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13/02/2019 às 08h38min - Atualizada em 13/02/2019 às 08h38min

'Roma'

KELSON VENÂNCIO
Foto: Divulgação
Como um filme pode ser tão simples e ao mesmo tempo tão complexo? Lendo isso, você deve estar pensando que isso é contraditório e essa frase não faz sentido. Mas para quem assistiu ao filme “Roma” entende o que acabei de dizer. A produção que já arrebatou vários prêmios, como o de melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro, vem com tudo para disputar o Oscar 2019. Ao lado de “A Favorita” tem a maior quantidade de indicações num total de dez. E olha que o filme mexicano aparece disputando as categorias mais importantes. Mas depois de assistir o longa de Alfonso Cuáron a primeira pergunta que talvez muitas pessoas fazem é: esse filme é isso tudo? Pode parecer estranho, mas a resposta é sim. E vou tentar explicar por que.

Sinopse: O longa se passa na Cidade do México, 1970, no bairro Roma. A rotina de uma família de classe média é controlada de maneira silenciosa por uma mulher (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida dos moradores da casa, dando origem a uma série de mudanças, coletivas e pessoais.

Por esta sinopse você percebe que o roteiro do filme nos conta algo comum em qualquer lugar. Estou falando da rotina de uma família de classe alta que vive em uma casa que é o cenário principal deste filme. Nesta residência moram pai, mãe, avó, três crianças e duas empregadas. Uma dessas funcionárias é a personagem principal, a Cleo. Mas é a partir daí que Cuáron começa a nos mostrar a importância deste filme. Cleo representa a índia Liboria Rodriguez que cuidou das crianças da família do cineasta desde quando ele tinha nove meses. Por isso no fim a dedicatória à ela, que foi a inspiração para que ele nos mostrasse a importância dessas domésticas na criação dos filhos na época.

“Roma” é praticamente uma lembrança da infância de seu autor. E nesse contexto Cuáron volta ao passado e nos mostra que pessoas como Cleo não são apenas aquelas que cozinham, lavam roupa ou limpam o cocô do cachorro. Elas possuem necessidades, sofrem com problemas pessoais, têm uma vida própria. É nessa premissa que a atriz Yaritza Aparicio faz sua primeira aparição nas telonas de forma brilhante. Uma personagem tímida, recatada, de pouca conversa e com um semblante sofrido em praticamente todo o filme. Mas, apesar de tudo, ela se sente feliz pela vida rotineira que leva e pelo amor que as crianças sentem por ela.

Mas no segundo ato do longa, Cuáron nos traz uma reviravolta na história. E quem pensa que é algo surpreendente, se engana. Ele continua usando fatores comuns para finalizar a narrativa. Duas coisas acontecem praticamente ao mesmo tempo nas vidas da patroa e da doméstica, que acabam influenciando no futuro de toda a família. Algo que desde o passado parece ser normal em qualquer lar, mas que traz sofrimento, decisões, mudanças e consequências.

O filme ainda tem aspectos técnicos fantásticos. Foi rodado em 65mm digital e lançado por uma plataforma streaming, mas ao mesmo tempo é preto e branco, tendo um aspecto clássico. Acredito que é para dar a ideia de como eram as coisas no passado e levar-nos a mergulhar nesse período. A fotografia é belíssima, apesar da falta de cores. E a direção de Alfonso Cuáron é magnífica nos trazendo movimentos de câmeras incríveis e ao mesmo tempo simples, como era no passado. Ele usa e abusa dos travellings, colocando diversas cenas longas em uma única tomada, algumas com giros de 360 graus.

Apesar de ser uma obra de arte, “Roma” é cansativo. É preciso muita paciência para assistir as duas horas e 15 minutos de filme. E no fim, muita gente pode detestar por achar que viu algo tão banal. Mas basta tentar compreender melhor tudo, que as opiniões podem mudar e muito.

Nota 9
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