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28/09/2024 às 08h00min - Atualizada em 28/09/2024 às 08h00min

O Espírito do Guerreiro

EDMAR PAZ JUNIOR
Foto: Reprodução/Internet
No seu livro Portões de Fogo, Pressfield conta uma história sobre a escolha do Rei Leônidas para os 300 guerreiros campeões que escolheu para lutar contra os persas, na história da guerra na Grécia Antiga. Conta ele que, apesar de todos os guerreiros serem exímios lutadores e de vasta e conhecida habilidades de guerra, o rei espartano olhou para além dessas características, e buscou nas mulheres por trás de cada campeão, o ponto relevante para suas escolhas. 

“Leônidas explicou que escolheu aquele grupo de homens não por sua bravura na guerra, individual ou em grupo. Poderia facilmente ter selecionado 300 outros, ou vinte grupos de outros 300, e todos eles lutariam bravamente até a morte. Para isso é que os espartanos eram criados. Isso seria o ápice da honra para um guerreiro espartano. (...) Escolheu-os – explicou – pela coragem de suas mulheres. Escolheu aqueles guerreiros específicos pela força de suas esposas e mães de sobreviverem à sua perda.”

O Rei de Esparta sabia que aquela não seria a última batalha, e que também seria uma empreitada fatal, diante do número avassalador com que os persas chegaram para atacar a ilha. Se houvesse uma vitória dos gregos, ela seria conseguida nas lutas subsequentes, nas batalhas que seriam travadas pela união dos exércitos gregos, que eram divididos em cidades-estados. Assim, sabendo que os 300 não voltariam vivos, a pergunta mais importante era: como Esparta reagiria a essas mortes?

“Se Esparta fosse devastada, a Grécia entraria em colapso junto. Mas para quem os espartanos se voltariam nessa hora decisiva? Eles olhariam para as mulheres – para as esposas e mães dos mortos. Se essas mulheres cedessem, se se entregassem ao choro e ao desespero, então todas as mulheres de Esparta também desistiriam. Esparta se curvaria, e com ela toda a Grécia.”

A partir dessa história Pressfield recebeu inúmeros contatos, através de cartas e telefonemas, e percebeu que, a despeito de se tratar de uma passagem fictícia, tinha muito a ver com a estrutura e ambiente criados em Esparta: tudo ali, naquela cidade-estado, era voltado para os guerreiros, tudo era fomentado para que todos fossem lutadores. Uma pequena história contada pelo autor, relata a fala de uma mãe: “A mãe espartana entregou ao filho seu escudo enquanto ele se preparava para a guerra, dizendo-lhe: volte com ele ou sobre ele.” 

A ideia de que o ambiente nos influencia – mas não nos determina – pode ser sentida nesse pequeno relato. Foi nesse aspecto específico que o autor fundamentou essa obra sobre o espírito do guerreiro, dividindo-a em três partes: Academia de Guerra, A Guerra Exterior e Guerras Internas. 

Nessa história sobre a guerra contra os persas, se evidenciou como as mulheres, com uma espécie de poder intrínseco e dominante – que se move a partir das “entranhas” da sociedade – pode especialmente produzir um ambiente favorável ou não ao crescimento e desenvolvimento social.

José Ortega y Gasset já disse algo semelhante em seu Estudos sobre o Amor, que também já comentamos aqui. Há um ambiente “criado” pelas mulheres que determina os rumos de uma sociedade. Hoje, de forma aparentemente despretensiosa, há uma verdadeira supressão do que realmente significa ser homem e mulher, matando seus significados por inanição. Veja, todos nós temos nossas potências e habilidades inatas, vantagens e desvantagens naturais, e não podemos simplesmente fazer um “combo” apenas com as sensações que mais nos agradam e transformar isso em algo impositivo para todos. Pelo menos não sem causar consequências graves para o desenvolvimento social.

O que quero dizer é que, antes desse desenvolvimento da sociedade, dessa evolução que todos clamam quase desesperadamente, é preciso se criar um “clima” favorável para esse crescimento. Pressfield fala sobre esse espírito do guerreiro embutido no âmago social. Além dele, pego um outro exemplo de Sertillanges, que falava sobre um “espírito do estudioso”: o padre francês dizia que “tudo em um intelectual, deve ser intelectual (...) Tornemo-nos uma harmonia cujo resultado seja a conquista da verdade.”

Perceba que, salvo as exceções, que sempre existem, para que consigamos realizar algo, é preciso sempre um trabalho anterior, uma preparação contínua e laboriosa: se quer ter boa saúde, pratique exercícios regularmente, vá para a academia; se quer passar num concurso, estude durante um bom tempo diário; se quer comprar um carro ou uma casa, trabalhe e junte dinheiro antes. Ora, se queremos construir uma sociedade mais justa e saudável, que trabalhemos antes para ter boas pessoas. Como? Jordan Peterson fala sobre isso em seus livros, tanto no 12 Regras, quanto no Além da Ordem: mantendo a estabilidade como regra e usando a inovação, ou seja, criar alternativas novas, quando for preciso manter aquela mesma estabilidade.

“O mundo está em perigo por falta de máximas de vida. Estamos em um trem a toda velocidade, e sem sinalização, sem agulheiros”, disse Sertillanges. Que cuidemos assim dos princípios, dessas balizas que permitem nosso crescimento como sociedade. 

O Espírito do Guerreiro, Steven Pressfield.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.


 
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