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05/09/2017 às 17h52min - Atualizada em 05/09/2017 às 17h52min

A palestra do ministro Barroso

ANA MARIA COELHO CARVALHO* | LEITORA DO DIÁRIO

Por acaso estava em São Paulo quando o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, ministrou no INSPER a palestra "Momento institucional brasileiro e uma agenda para o futuro". Como mãe de aluno dessa instituição, fui assisti-la com meu filho.

Gostei muito. Principalmente porque, ao longo de toda sua fala, o ministro deixou claro que em qualquer circunstância e ocasião é preciso ser honesto sempre, que  honestidade vale a pena sim, não há outro caminho.

Iniciou sua palestra com uma análise clara, e ao mesmo tempo desalentadora, da corrupção que assola o país, mostrando que ela existe em todos os níveis. Não é de um partido político ou de outro. É um mal mais amplo, institucional, sistêmica, estrutural. Não tem ideologia, não é de direita nem de esquerda; não existe isso que a corrupção desses é melhor ou pior que a daqueles. Ela recompensa os piores, ao invés de recompensar os melhores. Causa revolta e indignação nas pessoas honestas, que não querem pagar pela desonestidade dos outros e pensam até em deixar de serem honestas.  Ressaltou de forma eloquente que a honestidade é o caminho e que é preciso insistir nisso. E como bom palestrante, para uma melhor interação com a plateia, contou um caso do Carlos Drummond de Andrade sobre a necessidade de insistir. Ele estava visitando um sebo e encontrou um livro de sua autoria, com dedicatória a um amigo. Indignado, comprou o livro e o reenviou ao amigo, acrescentando na dedicatória a palavra "insistentemente". Contou também outros casos, como o do samurai que estava passando mal em um voo. Quando a aeromoça perguntou se ele estava sem ar, respondeu que estava era sem terra. Exemplificou assim a necessidade de se fazer um diagnóstico correto em cada situação.

O ministro deu vários exemplos de corrupção no país, como no caso das eleições, onde há dinheiro desonesto e caixa dois. Ressaltou que o modelo de eleição que existe não pode continuar, pois permite situações de absoluta imoralidade. E que no caso do mensalão, o pior nem foi o pagamento de propinas, mas sim o que se fez para se conseguir o dinheiro.

Continuando, afirmou que a corrupção não é o maior problema do Brasil, e sim a mediocridade, a falta de pessoas pensando a construção de um país lá na frente. Não precisamos de pessoas que apenas consertem o que está errado. E só vamos ter um projeto unitário quando a ferida causada pelo impeachment , que dividiu o país, estiver curada, pois precisamos de uma nova narrativa para o Brasil capaz de usar traços comuns, como a honestidade e a ética, que é compromisso com a decência.                                                                                           

Discorreu também sobre o papel do STF, a função dos juízes e ministros e exemplificou as diferentes situações onde é necessário distinguir o aspecto policial do aspecto da justiça. Abordou a judicializacão da saúde, ou seja, os inúmeros processos que vão parar na justiça para obtenção de remédios e tratamentos.

Na segunda parte da palestra, uma agenda para o futuro, afirmou que os itens básicos para o futuro são a democracia, a livre iniciativa e a educação. Numa mensagem de esperança, falou que o Brasil tem jeito sim, com os ajustes necessários é possível empurrar o país para o caminho certo. Ressaltou que o país realmente só começou em 1808 com a vinda da família real e nos últimos duzentos anos cresceu muito, foi o maior sucesso do século XX. A consciência política tem aumentado e existe uma energia cívica que deve ser aproveitada para mostrar que a ética vale a pena. Apontou vários caminhos, como: a política deverá ser capaz de atrair grandes nomes, pessoas honestas e fiéis aos seus ideais; é preciso dar continuidade aos projetos sociais e a erradicação da pobreza; ter uma política ambiental séria, mostrando que é melhor conservar a Amazônia do que derrubá-la. Ter um programa social relevante, com planos para saneamento básico e habitação; discutir aspectos polêmicos como a descriminalização das drogas e a interrupção da gravidez. Enfatizou que a educação deve ser um projeto do país, desde a pré-escola até o final do ensino médio, mas no Brasil atual ela tem sido apenas um slogan. Salientou a necessidade da reforma tributária, pois é preciso simplificar e reduzir impostos. Afirmou que a reforma da Previdência é uma questão aritmética, pois não somos ricos e vamos deixar um país mais pobre para os nossos filhos.

Finalizando a palestra, citou o seu slogan: "não importa o que estiver ocorrendo à sua volta, faça o melhor que puder". E completou: "o que importa não é vencer as tempestades, é aprender a dançar na chuva".

É isso aí senhor ministro, vamos aprender a dançar na chuva para construir um Brasil melhor. E tentar engajar e sensibilizar mais pessoas, pois milhões e milhões de brasileiros nem sabem o que está acontecendo no cenário político social do país.

(*) Bióloga e professora aposentada da UFU

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