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17/08/2023 às 13h45min - Atualizada em 17/08/2023 às 13h45min

UFU relata superlotação e insuficiência de leitos no Hospital de Clínicas

Reitoria se manifestou após morte de paciente de 74 anos que faleceu em ambulância à espera de atendimento

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Reitor e vice-reitor prestaram esclarecimentos sobre a situação atual dentro do HC-UFU I Foto: Igor Martins/Diário de Uberlândia

Pouco mais de duas semanas após a morte de Eurípedes Roberto Faria, de 74 anos, a Reitoria da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) fez um alerta sobre a atual situação vivida dentro do Hospital de Clínicas (HC-UFU). Em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quinta-feira (17), o reitor da instituição, Valder Steffen Junior, lamentou o ocorrido com o paciente, que faleceu em uma ambulância dentro do hospital enquanto aguardava atendimento. O reitor também alertou para a importância da criação de novos postos para desafogar a unidade, responsável pelo atendimento de casos de urgência e emergência e também de alta e média complexidade de 27 municípios da região.

Durante pronunciamento, Valder Steffen Junior lamentou o caso, afirmando que, no dia da ocorrência, o Pronto Socorro da Universidade Federal de Uberlândia estava além da sua capacidade de atendimento. Segundo ele, a unidade tinha 156 pacientes e 10 ambulâncias na porta. O PS possui, atualmente, 69 leitos. Isso significa que, no dia em que Eurípedes Roberto Faria, chegou até a unidade, o Hospital de Clínicas funcionava com mais do que o dobro de sua capacidade. Hoje, a ocupação geral de todo o hospital é de 98,7%, sendo que o Pronto Socorro funciona com 137% de ocupação.


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"A Universidade Federal de Uberlândia lamenta profundamente o óbito de um paciente na porta do Hospital de Clínicas. O nosso Pronto Socorro estava muito além de sua capacidade. Nós precisamos de mais leitos de Pronto Socorro na rede rede de Saúde. A UFU não é capaz de responder sozinha por toda essa demanda, e cada vez que o Pronto Socorro está cheio, tem consequências graves sobre toda a cadeia de atendimento. Isso é extremamente grave, porque cirurgias eletivas têm que ser canceladas. Quando se cancela uma cirurgia eletiva, além de trazer um transtorno e uma dificuldade, é um risco para o próprio paciente. Isso compromete também todo o ensino e toda a formação de internos, residentes e assim por diante", disse o reitor.


Eurípedes morreu no dia 29 de julho, após permanecer por quase quatro horas aguardando atendimento no Hospital de Clínicas da UFU. Ele foi encaminhado pela ambulância da Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro São Jorge para o Pronto Socorro (PS-UFU) devido a um infarto. O veículo que transportava o idoso chegou na porta do hospital por volta de 2h30 com o paciente ainda consciente e conversando, precisando fazer com urgência o procedimento de cateterismo. Devido à falta de vagas no hospital, a vítima teve uma nova parada cardiorrespiratória às 5h20, e não resistiu.

Dois dias após o ocorrido, o Diário conversou com o secretário Municipal de Saúde, Clauber Lourenço, que esclareceu que a gestão do HC-UFU estava ciente das condições que também foi acionada previamente pelo médico de plantão que acompanhava o paciente, alertando aurgência do caso ao hospital. Ainda durante a entrevista, o secretário destacou que a Prefeitura e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), assinaram em dezembro do ano passado um convênio que prevê o atendimento de pacientes de alta complexidade encaminhados pelo Município. Entre os serviços que devem ser oferecidos pela unidade, estão procedimentos cardiovasculares, incluindo urgência e emergência, casos como o de Eurípedes, que necessitava de um cateterismo.

De acordo com o reitor, a UFU e o Hospital de Clínicas não são os responsáveis pela saúde na cidade.

 

"A responsabilidade da saúde em Uberlândia é do gestor municipal de saúde. Aqui, nós funcionamos dentro de um esquema conhecido como Gestão Plena de Saúde. O HC-UFU é um elo da rede de atendimento à saúde. Ele não é o único ponto de atenção. Só no que diz respeito a urgência e emergência, o nosso Pronto Socorro é uma unidade de portas abertas. O único hospital que atende 27 municípios na região é o Hospital de Clínicas. Uma população imensa, carente de serviços de saúde em um contexto em que nós sabemos da carência de leitos hospitalares. Os serviços prestados são acompanhados a cada quatro meses, de tal forma que é feita uma prestação de contas na qual tem uma participação muito grande da Secretaria de Saúde. A última aconteceu em junho e foi aprovada", afirmou Valder Steffen Junior.


