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03/10/2019 às 08h14min - Atualizada em 03/10/2019 às 08h14min

A barbárie ao vivo

TIAGO BESSA

Na última terça-feira (1º), um grupo de cruzeirenses ligados à Torcida Organizada Máfia Azul invadiu a Toca da Raposa II, arrombando um dos portões e tendo acesso ao gramado onde o elenco do Cruzeiro estava prestes a iniciar suas atividades. Foi uma espécie de solenidade com direito a foguetório e transmissão em tempo real, em plena tarde de terça. Sim, chegamos a este ponto: o da completa barbárie!

Enquanto a inércia e o desinteresse tomam conta da população, de modo geral, quando se trata de assuntos como educação, saúde, segurança pública, pobreza e corrupção, por outro lado, o futebol goza de um prestígio que tem colocado em risco alguns de seus profissionais. Há poucos dias, o volante palmeirense Bruno Henrique e sua esposa foram verbalmente agredidos por torcedores em via pública, por conta da eliminação do clube na Copa do Brasil e na Libertadores.

Será o futebol mais importante e seus problemas mais urgentes do que a situação terrível que nosso país atravessa? Já não basta sermos a chacota do momento dentre as grandes potências econômicas e intelectuais do mundo, além de enfrentarmos gravíssimas crises ligadas aos recursos hídricos, ao desmatamento, à demarcação de territórios indígenas, às reformas que sangram nossa iludida população e tantos outros problemas? E a barbárie, não bastasse o fato de existir, agora é transmitida ao vivo e justamente por seus protagonistas.

Tenho refletido há bastante tempo sobre as estreitas relações entre os grandes clubes e suas maiores torcidas organizadas. Estreitas demais! Em determinados clubes as decisões mais sérias são tomadas com a presença de representantes de torcidas, com direito a exigências e ameaças. Há algumas semanas o ex-jogador Paulo Nunes contou, em entrevista a um youtuber, que sua contratação pelo Corinthians aconteceu após o aval de lideranças de sua principal torcida organizada, e que até mesmo sua família sofreria “consequências” caso ele não respeitasse a camisa do clube.

É chegada a hora de dar um basta nessas relações perigosamente estreitas. O que cabe ao torcedor precisa ficar limitado somente à arquibancada, onde ele pode extravasar suas alegrias e decepções com seu time de coração com civilidade. E só!

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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