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02/07/2024 às 08h00min - Atualizada em 02/07/2024 às 08h00min

Garcia e Agostinho

ANTÔNIO PEREIRA
Eram portugueses da Lapa do Lobo. A família dos Agostinho tinha mais mulheres e a família dos Garcia mais homens.

As meninas trabalhavam na lavoura e na colheita em terras baixas e os Garcia passavam lá em cima do morro rumo ao seu trabalho agrícola um tanto mais longe. Lá de baixo elas brincavam escolhendo os namorados.

- Eu quero aquele que vai na frente. – Era a mais velha escolhendo o Antônio que não era o mais velho, porém era o líder dos rapazes.

E iam escolhendo até que a mais nova, conformada, dizia:

- Ah... eu fico mesmo com aquele que vai com o pipo.

O que ia com o pipo (vasilha de carregar água) era o mais novo, o cerra-fila. Dizem que se casaram mais ou menos assim, conforme escolheram.

Pois bem, os Agostinho e os Garcia vieram para o Brasil nos princípios do século XX, estimulados pelas cartas do José Agostinho, primeiro a chegar. José Agostinho morava em Uberabinha.

José Garcia foi o terceiro da família a chegar. Foi em 1914. Já era casado com dona Josefina Agostinho e tinha alguns filhos. O mais velho era o Alexandrino.

Veio sozinho para trabalhar na Mogiana, mas logo fixou-se em Uberabinha e foi ser empregado na cerealista do seu cunhado José Agostinho. Juntou algum dinheiro, voltou a Portugal e trouxe sua irmã Maria Garcia, que era casada com o João Agostinho que já estava no Brasil. Não trouxe a família por causa das dificuldades causadas pela guerra mundial.

Desta vez, foi infeliz. Quebrou uma perna e ficou, por falta de recursos médicos, quarenta dias deitado com a perna apoiada numa telha colonial. Quando a guerra acabou, voltou, com grande dificuldade, porque não tinha conseguido juntar dinheiro, mas trouxe a família.

Chegaram a Uberabinha no Natal de 1919 e instalaram-se num casebre perto de onde, hoje, é o Fórum. José foi ser carroceiro com ponto em frente aos armazéns do Teixeira Costa (esquina da praça dr. Duarte com a praça Clarimundo Carneiro). Esses armazéns, mais a casa do Arlindo Teixeira, foram demolidos para alargamento da praça Dr. Duarte.

Alexandrino apegou-se ao tio João Agostinho que lhe ia ensinando de tudo sobre as necessidades técnicas da velha Uberabinha. Aprendeu a dirigir, mecânica, serviço de pedreiro, de marceneiro, de ferreiro, de tudo. Foi servente na construção do Colégio Estadual, “museu”, motorista e ferreiro nas oficinas Crosara.

Com sacrifício e ajuda da esposa, dona Josefina, que plantava hortaliças vendidas pelos filhos na rua, José comprou uma chácara na rua 13 de Maio (hoje Princesa Isabel) e passou a dedicar-se às verduras.

Enquanto isso, João Agostinho ensinava o Alexandrino a mexer com máquinas beneficiadoras. Acabaram montando, em sociedade, uma cerealista em Nova Esplanada, no Estado de São Paulo, que não deu certo.
Voltaram para Uberabinha. Alexandrino continuou a trabalhar nessas máquinas.

Seu tio montou uma arrozeira no começo da avenida Afonso Pena, onde, mais tarde, foi o jornal “Correio de Uberlândia”. José Garcia juntou algum dinheiro das verduras e entrou de sócio.

Passados mais uns anos, José ajuntou mais um dinheirinho que, inteirado com um empréstimo tomado ao João Fernandes, português que era seu parente, deu para comprar a parte do cunhado e admitiu o filho Alexandrino na sociedade. Essa cerealista passou por três razões sociais: José Alves Garcia, depois José Alves Garcia & Filho e, por fim, Alexandrino Garcia & Irmãos.

Estava lançada a semente de um futuro império econômico. Mas aí, a história já é outra e está contada no meu livro “Com o Suor do Teu Rosto” (SABE, 1993).
 
Fontes: Antônio Pereira da Silva e Tito Teixeira.


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