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16/12/2023 às 08h00min - Atualizada em 16/12/2023 às 08h00min

Defuntos políticos

Por Gustavo Hoffay, agente social
Em Belo Horizonte, capital onde nasci e morei durante boa parte da minha vida, fui um dos ativos correligionários de Pimenta da Veiga na sua campanha rumo ao governo do Estado em 1.986 e pude sentir, in loco, a frustração que se abateu sobre todos nós após a sua derrota para o baiano Newton Cardoso, na convenção que escolheu o candidato do PMDB ao governo de Minas e quem, depois, derrotou um outro baiano na eleição estadual: Itamar Franco, então filiado ao PL.  

Sim, para quem não se lembra, Minas já teve dois candidatos baianos se digladiando em uma disputa pelo trono do Palácio da Liberdade. Desde então fui afinando a minha percepção sobre a política praticada em nosso Pindorama e ao ponto de perceber, facilmente, que o ambiente de um governo derrotado nas eleições é comparável ao de um concorrido velório; o palácio e a sua casa ficam apinhados de simpatizantes e cabos eleitorais macambúzios e sorumbáticos. 

Filas na porta do seu comitê eleitoral, prantos e resmungos, um chilique aqui e um fricote acolá. Passadas as primeiras 48 horas desde a apuração final e do cerrar das cortinas pelo Tribunal Eleitoral, lenta e finalmente a tristeza começa a ir embora; a casa do falecido e o palácio onde exerceu a governança ficam um pouco mais calmos; ninguém mais chora copiosamente, ninguém mais sequer... cafunga. Resignados, os servidores em cargo de comissão logo são consolados pelos funcionários de carreira em secretarias diversas e tratam de limpar as suas gavetas deixando, melancólicos, o recinto que ocuparam provisoriamente durante os últimos poucos anos e partindo rumo a novas conquistas até, talvez, uma outra oportunidade política de verem-se novamente empregados em alguma repartição pública.  

Confirmada a derrota nas urnas, o desespero de quem é desinstalado do poder é geral! Gritos de revolta e lágrimas de desespero, protestos, discursos inflamados e mesmo irracionais em alguns momentos: “Não, ele não pode passar a faixa; a coisa não pode ser tão simples como pensam. Maldição! Onde está o Exército?” Alguns ex-servidores comissionados acorrem ao Palácio e formam filas para abraçar e consolar o chefe derrotado, em prantos. O “velório” é longo e, pior, com o defunto exposto à visitação dos seus antigos colaboradores/bajuladores por uma semana (ou mais!). Resignação, esse o sentimento mais apropriado em tal momento.

Em poucos dias o féretro sairá pela porta do Palácio e com ele tornam os gritos de desespero, choro e ranger de dentes. Correligionários recalcitrados, aos soluços, enxugam os seus olhos na bandeira do Partido derrotado. Mas, convenhamos.... Há certos defuntos políticos que custam a morrer. Quando menos se espera, eles, candidatos derrotados, levantam-se e andam, fagueiros, saltitantes e sorrindo, vivinhos da silva, sassaricando e nomeados que são para dirigir a campanha de um distinto parceiro de partido ou coligação. 

Passados poucos anos os seus respectivos comitês eleitorais, antes sombriamente fechados e sujos, logo são varridos, sanitizados e freneticamente preparados para receberem uma nova carga de muito trabalho em nome da esperança; varre-se daqui e dali. 

A um canto da sala principal daquele antigo comitê, ainda encontra-se velhos e descorados cartazes da última campanha; entre amareladas correspondências diversas de incentivo, surge a cópia amassada de um e-mail ao então candidato: “Ainda não recebi aquele capilé prometido. Pague logo ou a sua vitória estará comprometida”, um outro e-mail,  mais  à  frente e sobre aquele chão imundo anuncia:
“Despesas de campanha altíssimas e pagamentos inadiáveis”! É fato, o purgatório (ou ressaca) pós-eleitoral de candidatos derrotados costuma assemelhar-se a um velório. Mas ficam as lições acompanhadas de tédio e melancolia junto à danada sensação de “Na próxima hei de vencer”! 

Tudo, enfim, aclimata-se; ao menos até o início de uma nova jornada rumo aos píncaros da glória política. Particularmente admiro essa sanha persecutória de não poucos candidatos a cargos legislativos, uma qualidade comum a celerados pretendentes de alcançarem os seus objetivos à base de muito esforço e também, na maioria dos casos, de muito dinheiro.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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