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19/10/2024 às 08h00min - Atualizada em 19/10/2024 às 08h00min

O papel das vacinas na redução da resistência bacteriana e na prevenção de outras doenças

JOÃO LUCAS O'CONNELL
Nos últimos anos, tem-se observado uma crescente preocupação com a resistência bacteriana, um dos desafios mais prementes da saúde pública global. Embora as vacinas sejam predominantemente conhecidas por sua eficácia contra o vírus, elas desempenham um papel crucial na redução da resistência bacteriana, um benefício muitas vezes subestimado pela população.

As vacinas agem prevenindo infecções antes mesmo que elas iniciem, reduzindo significativamente a necessidade de uso de antibióticos. O uso excessivo e inadequado de antibióticos é um dos principais fatores para o surgimento de patógenos resistentes. Quando as vacinas evitam que uma pessoa contraia uma infecção que, de outra forma, necessitaria de tratamento antibiótico, elas indireta e eficientemente diminuem a pressão seletiva que favorece o surgimento de bactérias resistentes.

Por exemplo, a vacina pneumocócica, que protege contra a pneumonia, meningite e outras infecções causadas pelo Streptococcus pneumoniae, reduz drasticamente a incidência dessas doenças e, consequentemente, o uso de antibióticos para tratá-las. Outro exemplo é a vacina contra o Haemophilus influenzae tipo b (Hib), que previne infecções invasivas que também requereriam tratamento com antibióticos.

Além disso, vacinas que combatem infecções virais também ajudam a prevenir infecções bacterianas secundárias. Por exemplo, a vacina contra a gripe não só protege contra o vírus influenza, mas também reduz o risco de complicações bacterianas como a pneumonia secundária, que frequentemente requer antibióticos para tratamento. Quando a população é bem vacinada contra a gripe, observa-se uma queda importante nos casos de pneumonia bacteriana subsequente.

Vacinas e a importância da imunidade de rebanho
Outro ponto a ser considerado é a imunidade de rebanho. Quando uma parcela significativa da população está vacinada, a propagação de doenças é significativamente reduzida, protegendo até mesmo aqueles que não podem ser vacinados, como indivíduos com certas condições médicas. Esta redução na circulação de agentes patogênicos diminui ainda mais a necessidade de antibióticos, uma vez que menos pessoas adoecem.

Impacto preventivo em outras condições de saúde
Além da resistência bacteriana, as vacinas também têm um papel significativo na prevenção de condições mais amplas e graves, como infartos, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e doenças autoimunes. Estudos recentes sugerem que infecções graves podem ser um gatilho para eventos cardiovasculares. Ao prevenir essas infecções, as vacinas podem, indiretamente, reduzir a incidência de infartos e AVCs. Por exemplo, indivíduos vacinados contra a gripe apresentam menor risco de eventos cardiovasculares após a vacinação.

Doenças autoimunes, como a diabetes tipo 1 e a esclerose múltipla, também têm sido associadas a infecções virais. A prevenção de tais infecções através da vacinação pode diminuir a ocorrência dessas doenças autoimunes em populações suscetíveis. Por exemplo, algumas hipóteses sugerem que infecções virais podem desencadear respostas imunológicas anormais que levam ao desenvolvimento de doenças autoimunes. A prevenção dessas infecções pode, portanto, reduzir os casos de doenças autoimunes.

Exemplos de sucesso com vacinas
O impacto das vacinas pode ser ilustrado com vários exemplos históricos. A vacinação contra a varíola levou à erradicação completa da doença. A poliomielite, que causava paralisia em milhares de crianças todos os anos, foi drasticamente reduzida graças às campanhas de vacinação global. Cada um desses exemplos demonstra como a vacinação pode ter efeitos profundamente positivos na saúde pública.

Assim, a importância das vacinas vai muito além da proteção individual contra doenças específicas. Elas desempenham um papel vital na redução do uso de antibióticos e, consequentemente, na luta contra a resistência bacteriana, um problema que ameaça voltar a humanidade a uma era pré-antibiótica. Além disso, ao prevenir infecções graves, as vacinas podem reduzir a incidência de infartos, AVCs e potencialmente diminuir a ocorrência de doenças autoimunes.

Portanto, a vacinação não deve ser vista apenas como uma medida de proteção individual, mas como uma estratégia abrangente de saúde pública que beneficia toda a sociedade. A conscientização sobre esses benefícios adicionais das vacinas é essencial para promover maior adesão às campanhas de imunização e garantir um futuro mais saudável para todos.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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