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28/09/2022 às 12h15min - Atualizada em 01/10/2022 às 17h12min

Alexandre Kalil fala em renegociar dívidas de Minas; confira essa e outras propostas de governo

Diário realiza nesta semana sabatina com candidatos mais bem colocados nas pesquisas; candidato do PSD pretende revogar Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e trabalhar aliado ao Governo Federal

DHIEGO BORGES E SÍLVIO AZEVEDO | DIÁRIO DE UBERLÂNDIA
Kalil respondeu a perguntas do Diário sobre saúde, educação, economia e propostas para o Triângulo Mineiro I Foto: DIVULGAÇÃO/COLIGAÇÃO JUNTOS PELO POVO DE MINAS GERAIS
Nesta reta final das Eleições 2022, que acontecem no próximo domingo (2), o Diário de Uberlândia traz uma série de entrevistas exclusivas com os três candidatos ao Governo de Minas mais bem colocados nas últimas pesquisas eleitorais, cujos resultados foram divulgados até fim da última semana.
 
Conforme alinhamento com as campanhas, a publicação das entrevistas com Alexandre Kalil (PSD), Carlos Viana (PL) e Romeu Zema (Novo) seguirá o critério de ordem alfabética. As perguntas serão as mesmas para todos os candidatos e foram produzidas e selecionadas pela equipe de jornalistas do Diário.
 
O primeiro entrevistado, nesta quarta-feira (28), é Alexandre Kalil, que falou sobre suas propostas para o Triângulo Mineiro, investimentos no Estado diante do endividamento público, saúde, meio ambiente, entre outros temas, como as primeiras medidas a serem tomadas nos 100 primeiros dias de governo e a proposta de retirar Minas Gerais do Regime de Recuperação Fiscal (RRF).
 
As próximas sabatinas serão, pela ordem, com Carlos Viana (PL), com publicação nesta quinta (29), e Romeu Zema (Novo), que terá direito ao espaço na próxima sexta (30).


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Confira a entrevista completa com Alexandre Kalil:
 
DIÁRIO: Quais são as principais propostas e investimentos para o Triângulo Mineiro, caso o senhor seja eleito ao Governo do Estado?
 
ALEXANDRE KALIL: Minas Gerais é um Estado muito grande e muito desigual. Temos regiões mais desenvolvidas e outras muito atrasadas, que precisam de maior atenção. No Triângulo, a questão das estradas é fundamental para melhorar a logística e o escoamento da produção. A região tem uma localização estratégica no centro do país e precisa de investimento em infraestrutura para que esse potencial seja ampliado. Dados da Confederação Nacional de Transporte (CNT) mostram que, dos 10 piores trechos de rodovias do Estado, três estão no Triângulo: a MG-190 (de Nova Ponte a Abadia dos Dourados), a BR-452 (entre Nova Ponte e Araporã) e a MGC-497 (entre Uberlândia e Prata). Isso precisa ser resolvido. Mas também são importantes outras ações, como restabelecer o papel do BDMG como agente de desenvolvimento, concedendo crédito a micro e pequenas empresas, à agricultura familiar. E temos que recuperar a estrutura da educação e da saúde no Estado porque o atual governo simplesmente deixou essas duas áreas completamente abandonadas.
 
DIÁRIO: Ainda falando sobre o Triângulo Mineiro, recentemente o estado anunciou um programa de concessões para melhorias nas estradas da região. No entanto, há um impasse entre o Governo e o Ministério Público Federal quando o assunto é a BR-365, que corta diversas cidades da região e permite a ligação com outros estados. A duplicação do trecho dessa BR, entre Uberlândia e Patos de Minas, é uma demanda importante para a população do entorno. Como o senhor pretende atuar para resolver a questão?
 
ALEXANDRE KALIL: Investir em infraestrutura será uma das prioridades do meu governo e isso significa resolver a malha viária do Estado, que é a maior do país. As estradas estão em situação lamentável, com muitos buracos, o que dificulta o escoamento de produtos, encarece o comércio e afasta os investimentos. O caso da BR-365 é um exemplo de como o atual governo quer privatizar tudo que é do Estado, ou seja, do povo mineiro, a qualquer custo. Concordamos com concessões de rodovias, mas não pode ser feito da maneira que foi, de forma apressada, aceitando os pedidos das concessionárias e passando por cima das contrapropostas e obrigações mínimas que elas têm que cumprir. Queremos refazer o leilão com o devido cuidado, respeitando os estudos de impacto para atender a necessidade da população em primeiro lugar. Não tem como fazer a concessão, sem antes duplicar. Esse é o modelo que funciona no mundo todo. A lógica desse governo está toda errada.
 