A falta de leitos e a superlotação foram alvo de um protesto de servidores do HC-UFU realizado no dia 10 de agosto, na porta da unidade. A manifestação, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnico Administrativos em Instituições Federais de Ensino Superior (Sintet), reuniu cerca de 60% do quadro de profissionais na porta do Pronto Socorro. Os trabalhadores aderiram à paralisação devido à "situação caótica e conturbada do Hospital de Clínicas", revelando ainda problemas de superlotação e condições precárias de trabalho.

Segundo Valder Steffen Junior, é preciso que outras redes de atendimento sejam criadas para auxiliar o Hospital de Clínicas da UFU. Na visão do reitor, a saúde mental e física dos profissionais é fundamental para que a unidade siga acompanhando casos de urgência e emergência das 27 cidades da região. "O Hospital funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano. Não tem feriado, não tem Natal, não tem Semana Santa. Essas equipes são extremamente dedicadas e elas precisam ter a saúde física e emocional para atender com a qualidade que deve ser a marca da Universidade Federal de Uberlândia, enquanto uma universidade pública, gratuita, democrática, de qualidade, socialmente referenciada e laica. Essa é a nossa missão institucional", disse o reitor.


PREFEITURA REBATE

Após a manifestação da Reitoria da UFU, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que o Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) é responsável por todos os atendimentos pactuados em contrato assinado, no mês de dezembro de 2022, pelo corpo diretivo da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). São cerca de R$ 15 milhões repassados ao mês pelo Município à unidade pela prestação de serviço. Confira o comunicado na íntegra:
 

"No escopo desse contrato, está estabelecido que atendimentos de urgência e emergência cardiológica, em especial para casos de infarto agudo miocárdio, são de encargo e prioridade contratual do HC-UFU. Por isso, no episódio ocorrido no dia 29 de julho, todos os protocolos foram seguidos à risca pelo Município e o próprio HC-UFU declarou, via sistema, o paciente como internado às 2h45, o que reforça a ciência da responsabilidade da unidade sobre o caso.
  
Devido à gravidade da situação, a Secretaria Municipal de Saúde emitiu uma notificação à superintendência da Ebserh, solicitando devidas explicações pelo não cumprimento do contrato e não utilização do setor de hemodinâmica.

Por fim, a secretaria reforça que já possui 8 pronto atendimentos, que são as Unidades de Atendimento Integrado (UAI), e conta com uma comissão atuante para fiscalizar os contratos junto aos prestadores de serviço. Esclarece também que o Município já investiu mais de 32% do orçamento em saúde,  realizando, inclusive, atendimentos de alta complexidade, que não são de competência originária do município.
  
Nos últimos 12 anos, os leitos públicos de internação abertos na cidade foram exclusivamente com recursos municipais, sendo estes no Hospital Municipal, no anexo Santa Catarina, no Centro de Internação Municipal e no Centro de Internação Pediátrico, totalizando cerca de 400 novos leitos", informa a nota.


PROBLEMA ANTIGO
O vice-reitor Carlos Henrique Martins também participou da coletiva de imprensa realizada na Reitoria da universidade. Professor do curso de Medicina e servidor do HC-UFU, ele conta que vivencia problemas de superlotação na unidade há vários anos, algo que tem se agravado devido a problemas epidemiológicos, como aconteceu durante a pandemia de covid-19. Além de todos os atendimentos, o profissional relata que o hospital é também fundamental na formação de profissionais de várias áreas da saúde. Ele assumiu dificuldades na unidade, mas afirmou que é preciso criar proposições para melhorar o atendimento de pacientes no Triângulo Mineiro.

Nos últimos dias, várias reuniões tem ocorrido entre o HC-UFU a e Ebserh, juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde e Secretaria Estadual de Saúde, com o objetivo de verificar formas de atuação na rede para não sobrecarregar a todo momento o Pronto Socorro da universidade. Para ele, é preciso que outros agentes também sejam mais ativos para atender casos de urgência e emergência, e não apenas mais no hospital federal.

