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10/10/2024 às 09h50min - Atualizada em 10/10/2024 às 09h50min

O banco da fofoca

IVONE ASSIS
Acabamos de sair de um processo eleitoral e este é um dos períodos mais críticos quando o assunto é fofoca. É um diz-que-me-diz que só é capaz de abrir feridas e gerar descrédito humano. Embora a fofoca seja, na maioria, algo ruim, há que se fazer justiça e poupar aqueles da “boa” fofoca. Estudiosos classificam a fofoca como sendo uma ferramenta para informar, influenciar e entreter, e é uma boa classificação, o grande problema é qual tipo de informação, influência e entretenimento estão sendo oferecidos.

Para além do senso comum, é possível analisar a fofoca por meio de estudos, dando-lhe uma roupagem de “comunicação”. É claro que uma desinformação poderá acarretar graves consequências. Chega a ser intrigante pensar que, apesar do risco, pessoas inteligentes ainda caem em arapucas da fofoca.

Eric K. Foster, em “Pesquisa sobre fofoca...”, (2004, p. 87), escreve: “fofocas também podem fornecer um passatempo benigno para muitos, manter as comunidades unidas contra as forças da entropia social”, também pode promover “confiança e intimidade”, além de “aliviar o profundo isolamento para alguns”. Para Foster, “a fofoca pode ser o melhor meio” de se chegar ao conhecimento de algo, “se a informação procurada é de um tipo desfavorável”. Ainda, Foster (2004) complementa informando que as empresas se valem da ludicidade da fofoca para vendê-la como produto. E um exemplo factual disso são os programas de entretenimentos ofertados nas televisões, em todo o mundo. Classificam jornal como notícia e fofoca como entretenimento, mas é na fofoca que a notícia corre frouxa sobre a vida das celebridades, dentre elas, artistas, políticos e pessoas ricas. Isso fomenta o mercado midiático, mas quando cai no infortúnio político, fomenta o judiciário com as pilhas de processos resultantes de conversas enviesadas.

A fofoca negativa afeta o trabalho, a vida pessoal, pode gerar intimidação, assédio e outros absurdos destruidores de reputação alheia. Mas, se bem administrada, a fofoca pode ser construtiva, até mesmo um ativador de bom humor. A fofoca exerce ação imediata e importante na pessoa fofocada, por isso é importante haver prudência. Nas empresas, a fofoca é um ponto perigoso sempre presente, e se falado em secreto é fofoca, se falado em reunião (o mesmo assunto) é pauta. Logo, a diferença está na recepção e interpretação da conversa.

De acordo com Lúcio Picci, da Universidade de Bolonha, em sua pesquisa “Fofoca, sistemas de reputação baseados na Internet e governança”, 2018, “a fofoca depende da estrutura social de associação, colocação e status hierárquico”, e seus protagonistas são “o remetente (fofoqueiro), o receptor (ouvinte da fofoca) e o terceiro (pessoa fofoqueira)”.

Também, Giardini e Wittek (2019) defendem que “a fofoca depende de um comportamento independente de conhecimento e confiança entre o fofoqueiro e o ouvinte da fofoca.

Contrariando essa concepção amena, Claudia Fonseca, em “Família, fofoca e honra...” (UFRGS, 2004) defende: “A fofoca envolve, pois, o relato de fatos reais ou imaginados sobre o comportamento alheio. Ela é sempre concebida como uma força nefasta, destinada a fazer mal a determinados indivíduos”.

O antropólogo John K. Campbell, em seu livro “Honour, Family and Patronage...” (1964, p. 312), sobre o medo, a vergonha e a ridicularização que a fofoca pode causar, escreve: “O prestígio de um indivíduo, ou de uma Família, é constantemente avaliado e reavaliado em comunidade através de fofocas sobre personalidades e acontecimentos”. E quase sempre são críticas negativas, infelizmente, as pessoas gostam disso “elas riem e ridicularizam o objeto da discussão. O conhecimento, ou a imaginação, deste ridículo e o riso é um elemento importante nos sentimentos de vergonha de um homem”.

Mas, nem sempre a frivolidade da notícia desmerece credibilidade. Em uma passagem por Estrela do Sul, sob o sol escaldante, ri alto ao avistar, da avenida, um banco de praça grafado “Banco da Fofoca”.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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