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20/04/2024 às 08h00min - Atualizada em 20/04/2024 às 08h00min

Eu venci, porém nem tanto!

SE MANCA!, por Igor Castanheira

SE MANCA!, por Igor Castanheira

O jornalista Igor Castanheira traz seu olhar sobre temas relacionados a inclusão e acessibilidade.

IGOR CASTANHEIRA
Por que nos colocamos tanta expectativa? Por que queremos tanto nos destacar em meio a multidão? Essas perguntas me causam um sentimento diferente e que não consigo descrever. Como uma pessoa singular, a sociedade não espera muito de mim. Eu não precisava me cobrar tanto, não é mesmo? Acho que isso acontecesse com todos, mas de um modo invertido, mas igualmente desafiador.

Quando se vem ao mundo com o termo deficiência na certidão de nascimento, poderia muito bem me acomodar, aceitar e fazer o que dá ou o que as políticas públicas oferecem, superação é o meu carma. Se a expectativa do outro é tão baixa, isso não deveria me incomodar.

Vendo por um prisma diferente, essa condição de inferioridade pode nos favorecer, de certa forma. Nunca seremos iguais, ainda bem que dessa utopia eu não sofro, os meus sonhos utópicos são outros.

Perante a estrutura social, a minha vitória é estar vivo. Viu, o tanto que é simples! Tudo que acontece depois é um algo a mais, uma vitória, um esforço inesperado e quase tudo vira um conto de fadas, por que quase? Porque, a nossa família quer nos inserir em um mundo que ela sabe que iremos sofrer e, por isso, sofremos com antecedência. Se é tão difícil viver nesse mundo, por que não mudamos?

Essa resposta é complexa, mas simples de compreender, isso se não tentarmos ser cultos demais. Temos que parar de sofrer para vencer! De incentivar a cultura de que o aprendizado com a dor tem mais valia, é mais saboroso e que, se conseguir o objetivo, o sacrifício, é válido.

Essa cultura para uma pessoa singular, me desculpem os que não vão entender, para muitos a minha vida em si já é um sofrimento. Eu, na contramão, busco mostrar que não. Que o sorriso e a felicidade se impõem sobre o sofrimento.

O que é contraditório, não é? Luto pelo direito de ser feliz como se é. Ao mesmo tempo sofro por ter que me adaptar ao mundo que fez a realidade tão cruel, que obriga a gente a sonhar com a utópica “igualdade” e nos faz sentir insignificantes perante as nossas obrigações.

Desnecessariamente, coloquei algumas obrigações, coloquei em mim muita expectativa e sonho algo que, por conta de mecanismos sociais, eu sofro. Mesmo sabendo que a culpa é minha. A sociedade não tem que me entender ou me aceitar, ela gosta do sofrimento, se acostumou com momentos breves de euforia e se contenta com a felicidade instantânea, sempre focando no outro ou se adaptando em algum casulo confortável para maioria, talvez tendo alguns finais de semana de diversão.

A sociedade acostumou a cobrar um preço muito alto por um sonho, eu continuo lutando para vencer e superar o sofrimento com um sorriso, pois aprendi que a vida é muito mais do que a “glória” do sofrimento, ela é também é um horizonte lindo e próspero quando você tem o sorriso como um trunfo.



*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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