Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
27/02/2019 às 08h41min - Atualizada em 27/02/2019 às 08h41min

'Green Book'

KELSON VENÂNCIO
Produção levou a premiação de melhor filme no Oscar 2019 | Foto: Divulgação
Quando terminei de assistir “Green Book”, ainda encantado com o que acabara de ver, fui dar uma olhada na internet pra saber o que as pessoas acharam do filme. E logo vi muitos sites falando que o longa é mediano e foi uma injustiça ele ter ganhado o Oscar de Melhor Filme no domingo. É claro que existem muitos bons críticos especializados por aí e como sempre digo, nem sempre sua opinião deve ser igual a da crítica. Eu por exemplo, que já escrevo análises de filmes há uns 20 anos, me surpreendi com alguns textos que li e de forma alguma concordei com eles. Na minha humilde opinião, “Green Book” é um filme maravilhoso, daqueles que quando acaba a vontade é dar o play e assistir novamente. E ter sido consagrado no maior prêmio do cinema mundial foi algo merecidíssimo.

Quando Tony Lip (Mortensen), um segurança ítalo-americano, é contratado como motorista do Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), um pianista negro de classe alta, durante uma turnê pelo sul dos Estados Unidos, eles devem seguir o "Green Book", um guia que listava os estabelecimentos que eram seguros para os afro-americanos na época. Confrontados com o racismo, o perigo – assim como pela humanidade e o humor inesperados - eles são forçados a deixar de lado as diferenças para sobreviver e prosperar nessa jornada.

O roteiro nos conta uma história baseada em fatos reais, algo que sempre me atrai. A narrativa apesar de conter elementos polêmicos, especialmente com relação ao preconceito, é leve e muito gostosa de ser acompanhada. Em momento algum o filme se torna cansativo. Muito pelo contrário. É tão forte e divertido ao mesmo tempo que nem vemos o tempo passar. Com uma pegada cômica, mas tratando de assuntos sérios, a premissa aborda de uma forma magistral temas interessantes e que servem para um bom debate como o racismo, o homossexualismo e a pobreza.

E o melhor de tudo é que neste longa estas questões que são bastante comuns em diversos filmes são tratadas de uma forma inteligente e invertida, digamos assim. Digo isso porque os personagens principais têm uma espécie de inversão de valores. O branco é o pobre. O negro é o rico. Mas o branco que é pobre não sofre preconceito. O negro abastado e famoso não pode jantar num restaurante. E por aí vai...

A direção de Peter Farrely, um cineasta mais voltado para comédias, é bastante eficaz. E ele usa justamente a comédia para colocar um alívio cômico em discussões tão profundas. E isso funciona bem. O filme também tem uma ótima trilha sonora e uma bela fotografia.

Mas é claro que para terminar essa análise tenho que falar das interpretações de Viggo Mortensen e Mahershala Ali que simplesmente arrebentam. A química entre os dois é fantástica e dificilmente podemos contemplar interpretações tão boas de uma dupla de atores como essa. Mortensen deixa de ser o galã Aragorn de “O Senhor dos Anéis” para interpretar o durão barrigudo, bobagento e desengonçado naquele que, para mim, é até aqui o melhor papel da carreira dele. Ali também dá um show de interpretação e consegue atingir também o ápice de seus trabalhos. O prêmio de melhor ator coadjuvante que ele ganhou em “Moonlight” nem chega aos pés do Dr. Don Shirley. Ele está excepcional e a consagração desse trabalho veio com mais uma estatueta no Oscar 2019.

Teve críticos dizendo que ano que vem ninguém se lembrará que “Green Book” ganhou o Oscar de Melhor Filme. Pois digo que não só ano que vem lembrarei disso, mas por toda a minha vida!

Nota 10
Tags »
Leia Também »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90