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13/07/2024 às 08h00min - Atualizada em 13/07/2024 às 08h00min

A poluição ambiental e os riscos para a saúde: um inimigo silencioso

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Nos dias atuais, a poluição ambiental emerge como um dos maiores desafios para a saúde pública global. Nos meses de inverno, com o tempo mais seco, as partículas sujas do ar não se depositam, tornando o ar ainda mais poluído!

Embora já estejamos familiarizados com fatores de risco como diabetes, hipertensão arterial, colesterol elevado, tabagismo, sedentarismo e obesidade, a poluição ambiental é um fator de risco igualmente grave, mas frequentemente negligenciado. Seus impactos são profundos, abrangendo desde doenças respiratórias e cardiovasculares até um aumento significativo na incidência de diversas neoplasias.

POLUIÇÃO E DOENÇAS RESPIRATÓRIAS
A poluição do ar, composta por partículas finas (PM2.5 e PM10), ozônio, dióxido de nitrogênio (NO2) e dióxido de enxofre (SO2), tem um efeito devastador sobre o sistema respiratório. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 7 milhões de mortes prematuras a cada ano são atribuídas à exposição à poluição do ar.

Asma e Bronquite Crônica: Estudos mostram que a exposição prolongada a PM2.5 aumenta a incidência de asma e bronquite crônica, especialmente em crianças e idosos. Um estudo realizado pelo Environmental Health Perspectives revelou que crianças expostas a altos níveis de poluição tinham uma probabilidade 40% maior de desenvolver asma.

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): A poluição do ar é um fator de risco significativo para DPOC. Partículas finas e gases tóxicos provocam inflamação crônica nas vias aéreas, levando à deterioração progressiva da função pulmonar. Segundo a American Thoracic Society, a exposição a PM2.5 está associada a um aumento de 12% no risco de mortalidade por DPOC.

POLUIÇÃO E DOENÇAS CARDIOVASCULARES
A relação entre poluição do ar e doenças cardiovasculares é bem documentada. As partículas finas podem penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, promovendo inflamação sistêmica, disfunção endotelial e aumento da coagulação sanguínea.

Infarto Agudo do Miocárdio (IAM): A poluição do ar é reconhecida como um fator precipitante para IAM. Um estudo publicado no British Medical Journal encontrou uma correlação direta entre picos de poluição do ar e o aumento de internações hospitalares por infarto. Cada aumento de 10 μg/m³ na concentração de PM2.5 foi associado a um aumento de 0,6% nas internações por infarto.

Acidente Vascular Cerebral (AVC): A poluição do ar também está associada a um risco elevado de AVC. Pesquisas mostram que a exposição a altos níveis de PM2.5 e NO2 pode aumentar o risco de AVC isquêmico e hemorrágico. Um estudo da The Lancet Neurology indicou que a exposição a PM2.5 foi responsável por aproximadamente 15% dos casos de AVC em todo o mundo.

Insuficiência Cardíaca: A exposição crônica à poluição do ar pode levar ao desenvolvimento e agravamento da insuficiência cardíaca. Um estudo do Journal of the American College of Cardiology mostrou que pacientes expostos a altos níveis de PM2.5 tinham um risco 18% maior de hospitalização por insuficiência cardíaca.

POLUIÇÃO E NEOPLASIAS
A relação entre poluição do ar e câncer está se tornando cada vez mais clara. Substâncias tóxicas presentes no ar poluído, como benzeno, formaldeído e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), têm propriedades carcinogênicas.

Câncer de Pulmão: A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) classificou a poluição do ar como um carcinógeno do Grupo 1. Estudos indicam que a exposição a PM2.5 aumenta significativamente o risco de câncer de pulmão. Um estudo do Environmental Research revelou que para cada aumento de 10 μg/m³ em PM2.5, o risco de câncer de pulmão aumenta em 8%.

Câncer de Mama e de Bexiga: A poluição do ar também está associada a um risco elevado de câncer de mama e de bexiga. Pesquisas sugerem que a exposição a poluentes como NO2 e HPAs pode estar relacionada a um aumento nas taxas de incidência desses tipos de câncer.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO E MITIGAÇÃO
Para combater os efeitos nocivos da poluição ambiental, é crucial adotar uma abordagem multifacetada que envolva governos, indústrias e indivíduos. Aqui estão algumas estratégias importantes:

1. Políticas Públicas Rigorosas: Governos devem implementar e reforçar regulamentações que limitem a emissão de poluentes industriais e veiculares. A transição para fontes de energia renovável e a promoção de tecnologias mais limpas são passos fundamentais.

2. Monitoramento e Informações Públicas: Estabelecer sistemas de monitoramento da qualidade do ar e fornecer informações em tempo real à população pode ajudar as pessoas a tomar decisões informadas sobre suas atividades diárias, especialmente em dias de alta poluição.

3. Educação e Conscientização: Campanhas educativas podem aumentar a conscientização sobre os riscos da poluição do ar e incentivar comportamentos que ajudem a reduzir a exposição, como evitar atividades ao ar livre em dias de alta poluição e promover o uso de transporte público ou modos de transporte não poluentes, como bicicletas.

4. Urbanização Sustentável: Planejamento urbano que priorize espaços verdes, infraestrutura para ciclistas e pedestres, e sistemas de transporte público eficiente pode reduzir a emissão de poluentes e melhorar a qualidade do ar nas cidades.

5. Tecnologias de Filtragem: Investir em tecnologias que purificam o ar em ambientes internos, como filtros de ar HEPA, pode ajudar a reduzir a exposição a poluentes, especialmente para pessoas mais vulneráveis, como crianças, idosos e indivíduos com condições de saúde preexistentes.

O PAPEL DA COMUNIDADE MÉDICA
Os profissionais de saúde também desempenham um papel crucial na luta contra a poluição do ar. Eles podem:

- Educar os Pacientes: Informar os pacientes sobre os riscos associados à poluição do ar e fornecer orientações sobre como minimizar a exposição.
- Advogar por Políticas: Participar de iniciativas de advocacy para promover políticas públicas que visem a redução da poluição do ar.
- Realizar Pesquisas: Conduzir pesquisas para aumentar a compreensão dos impactos da poluição do ar na saúde e desenvolver estratégias de mitigação mais eficazes.

A poluição ambiental é um inimigo silencioso que afeta a saúde de milhões de pessoas em todo o mundo. Seus impactos são vastos e abrangem desde doenças respiratórias e cardiovasculares até um aumento significativo na incidência de diversas neoplasias. 

A conscientização sobre os riscos associados à poluição do ar e a implementação de políticas públicas eficazes são essenciais para mitigar esses impactos e proteger a saúde pública.  Entender e reconhecer os riscos associados à poluição do ar é o primeiro passo para implementar medidas eficazes que protejam nossa saúde e bem-estar.

A colaboração entre governos, indústrias, comunidades e profissionais de saúde é essencial para enfrentar esse desafio. Somente com um esforço coletivo podemos garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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