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26/04/2024 às 08h00min - Atualizada em 26/04/2024 às 08h00min

De volta ao passado

WILLIAM H STUTZ
Buscar distância do entojo
luta sempre pelo novo
fugaz lição de vida.
da palavra ao aceite o merecido deleite
de tempos a sorrir - prazer, frenesi.

A vida nos traz assombros;
fugindo sempre de internos escondidos escombros:
sombrios, úmidos, mas nunca a dar nojo.

Frutos do que criamos, a riqueza bela e clara sempre presente.
Merecemos?
experiência, vislumbre sempre a calma
comum em seu bojo
a lavar com perfumada essência, a alma.

William H. Stutz


Pouco original o título não é mesmo? Mas juro, não encontrei outro que apetecesse, que desse jeito no que vou contar. Começo de vida custoso como é para todos que não nasceram em berço de ouro. Um certo ano de louca recessão ou apenas mais um dentre tantos. O País em sufoco. Ditadura militar finalmente agonizando. Mudanças seriam lentas e graduais como diziam os poderosos da própria abertura.

O país em polvorosa, para ainda mais complicar era ano de copa do mundo e a seleção de Tele Santana era do mesmo naipe da de Zagalo em 70. Deu no que deu. Aí pintou a “Tragédia do Sarriá” e a seleção da Itália nos despachou mais cedo para casa. Mas isso é só futebol e as preocupações reais incomodavam muito mais.

Recém-formado agarrando o que aparecesse, carecia sobreviver. Um emprego em Campinas e lá fui começar a vida profissional. O veterinário que virou números. Passava o dia em computador acredito que um 286 a digitar em tela negra e letras em verde formulação de rações animal. Durou pouco, um ano para ser exato. Estava na cara que não seria essa minha praia. Me fui ou “fui ido”. Um amigo e irmão de república me consegui um trabalho. Era longe à época hoje logo ali. Por toda minha vida vou agradecer a Jeová – não o bíblico e criador – mas ao Jeová vulgo Temporal por apelido e que virou nome, o nome de batismo por este ninguém conhece. 

Para começar tenho que explicar como se chega. Vamos lá então.

Saindo de Uberlândia sentido Prata. Estrada de chão. Asfalto só depois da ponte do rio Tijuco. No posto Pratão tomo rumo a Frutal mas logo viro para Campina Verde, asfalto e bom, dura pouco.

Pastel de guariroba (gueiroba no poular)  e  refrigerante e toca em frente.
De Campina Verde segue-se para Honorópolis, estrada boiadeira, chão puro, estreita, cinquenta e quatro mata-burros contatos dezenas de vezes.

Ainda no chão ruma-se para Iturama. Descanso, pouso, seguir só no outro dia, bateu cansaço e o caminho ainda é bravo.

Próximo destino Monte Alto, hoje Alexandrita – uma pena nome tão bonito, mudaram, pensa só –, até Estrela da Barra, lá adiante, virou Vila Triângulo, o poético virou geométrico.
Porteirão virou União de Minas.

Pega estrada de chão, demora, chegamos à vila Carneirinhos, hoje emancipada, virou cidade, miudinha, miudinha, mas estranhamente agradável, bonita.
Toca a correr.

Passa o pé de galinha, o buraco do chinês; erosão gigante, voraz, sempre com fome come terra, enfeia, destrói tudo à sua volta.

Corta córregos e veredas, guinada à esquerda, alguns curtos quilômetros. Chegamos. São Sebastião do Pontal. É aqui que tudo começa.

Só um recado: para fazer o trecho descrito eram gastos dois dias de viagem, distância 380 km. Uma parte de 90 km, nas águas, consumia até 10 horas, quando dava de chegar, outro caso era ficar fincado em atoleiro de terra massapé, terra de cultura da boa. Aí a chegada a Deus pertencia.

Vai saber. O ano? Isso era 1982. Logo ali.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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