DIÁRIO: Sabemos que o Estado tem uma dívida de cerca de R$ 30,2 bilhões, acumulada em gestões anteriores, segundo informações da Secretaria de Estado de Fazenda. Algumas já foram quitadas, mas ainda há, além disso, outras pendências, como um valor de R$ 7,5 bilhões de depósitos judiciais do Tribunal de Justiça, que começou a ser pago em janeiro. A quitação, mesmo, está prevista somente para janeiro de 2028. Como o senhor pretende fazer novos investimentos e melhorias em Minas, diante desse cenário?
 
ALEXANDRE KALIL: Temos que renegociar a dívida. Vamos para Brasília sentar com o presidente Lula e discutir uma forma de pagar a dívida que não inviabilize os investimentos. Não se recupera o segundo Estado da federação sem passar por Brasília. Não tem a menor possibilidade. Todo mundo sabe disso.
 
Não é possível adotar um Regime de Recuperação Fiscal (RRF) em que não se pode contratar um médico e um professor, que não seja possível dar aumento a professores, ao pessoal da segurança pública. A dívida de Minas aumentou. Falar de colocar alguma coisa no trilho é cruel, porque o povo está passando necessidade. O Estado está abandonado. A dívida corrente passou de R$ 28 bilhões para R$ 58 bilhões e a dívida total passou de R$ 100 bilhões para R$ 158 bilhões. O povo de Minas precisa saber dessa mentira inventada pelo governo Zema, que só conversa com grandes empresários e deixa o povo passando necessidade.
 
Não tem Estado nenhum no trilho, como está sendo dito. Zema vai deixar Minas mais endividada do que recebeu do governo anterior. As pessoas não sabem disso.
 
DIÁRIO: Um dos temas que têm sido bastante discutidos em Minas é a questão do Meio Ambiente. O estado comporta mais de 50% da produção nacional de minerais metálicos. No entanto, nos últimos anos, acidentes como o de Brumadinho e, mais recente, a concessão para exploração da Serra do Curral, em BH, levantam questionamentos da população sobre o risco dessa atividade econômica, não apenas para o meio ambiente, mas também para cidadãos que vivem próximos às barragens. Qual é o caminho que Minas precisa tomar para equilibrar essa equação?
 
ALEXANDRE KALIL: A mineração é uma das maiores fontes de arrecadação do Estado. Então, não podemos simplesmente condenar a mineração como se ela fosse o mal. Sem a mineração, dezenas de municípios de Minas quebrariam. O que está errado é a maneira criminosa que tem sido feita em muitas regiões, a falta de fiscalização, o governo indicando pessoas para cargos públicos e conselhos que deveriam cuidar dos interesses do povo e estão atrelados aos interesses das próprias mineradoras.
 
Não podemos admitir uma nova Mariana, um novo Brumadinho. Isso não pode acontecer outra vez. Para isso, precisamos garantir que os danos causados por esses crimes ambientais sejam reparados. O governo Zema não fez nada durante três anos e agora, com o dinheiro da indenização da Vale pela tragédia de Brumadinho, resolveu usar para fazer o que não fez. Vamos aumentar a fiscalização das barragens e garantir que todos os processos de licitação cumpram com todas as licenças, laudos e estudos de impacto ambiental. As exigências técnicas estão sendo desconsideradas.
 
O caso da Serra do Curral, em Belo Horizonte, é um exemplo de como este governo desconsidera o meio ambiente. A Serra é um patrimônio cultural e histórico do povo de Minas Gerais e de Belo Horizonte. O licenciamento foi feito de maneira atropelada, passando por cima dos critérios técnicos necessários. E mesmo assim, o governo insiste em autorizar a mineração na área.
 
É um grande desafio que precisa ser enfrentado com vontade. Devemos buscar alternativas sustentáveis, até porque o minério acaba. Devemos trabalhar para a diversificação econômica das cidades que são muito dependentes da mineração, investindo em turismo, por exemplo. O papel do governo é coordenar estes conflitos, não favorecer apenas o lado das mineradoras como acontece atualmente.
 
DIÁRIO: Dados divulgados pelo Inep, órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC), mostram que Minas Gerais não atingiu algumas das metas definidas para este ano no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O resultado revelou uma queda de desempenho do aprendizado nos anos iniciais, assim como no ensino médio, um reflexo possível da defasagem causada pela pandemia. Quais são as suas propostas para a recuperação desses estudantes e para que a Educação em Minas Gerais retorne aos patamares ideais?
 
ALEXANDRE KALIL: Olha só, sobre os indicadores da Educação Básica, estou estudando e aprendendo. O que os especialistas têm me dito é que precisamos olhar para os dados do Ideb 2021 com cautela. Então, vamos lá. Pela primeira vez, desde 2005, o Ideb nos anos iniciais do fundamental retrocedeu. Em 2021, a nota foi 6,1, retornando à média obtida pelo conjunto de todas as redes de ensino (pública e privada) em 2013.
 
