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24/05/2024 às 08h00min - Atualizada em 24/05/2024 às 08h00min

Quem quer ser milionário?

WILLIAM H STUTZ
O título aí no alto faz menção ao deslumbrante filme "Slumdog Millionaire", do diretor Danny Boyle, laureado com dez indicações para o Oscar de 2009. Faturou oito. Em português o título ficou igual aos medíocres programas televisivos que prometem, mas ninguém leva a bolada prometida. Não posso reclamar, pois assim consegui o que considero mais difícil para meus pobres e humildes escritos: Título.

Deixemos, pois, em paz, a cinefilia, esporte que pratico solitário e sem aventurar em críticas e análises. Deixo missão para os especialistas.

Não sei se vem acontecendo com você, mas de um tempo para cá minha caixa de email vem sendo bombardeada por mensagens, com promessas mirabolantes de como se tornar um milionário e sem participar das "gags" televisivas. Isso mesmo, e-mail, pasme, ainda uso este velho recurso. Não me deixei seduzir pelas mensagens instantâneas de Whatsapp, messenger, Instagram e afins. Claro que uso todos, mas email não saiu de moda. Tenho saudades até do idoso ICQ!

Recebo mensagens oferecendo fundos de renda fixa, mesmo com a inflação em baixa (será?), a taxa SELIC miúda ( fala sério), o INPC negativo, o PIB crescente (hummm) e PNB sendo maior do que esse último. Se entendo de economia? Absolutamente nada, mas de tanto receber tais propostas milagrosas pus atenção e pesquisa. Bitcoins, CDBs, IGP-M, CDIs e muitas outras siglas e expressões invadem meu cotidiano, meu vocabulário macroeconômico está em alta.  Então vende! Grita um. Compre na baixa, venda na alta.

Outro dia um email me contou que posso fazer meu primeiro milhão aplicando cem contos em "apenas" 30 anos. Cara, eu não tenho trinta anos para esperar como a história na bacia sobram poucos pequis para roer, e, mesmo que tivesse, o que iria fazer com essa fortuna naquela altura de minha vida?

Gostei da Bitcoins. Não pelo investimento em si, pois não sei cuidar nem de finanças domésticas. Mas o nome impõe e me alegra saber que ela é sem ser. Não existe de verdade, não tem como juntar no porquinho de barro ou debaixo do colchão. A sonoridade do nome encanta por si só, fale baixinho e devagar BIT (respira) COIN. Pronto já me sinto milionário. Essa não tem banco te sugando, não tem gerente te vendendo sonhos, não tem nada. Ela não existe, mas é. Literalmente um "Bit". Dizem que quem comprou um desses impulsos binários há anos ficou muito rico. Muito legal.

Porém, o que eu queria entender é simples. Se esses caras que te enviam mensagens e, como disse, são muitos vendendo sonhos de riqueza fácil, têm a infalível fórmula mágica de alcançar o pote de ouro, deveriam então ser todos magnatas. Concorda? Então para que ficar espalhando a notícia? Altruísmo, filantropia? No mundo mesquinho das finanças onde até coelho engole lobo? Aqui "procês" ó!

Jardim das Memórias (de Pato para Ganso)
No final da estreita rua, onde o asfalto se dissolve em terra batida, encontra-se um pequeno jardim. Não daqueles jardins ornamentados, com canteiros alinhados e flores em profusão. Este é um jardim diferente, onde as flores são lembranças e os canteiros são os corações daqueles que por ali passam.

É um lugar mágico, onde o tempo parece parar. Os bancos de madeira pacientemente esperam por visitantes que queiram se entregar à contemplação. Cada árvore tem sua própria história, seus galhos parecem sussurrar segredos aos que se dispõem a ouvir. Era lá que Luana costumava passar suas tardes. Com seus cabelos prateados e sorriso acolhedor, ela tinha o dom de transformar simples momentos em preciosas lembranças. Sentava-se sempre no mesmo banco, de onde podia admirar a roseira que plantara anos atrás, em memória de seu amado. As crianças do bairro também tinham sua parcela de encanto naquele jardim. Corriam entre os canteiros, inventando aventuras e criando memórias que os acompanhariam por toda a vida. Era ali que aprendiam sobre o ciclo da natureza, sobre a importância de cuidar e preservar. Mas nem só de alegrias era feito o jardim. Havia também espaço para a melancolia, para as lembranças dolorosas que teimam em ressurgir. Era onde o velho Antônio buscava consolo depois de um dia difícil, onde as lágrimas podiam ser derramadas sem julgamento. Conforme a estação, o jardim se transformava. No outono, as folhas dançavam ao vento, tingindo o chão de dourado. No inverno, o silêncio se fazia presente, cobrindo tudo com um manto branco e gelado, a geada matinal dominava. Na primavera, a renovação era palpável, com flores desabrochando em profusão. O verão, o calor era suavizado pela sombra das árvores, convidando todos a desfrutarem de sua frescura. Não importava a época do ano, o jardim estava sempre lá, pronto para acolher quem precisasse. Era um refúgio para os solitários, um santuário para os sonhadores, um museu de memórias para os nostálgicos. E assim, entre sorrisos e lágrimas, risos e suspiros, o jardim das memórias seguia seu curso, testemunhando o passar dos dias e guardando os segredos daqueles que por ali passavam. Um lugar onde o tempo não tem pressa, onde as lembranças ganham vida e onde o amor floresce eternamente.

E tem que saber economia para bem querer a vida simples e suave? Mais vale um Jardim de Memórias do que se enganar por iscas de dinheiro fácil.

Quer ser milionário? Eu também, mas minha cobiçada fortuna é outra. Sacou?


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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