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29/03/2019 às 11h00min - Atualizada em 29/03/2019 às 11h00min

Teoria sobre a chatice – volume 2

CELSO MACHADO
Recentemente tive a coragem de compartilhar minha teoria sobre a chatice. Mais corajosos ainda foram amigos que me estimularam a acrescentar alguns tipos de chatos que deixei de mencionar.
 
Para não ficar chato com eles, estou obedecendo suas recomendações reconhecendo que fui relapso no esquecimento de alguns.
 
O primeiro que me lembraram foi do chato que não sabe que é chato. Pelo contrário se acha criativo e engraçadinho. Como não desconfia do quão aborrecido é, se apresenta com frequência e sem cerimônia. Mete o bedelho em qualquer assunto e faz colocações irônicas com a suavidade de uma trombada de jamanta.
 
Não é fácil ficar livre do incômodo de sua presença. A saída é sorrir sem abrir os lábios para ver se desconfia que, se estamos calados ele deveria imitar nosso gesto.
 
O outro chato que havia deixado de mencionar é o chato de nascença. Esse é um coitado, sua chatice vem do berço, ou melhor antes dele. Pela herança que recebeu de seus pais ou até mesmo avós. Esse, mais do que nossa tolerância, é digno de nossa consideração. Um coitado que traz no DNA um carma que vai carregar pela vida toda sem direito de escolha. Porque nós, de uma forma ou outra, vamos ficar livre da sua chatura ou aguenta-la pontualmente. Ele não, será prisioneiro dela a vida inteira. Dia e noite, todos os dias do ano, todos os anos da sua vida.
Triste sina. Carregar um fardo sem nunca ter tido oportunidade de se livrar dele.
 
Mais um chato diferenciado e que é bom só mencionar e nada mais acrescentar para não dar dor de cabeça. E das bravas, é o parente chato. Pronto, vamos para o seguinte, o chato que não havia me lembrado de citar e que me alertaram para sua existência. O que nunca aprofundamos em saber quais os motivos que o levaram a ter essa postura desagradável.
 
O chato de origens desconhecidas. Ou que não nos lembramos mais delas. Recentemente estava conversando com um amigo sobre uma dessas pessoas e fiquei sensibilizado com as dificuldades pelas quais ela estava passando. Relatou traumas, crises de relacionamento, problemas com os filhos, enfim uma série de transtornos que não são fáceis de suportar. Dos quais a pessoa necessita de uma válvula de escape para suportar. Pode até não justificar, mas explica o que no fundo leva alguém a ser como é.
 
Admito que isso me tocou fortemente. Me fez rever meu modo de tratamento para com um ser humano que precisa de companhia, de um ombro amigo, de quem o distraia e conforte.
 
Fiquei sensibilizado e até aliviado com minha mudança de postura. Porque felizmente meu espírito de solidariedade é maior do que minha paciência. Uma vida ou um período dela com problemas sérios e delicados ninguém merece. Muito pior do que aguentar chatice de alguém é não ter quem ofereça atenção e carinho para quem está carente.
 
Pronto, total alteração de como passei a ver alguém que até então me aborrecia, incomodava e irritava.
 
Perdi um chato e ganhei um amigo.
 
Convenhamos até que não foi um negócio ruim...
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