ao comê-la, nos nutrimos. Todo esse processo faz por nós muito mais que nos damos conta.

Desde o início dos tempos, tudo o que é vivo precisa de alimento. É nosso vínculo com a existência e um dos fatores essenciais para a sobrevivência. A comida conta histórias. Sacia, cura. Às vezes, abraça, outras, repele; mas, com certeza, é sempre sinônimo de gratidão.

Achei muito fascinante me despir de alguns pré-conceitos, descobrir a quantidade de semelhanças existentes nas religiões. Seja de origem japonesa ou africana, desde o início dos tempos, temos nossos altares, fazemos nossas ofertas e nossos sacrifícios cotidianos.

De um simples almoço de família a uma complexa oferta à divindades, a comida não só promove a união entre os homens, mas os conecta íntima e essencialmente a algo sagrado, elevado, superior. A comida é o grande fio condutor da manutenção das nossas culturas. Muitas vezes quando uma avó passa uma receita pra neta, ela também está, sem se dar conta, repassando muitas informações sobre um contexto histórico do período ou do lugar de onde ela veio. Percebendo isso, me tornei uma grande apaixonada pelas histórias que as comidas contam. Me emociona como o ato de cozinhar é uma doação de tudo o que um cozinheiro tem de melhor dentro de si, pelo propósito único de servir ao outro, pela experiência que ele pode proporcionar.

Compartilho essa receita que foi criada por nós, uma das receitas mais pedidas em todos os retiros que cozinhamos.
 
Berinjela Agridoce
 
Ingredientes
 
1kg de berinjela cortada em cubos
60g de gengibre ralado
3 colheres de sopa de óleo de girassol
Sementes de erva doce
50g de amendoim torrado
1 xícara de açúcar mascavo
4 colheres de sopa de vinagre
4 colheres de sopa de saquê
1 colher de sopa de gergelim
½ xícara de shoyo
Sal se necessário
 
Preparo
 
Deixe a berinjela de molho na água com sal por algumas horas. Escorra bem toda a água. Em uma wok refogue a erva doce e o gengibre no óleo. Junte o açúcar e quando derreter, coloque as berinjelas e refogue por 15 minutos. Acrescente o restante dos ingredientes e acerte o sal.



*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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