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18/07/2018 às 08h30min - Atualizada em 18/07/2018 às 08h30min

'Spotlight: Segredos Revelados'

KELSON VENÂNCIO | COLUNISTA
Divulgação
Eu sou suspeito de falar isso por ser da área, mas adoro um filme jornalístico que tem uma trama extremamente interessante e que consegue prender a atenção do público do início ao fim. E uma produção assim, fica bem melhor quando se trata de uma histórica verídica. Dirigido por Tom McCarthy e escrito por McCarthy e Josh Singer, “Spotlight: Segredos revelados” é um dos melhores filmes que já assisti. Não por acaso, foi ganhador do Oscar 2016.

Para quem não sabe “Spotlight” é o nome da equipe editorial do jornal Boston Globe, responsável pelas reportagens especiais, do tipo em que os repórteres – são três: Michael Rezendes (Mark Ruffalo), Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matty Carroll (Brian d’Arcy James), chefiados pelo editor que também vai a campo Walter Robinson (Michael Keaton) – se debruçam meses, às vezes mais de um ano, sobre a investigação de um caso.

O filme é baseado em uma história real, que deu origem ao livro, vencedor do Pulitzer, escrito pelo mesmo time que participou da apuração do caso. E tudo acontece em torno desta equipe editorial que vai descobrindo uma série de relatos de pedofilia praticados por membros da Igreja Católica na cidade de Boston, nos Estados Unidos, e todos, devidamente acobertados pelo alto clero do catolicismo.

O filme nos mostra como é importante a atuação da imprensa em qualquer comunidade. O jornalismo investigativo é capaz de descobrir coisas que nem mesmo a polícia e a justiça conseguem. E o roteiro do filme nos mostra muito bem isso. A própria polícia deixa de lado supostos casos de pedofilia praticados por padres simplesmente porque é a igreja católica que está praticando o crime. O poder judiciário, além de fingir que nada acontece, muitas vezes acoberta os fatos por se tratar de algo contra a igreja. Mas o jornalismo é capaz de esclarecer os fatos e, diante da imparcialidade, torná-los conhecidos publicamente e cobrar das autoridades competentes uma punição para os culpados.

O roteiro do filme é intenso e à medida que a história vai sendo contada mais apreensivos e revoltados a gente fica. A cada vítima descoberta que nos conta na tela como ela foi molestada ficamos indignados com estes religiosos que deveriam estar fazendo exatamente o contrário. A narrativa nos prova que para termos um bom filme não é necessário bons efeitos especiais ou explosões e tiros. Uma boa história bem contada é suficiente para nos satisfazer.
“Spotlight” ainda tem um elenco de primeiríssima qualidade. Todos os atores estão ótimos e a química entre eles é fantástica. Esse entrosamento relatado na tela, que acredito que aconteceu na vida real, é muito bem conduzido pelo diretor Tom McCarthy. As estratégias designadas a cada um pelos editores-chefes para que a equipe descubra os fatos são interessantes. E mesmo investigando os casos separados, cada jornalista tem em mente que tudo faz parte de um único objetivo: desmascarar a Igreja Católica.

Chega um certo ponto da projeção em que ficamos agoniados como o repórter Michael Rezendes, personagem de Mark Ruffalo. Torcemos tanto para que a justiça seja feita logo que custamos a conseguir esperar o fim da projeção pra saber as consequências do belíssimo trabalho realizado pelos jornalistas. E enquanto isso não acontece, como Rezendes parado na porta da igreja, triste e angustiado, observando um grande número de crianças cantando num coral, também ficamos parados em frente à tela aguardando a conclusão de tudo.

“Spotlight” ganhou a admiração de muitos críticos espalhados pelo mundo e claro, do espectador que curte uma boa história. Me lembrou que no cinema o jornalismo tem espaço e que suas histórias e descobertas pode ser muito bem aproveitado pelos cineastas.
 
Nota 9
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