Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
16/12/2018 às 07h59min - Atualizada em 16/12/2018 às 07h59min

Ano novo, vida nova!

DENISE AFONSO E ÉRIKA MESQUITA
Novos hábitos para uma vida mais saudável. Todo começo de um novo ano desperta o desejo de fazer tudo diferente. Emagrecer, alimentar-se de forma mais saudável, exercitar-se mais, ter mais tempo para o lazer, fazer algum trabalho voluntário, são apenas alguns exemplos de promessas. Mas atenção! Intenção sem ação não provoca mudanças.
 
Diante disso, convidamos Marcos Barros para compartilhar conosco seu ponto de vista sobre Mudança de hábitos. Ele é engenheiro com mestrado em inteligência artificial e diversos trabalhos de pesquisa, cursos e seminários nas áreas de Neurociência, comportamento humano e produtividade. É autor de 3 livros incluindo “Novos hábitos para grandes resultados”.

PARA MUDAR SEUS HÁBITOS, MUDE O SEU FOCO

O nosso cérebro sempre volta aos comportamentos que estão alinhados com o nosso senso de identidade, a maneira que nós nos vemos. É por isso que existe o efeito iôiô, ou efeito sanfona - você emagrece e depois engorda novamente. É como um pêndulo, que você tira ele do lugar, ele balança mas depois volta para o centro.
 
O seu centro é o seu senso de identidade. Você pode por um tempo forçar o seu comportamento e agir de modo diferente. Mas uma hora você cansa desse esforço contínuo, e volta para o seu normal, e esse normal é: se comportar de forma alinhada com o seu centro, que é o conjunto de coisas que você acredita a seu próprio respeito.
 
Energia é vista como algo precioso pelo seu organismo, e para gastar menos energia, o seu cérebro sempre usa a lei do menor esforço. Nos milhares de anos de existência humana, a sua mente aprendeu a economizar energia usando atalhos para decidir.
 
Avaliar prós e contras, imaginar as consequências de agir assim ou assado é um processo mental dispendioso. Você já notou como você fica cansado depois de passar muito tempo escolhendo coisas no supermercado, ou fazendo decisões no seu trabalho?
 
Então, para usar a lei do menor esforço, o seu cérebro desenvolveu um atalho: quando tem que decidir, ele usa o seu senso de identidade como referência para poder decidir rápido. É como se ele se perguntasse assim; "O que uma pessoa como eu faria nessa situação?" e ele então decide agir daquela maneira.
 
Isso quer dizer que se você está tentando gastar menos, mas inconscientemente se vê como uma pessoa descontrolada financeiramente, esse senso de identidade vai pesar fortemente contra o seu desejo de economizar na hora que você vê uma oferta "irresistível".
 
A mesma coisa acontece quando você se vê como alguém indisciplinado para comer. Quando o garçom te oferece a sobremesa no restaurante, o seu inconsciente leva em conta que tipo de pessoa você acredita que é para começar o processo de decisão. Então se você se vê como indisciplinado para comer, as chances de você decidir comer a sobremesa de um milhão de calorias aumentam muito.
 
O essencial então na implantação ou mudança de hábitos: ao invés de focar na mudança de comportamento ou no resultado que queremos, nosso foco precisa estar na mudança do nosso senso de identidade. Essa é a grande chave para mudanças duradouras. Se o seu senso de identidade naquela área não muda, você vai sempre voltar para o comportamento antigo.
 
Vamos ver um exemplo de como isso acontece. Você talvez conheça alguém que era sedentário, peso acima do desejado e indisciplinado com alimentação. Um dia você encontra com essa pessoa após um longo tempo sem a ver, e ela está diferente. Perdeu peso, só quer comer saudável, e virou frequentador de academia. Se você investigar o que aconteceu, vai ver que essa pessoa começou com algo simples, um pequeno hábito, talvez fazendo caminhadas diárias. Depois resolveu começar a correr, e descobriu o prazer das endorfinas no sangue após algum tempo correndo. Em seguida resolveu melhorar a alimentação, e depois começou a fazer musculação.
 
Vamos então entender o que aconteceu: essa pessoa com certeza se via como alguém sedentária e indisciplinada na alimentação. Se ela tivesse que resumir seu senso de identidade nessa área, seria algo como "Eu sou o tipo de pessoa que não cuida da minha saúde". Esse senso de identidade foi construído no passado através de pequenas evidências - observações que fazemos do nosso próprio comportamento ao longo da nossa vida. Por exemplo, cada vez que ela queria perder peso mas excedia na sobremesa, ela colecionou nas suas memórias mais uma evidência de que era uma pessoa indisciplinada. O nosso senso de identidade é a coleção de crenças a nosso próprio respeito que foram formadas e reforçadas através dessas pequenas experiências que se tornam evidências de que somos aquele tipo de pessoa.
 
A chave aqui - evidências. Sua mente precisa de evidências para acreditar em algo. É por isso que apenas fazer afirmações do tipo "Agora eu sou uma nova pessoa" não funcionam, porque você ainda não tem evidências disso. Por mais que você se esforce para acreditar, inconscientemente você não acredita nisso, porque na sua memória há uma quantidade enorme de evidências de que isso não é verdade.
 
Reforçando isso: Sua mente precisa de EVIDÊNCIAS para acreditar em algo.
 
Voltando então ao nosso amigo sedentário que virou atleta - como essa pessoa mudou?
O que geralmente acontece nesses casos é o seguinte: a pessoa inicialmente adotou um pequeno hábito, algo simples, como fazer uma caminhada todos os dias. Mas o seu foco não estava apenas em emagrecer, ou deixar o sedentarismo. Ela estava focada em se tornar uma pessoa diferente - uma pessoa que cuida bem da sua saúde. E cada vez que ela completou uma caminhada, mais uma evidência foi somada, ajudando a construir um novo senso de identidade.
 
Como agora ela começou a se ver de maneira diferente, ela passou a fazer decisões também diferentes. Quando ela ia escolher entre comer a sobremesa ou não, e seu subconsciente usava o atalho com a pergunta "O que uma pessoa COMO EU escolheria nessa situação?", esse COMO EU agora era um pouco diferente. Ela estava começando a se orgulhar de quem ela estava se tornando, e ela não queria perder esse sentimento. Uma pessoa que cuida da sua saúde como eu, escolheria não comer essa sobremesa. Portanto, não, obrigado.
 
Note que tudo isso aconteceu no nível do inconsciente - a pessoa não pensou essas palavras na sua mente. Essa frase é só para nos ajudar a entender como a mente usa o senso de identidade para decidir.
 
E aqui um círculo virtuoso acontece: essa decisão tomada se torna mais uma evidência de que ela realmente É esse tipo de pessoa.
 
E isso a leva a tomar outras decisões alinhadas com esse senso - ela talvez comece a frequentar a academia, assistir vídeos sobre alimentação saudável, e passo a passo uma nova identidade é moldada, trazendo com ela uma série de novos comportamentos.
 
Resumindo: ao invés de focar no resultado que você quer obter, foque no tipo de pessoa que você quer se tornar.
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90