 

"O nosso Pronto Socorro tem sido alertado, os riscos têm sido mencionados. A unidade é solicitada e uma forma muito intensa permanentemente. Muitas críticas procedem e é preciso corrigir os problemas, mas por outro lado a equipe que está lá merece todo o nosso reconhecimento. São pessoas dedicadas, comprometidas com o trabalho e agora querer culpar pessoas nesse momento sem olhar os atenuantes e o contexto dentro do qual os fatos ocorreram, eu acho que seria uma precipitação um tanto indevida. Estamos sempre dispostos a ouvir críticas construtivas, mas é importante que o pessoal que faz o atendimento de saúde tenha o devido reconhecimento. O número de pacientes é muito grande diante das condições que nós temos a oferecer, mas quando eles entram, eles têm um atendimento muito bom", afirmou.


Ainda de acordo com Carlos Henrique Martins, a situação enfrentada no Pronto Socorro da UFU é compartilhada com o Ministério Público (MP) e com a Prefeitura de Uberlândia frequentemente. Há algum tempo, a unidade tem tomado medidas para minimizar situações como a de Eurípedes Roberto Faria. Segundo ele, o problema da superlotação existe há anos, e ainda é impactado pelo recorrente aumento populacional da região..
 

"O hospital sempre atuou em momentos de excesso, de saturação. Eu julgo indigno com as nossas equipes que estão lá. Nossos trabalhadores são heróis e heroínas há muito tempo. Vamos ter dificuldades como sempre tivemos. Várias ações já foram feitas, nós estamos conseguindo equacionar melhor ultimamente essa situação dentro do Pronto Socorro. A população de Uberlândia e região deve saber que somos nós que lidamos com excesso. Somos nós que lidamos com a saturação, e temos que ser reconhecidos por isso. Seria uma opção dizer que vamos fechar as portas? Não admitimos isso, porque nós temos um compromisso social e um compromisso com a assistência da população de Uberlândia e região. Precisamos acomodar ou melhorar os nossos processos de gestão, e isso é uma construção coletiva", comentou Martins.


OBRAS DO PRONTO SOCORRO
Questionado sobre as obras do novo Pronto Socorro, o reitor da UFU afirmou que os trabalhos continuam com 300 funcionários atuando no local. A previsão, segundo ele, é de que toda a parte física da nova estrutura esteja funcionando até dezembro. A expectativa é de que após o término da construção, a nova ala médica deverá ainda receber equipamentos. Caso a universidade receba os recursos a tempo, a inauguração pode acontecer em março de 2024. O saldo da instituição para aplicar no local é de R$ 41 milhões.
 

"Embora nós ainda precisemos de recursos para a finalização, nós teremos uma situação muito melhor. Nós tivemos muitas dificuldades, o responsável pela obra nos tem relatado dificuldades com várias empresas da construção civil na entrega de equipamentos. Logo no pós pandemia, toda a cadeia de fornecimento de materiais de construção civil sofreu um acréscimo da demanda, e por via de consequência, algumas entregas de equipamentos não aconteceram no tempo que esperávamos. Se todos os recursos estiverem assegurados, porque além desses R$ 41 milhões precisamos de um pouco mais, a expectativa é de que em algum momento de março do ano que vem teremos condições de finalizar essa obra", comentou Valder.


O custo total da obra é avaliado em R$ 160 milhões. A expectativa é de que, com a finalização das obras do HC-UFU, a população da região seja beneficiada com 249 leitos. As obras já duram mais de 10 anos. A licitação começou em 2010 e o projeto começou a ser executado em 2012. Quatro anos depois, em 2016, as atividades foram paralisadas e a universidade anulou o contrato com a construtora em 2018. O impasse durou até abril de 2019, quando a instituição sinalizou a retomada da construção, mas a necessidade de uma quantia avaliada em R$ 25 milhões interrompeu mais uma vez os trabalhos.

Em setembro de 2019, o Ministério Público Federal (MPF) instaurou um procedimento para acompanhar a destinação de recursos públicos para a execução da nova unidade, com o objetivo de resguardar os repasses para a conclusão da obra. Em dezembro de 2020, a UFU apresentou o novo consórcio responsável pela retomada do canteiro no bloco 8DJU.



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