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15/02/2019 às 10h21min - Atualizada em 15/02/2019 às 10h21min

Um brinde ao vinho brasileiro

ÉRIKA MESQUITA
Foto: Casa Valduga
Todo ano venho ao Rio Grande do Sul para uma convenção das empresas que represento. Escrevo “venho” porque estou escrevendo essas linhas entre aeroporto e hotel, aproveitando o clima ameno que está por aqui nestes dias e a minha paixão declarada por esse pedaço do Brasil.

Embora essa seja minha profissão, toda vez que venho, deixo de ver o vinho como uma mercadoria e lembro que ele também é fruto de muita paixão, de tradição, de amor à terra e ao que dela se pode tirar. Quando entro em contato novamente com as famílias produtoras enxergo nelas tanta simplicidade, tanta paixão no que fazem, que os rótulos, códigos de barras, metas de vendas, tudo desaparece. Até começar a convenção de vendas, porque é o que me traz para cá pelo menos uma vez ao ano.

Essa paixão principalmente pelas famílias produtoras me faz respeitar muito o vinho brasileiro que luta contra as geadas que em alguns anos causam a perda de parreirais inteiros, com a chuva que vem na hora em que a uva precisa de sol e contra a burocracia brasileira que deixa a carga tributária sobre os vinhos nacionais mais pesada que os importados de nossos vizinhos. Sim, caro leitor, pagamos mais tributos sobre os vinhos brasileiros do que sobre os argentinos, por exemplo. Tudo para o produtor nacional parece mais difícil que para os produtores estrangeiros.

Mas, mesmo com tanta dificuldade dá para tirar muita coisa boa, dá para admirar o que tem sido feito no Brasil e perceber a cada ano uma evolução na qualidade, apesar dos problemas. Mas, um que me causa um certo nervosismo é o preconceito que o próprio brasileiro tem em relação a seus produtos, como se tudo que viesse de fora fosse melhor.

Bom, entre os que escrevem sobre vinhos e conversam a respeito há uma frase que me marcou há anos: “o Brasil é a lixeira do mundo”, em se tratando de vinhos importados. O que significa isso? Que para nosso país mandam tudo que eles não querem consumir no mercado deles, vinhos que lá são vendidos a países não produtores em galões de centenas de litros são engarrafados, ganham um rótulo com alguma palavra indicando que é um “reserva ou reservado” e vendidos aqui como sendo de alta qualidade. Não são, eu garanto!

Mas, quero falar de coisa boa! E dentre as coisas muito boas do Brasil que produz vinhos são os nossos espumantes, que caíram no gosto popular por três motivos básicos: eles têm preço acessível, uma qualidade média muito boa e quando comparados com espumantes importados de mesmo preço normalmente são muito melhores.

Um prosecco italiano na faixa dos R$50, por exemplo, dificilmente bate um brasileiro. Espumantes franceses de baixo preço muitas vezes nem na França são encontrados, porque o consumidor de lá não compra esse tipo de produto de baixa qualidade.

Enfim, se você é um consumidor curioso de vinhos, coloque na sua lista de compras algumas garrafas de espumantes brasileiros, mas também de brancos e tintos, porque tem muita coisa boa sendo produzida, mas lembre-se que um Cabernet Sauvignon brasileiro não será igual a um argentino, francês ou norte-americano, porque o vinho recebe muito do que a terra entrega, do que as mãos do agricultor manejaram, do que o vinhateiro fez. Cada lugar, cada vinícola, tem suas características especiais e isso é que torna esse mundo inesgotável.
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