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05/02/2019 às 08h12min - Atualizada em 05/02/2019 às 08h12min

Antigamente

ANTÔNIO PEREIRA
Me contava dona Ana Gonçalves Tomazelli:

“O vovô Chico era compadre do vovô Totó. Mamãe era apaixonada pelo meu pai e ele por ela. Naquele tempo, os rapazes quando queriam casar com as moças, escreviam uma carta aos pais delas pedindo. Mamãe não aceitava isso porque já gostava dele. O papai também não queria escrever, sei lá por quê. O vovô Totó descobriu essa platonia e foi lá falar com o papai. Disse: Ó, a Júlia quer casar com você. E pronto.”

“Papai e a mamãe foram um casal feliz, muito feliz. Foram oito anos de noivado. Mamãe tinha 23 anos e o papai tinha 27 anos quando casaram. Sabe como é que era o namoro? O rapaz ia na casa da moça. A moça fazia café e levava na sala. Só isso. E voltava lá pra dentro. O rapaz ficava conversando com os pais dela. Foi o meu avô Totó que pediu pra ele. Foi aqui em Uberabinha que ela conheceu ele. O papai e o vovô vinham todo domingo à cidade a cavalo pra assistir a missa. Mamãe conheceu o papai lá na igreja de Nossa Senhora do Carmo. E foi ali que ela se casou com ele.

“O vovô Chico foi vereador na Câmara. Na gestão do coronel Severiano (l898/1900). Ele vinha a cavalo lá da fazenda do Buriti. Ali perto da Calu tinha uma água que descia com uma biquinha, então ele vinha descalço até ali, com as botinas amarradas no cavalo. Chegava ali, lavava os pés, enxugava e calçava as botinas. Era a “biquinha do vovô”. Outros diziam o ‘barranquinho do vovô’.

“Ali onde é a Medicina tinha o Capão Seco. Vovô Chico dizia que a água vinha lá do Uberabinha (Sucupira) até ali por queda natural. Foi o primeiro político a pensar em trazer água da Sucupira. Esse Capão Seco nenhum filho queria porque não tinha água. As terras do vovô vinham até lá em cima na Floriano. Ali onde é a Medicina era tudo Capão Seco.

“Francisco Gonçalves de Andrade, o vovô Chico, era de São João del Rey. Ele, de uma certa maneira, era intelectualizado para a época. Os filhos estudavam música, cada um tocava um instrumento, tinham escola. O vovô fazia questão absoluta. Ele assinava o jornal O Estado de São Paulo. Lia pra vovó e pras filhas. Mas todo mundo andava descalço.

“A família vinha sempre para a missa do domingo e para as festas da igreja, com procissão. Vinham a cavalo com os filhos. Ali onde é a Prefeitura (hoje é um museu), tinha um cemitério, era cercado de pedra. Os fazendeiros daquela época traziam as pedras nos carros pra fazer a cerca do cemitério. As mulheres ficavam em casa tecendo, costurando. As roupas eram todas feitas em casa. Faziam até os tecidos.

“Faziam açúcar, rapadura, farinha, fubá que traziam pra cidade pra trocar por sal, arame, ferramentas, querosene, munições. Angu de fubá tinham que fazer todo dia pro meu avô. O sabão era feito em casa. Matavam uma vaca, tiravam o sebo e daí faziam o sabão. Tinha as candeias acesas com azeite feito de mamona, feito em casa também.

“Meu avô ia pra roça de madrugada, descalço. Minha avó já punha o fubá pra cozinhar.”
 
Fonte: d. Ana Gonçalves Tomazelli
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