Claro que a pandemia teve influência, mas quando a gente olha para o ranking nacional, vemos que Minas está caindo em comparação com outros estados. Estamos caindo, perdendo posições de forma muito intensa, principalmente durante o governo Zema. E o que precisa ser feito? Eu vou ser muito direto. Educação, saúde, a segurança pública e a proteção social precisam ser prioridade. E não tem que entregar a gestão da educação para a iniciativa privada, como o governo Zema pretende. Educação é papel e dever do Estado. Tem que fazer o que fiz. Investir o que manda a lei - o que o governo Zema não faz, investir na carreira dos profissionais da educação, na infraestrutura, na merenda, melhorar as condições para os estudantes que vivem nas zonas rurais. É preciso cuidar, cuidar da nossa juventude, articular a Educação a diversas outras políticas.
 
DIÁRIO: O governo mineiro vem registrando, desde 2014, atrasos em pagamentos de recursos da saúde aos Municípios, o que prejudica a efetividade da prestação do serviço público. Essas dívidas acumuladas somam quase R$ 7 bilhões. Recentemente um acordo com o Ministério Público permitiu o parcelamento de parte da dívida em 96 parcelas, a partir de outubro deste ano. Qual é o planejamento do candidato para que o Estado fique em dia com estes compromissos em uma área tão importante como a saúde, evitando novos problemas no futuro?
 
ALEXANDRE KALIL: A saúde tem sofrido muito nestes últimos quatro anos e o descaso foi escancarado com a pandemia. E não é apenas a saúde, mas a educação também. Os repasses aos municípios são uma obrigação do Estado e têm que ser cumpridos. E, ao contrário do que o atual governador fala, a maior parte dessa dívida é dele, deste governo.
 
Não há gestão na saúde. O Estado não atua como deveria, na organização dos serviços oferecidos pelas macro e microrregiões.
 
Além disso, estamos lidando com as falsas promessas. Em 2018, Zema prometeu concluir os 11 hospitais regionais, e agora quatro anos depois, em nenhum deles as obras foram sequer retomadas. E, nesta campanha, ele mente novamente, prometendo os hospitais.
 
Mas, eu tenho alertado de que com esse Regime de Recuperação Fiscal, que ele impôs a Minas Gerais em acordo com o governo Bolsonaro, que é amigo dele, o Estado fica proibido de contratar um médico sequer. Então como irá abrir hospital?
 
DIÁRIO: Determinados impasses com o serviço público têm sido alvo de manifestações recentes no estado, com reivindicações por recomposição salarial por parte de servidores da segurança pública, educação e saúde, além da cobrança de atrasos de pagamentos e outros direitos. Com o estado em dificuldade financeira, como o candidato pretende atuar para garantir a manutenção de um atendimento público de qualidade e diminuir algumas das insatisfações das categorias?
 
ALEXANDRE KALIL: Como disse, temos que renegociar a dívida com a União, temos que ir a Brasília e discutir com o presidente Lula uma maneira de pagar a dívida sem comprometer salários dos servidores públicos, que estão defasados e, em alguns casos, nem recebem o piso. Outra coisa é a falta de diálogo do atual governo. Representantes da educação, da segurança pública, da saúde simplesmente não são ouvidos. O governo nem consegue conversar e negociar com os deputados da Assembleia Legislativa, o que faz parte do jogo político, da democracia. Este governo não sabe lidar com divergências, não sabe escutar. Acha que sabe mais do que as pessoas que estão na linha de frente: professores, médicos, enfermeiros, policiais. É preciso saber ouvir, o que eu fiz na Prefeitura de Belo Horizonte. Meu gabinete sempre esteve de portas abertas para todos. A gente senta e vê o que dá para fazer, coloca no orçamento e executa. É assim que funciona. E eu já disse que quem negocia com professor, servidor da segurança pública e profissionais da saúde é o governador.
 
DIÁRIO: Caso seja eleito, quais serão as suas primeiras medidas nos 100 primeiros dias de governo?
 
ALEXANDRE KALIL: A primeira coisa que vou fazer é revogar este Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e ir a Brasília conversar com o presidente Lula sobre a situação fiscal e financeira de Minas. Esta proposta não deu certo em outros estados e o governo Zema acha que vai dar certo aqui. É impossível. Também vamos rever o processo de concessão da mineração na Serra do Curral, porque foi feito a toque de caixa e há sérios indícios de irregularidades. Depois vamos sentar para conversar com as pessoas, ouvir o que cada setor tem a dizer e fazer um planejamento, estabelecendo prioridades para o que for mais urgente. Não é possível fazer tudo em 100 dias. E como o Estado está endividado e abandonado, é importante escolher bem as prioridades.

 

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