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27/04/2024 às 08h00min - Atualizada em 27/04/2024 às 08h00min

Somos eternos escravos do medo de voltarmos ao início

SE MANCA!, por Igor Castanheira

SE MANCA!, por Igor Castanheira

O jornalista Igor Castanheira traz seu olhar sobre temas relacionados a inclusão e acessibilidade.

IGOR CASTANHEIRA
Muito se discute sobre a geração, muito se fala sobre as suas diferenças, muito se compara com o que já foi vivido, muito se contesta a história. Sempre foi assim, nunca estamos e, tampouco, já estivemos satisfeitos.

Antigamente, a reclamação, o burburinho, a história e a nostalgia eram direcionadas. O público alvo era restrito e se podia contar conforme achávamos mais adequado a situação, se o seu poder de persuasão fosse bom, alguns ou, muitos iriam multiplicar a sua história. Mas com um porém, o telefone sem fio era manual, os efeitos distorcidos eram absorvidos lentamente como uma pequena dose de veneno ou euforia, dependendo de como essa história chegasse até você.

Assim, construímos as nossas relações e criamos as diversas sociedades. Com nossas falhas, medos e mentiras, vemos todas as sociedades se consolidando. Por meio de mitos, ignorâncias, medos e hierarquias. Estipulando valores, forjando verdades, manipulando, os ditos mais fracos, nos mostrando que a força bruta sobrepõe e elimina culturas.

Aceitamos a violência como o meio mais fácil de se impor e criar uma verdade, acreditamos que o mais “forte” é o correto, no entanto, a história nos mostra que evoluímos em eras diferentes, então, nossas atitudes, corpos, comportamentos e desenvolvimento social sofreram alterações consideráveis, no entanto, essas transformações eram lentas para nos adaptarmos à mudança.

Pense, o poder de hoje, já foi diferente um dia, o corpo imperfeito de hoje, já foi o padrão de outrora, a fé de hoje, tinha outra força antigamente e o tão valorizado dinheiro hoje, um dia não existiu.

Através de pequenos grupos, fomos nos moldando como somos e, por meio da imposição e do pouco conhecimento, construímos o que se tem hoje, sempre com o propósito de agradar um líder ou de sustentar uma fé.

Essas imperfeições consolidadas eram absorvidas e modificadas, de tempos em tempos, dando tempo para nossa ignorância assimilar a nova história, também regada de inverdades, sofrimento e sangue. Assim caminhávamos lentamente, perdendo inúmeras histórias, inventando milhares de outras, mas sempre colocando no passado a nossa irresponsabilidade, burrice e egoísmo, por outro lado, enaltecemos a mudança e o nosso tempo presente como se fossemos superiores ao passado, será?

Me questiono! Estamos na era digital, onde todos se sentem superiores para julgar ou comentar, seja em BBBs da vida ou na internet, a nossa essência cruel é enaltecida, permeada e disseminada.  Com direito te julgo, com argumentos te condeno, contudo, com benevolência te perdoo, mas não esqueço. Está registrado, marcado e não importa o futuro, hoje não aprendemos com o passado, atualmente, não nos desenvolvemos por conta dele.

Isso não é por nós, é pela necessidade do outro de carregar as nossas feridas, a necessidade do outro encontrar em alguém  algo que não tem, ao mesmo tempo, temos a necessidade de provar que a nossa sabedoria é mais valiosa do que a do outro. Com o peso infinitamente multiplicado, a nossa existência vem sendo esmagada por uma soberba e ignorância que fazem parte de nós e da nossa incapacidade de compreendermos que nós e as nossas histórias serão esquecidas. Porém, antes disso acontecer, ela ganhará inúmeras versões.

Sem tempo de aprender, sem espaço para sentir, sem momento para desfrutar e com lampejos de lucidez, estamos sendo escravos de uma realidade virtual. Se a realidade que construímos já é estupidamente absurda, a nossa realidade paralela é infinitamente mais perigosa e atraente.

Nesses dois mundos, nos adaptamos e sobrevivemos. Seremos capazes de separá-los? Acharemos normal a inteligência artificial se tornar tão ignorante quanto nós? Deixaremos a nossa soberba diminuir?  Continuaremos a regredir em prol de um futuro que não iremos conhecer?

Questões interessantes, onde corremos para responder, falamos para justificar, imaginamos o que não vamos ver. Todavia, o tempo nos deixa mais insensíveis e frios, mais robóticos, por outro lado, mais perdidos, com mais informações e sem conhecimento. A humanidade vem se destruindo aos poucos, contudo, a realidade virtual aflora nossos instintos e traz à tona a nossa essência animal, provando que não sabemos onde queremos chegar, mas nos dando a certeza que podemos voltar ao início.

Não somos uma raça inteligente, muito menos esperta, somos apenas uma partícula insignificante que se dá muito valor, mas que em um tempo tão curto de existência, é capaz de se achar soberana, mesmo embaixo dos pés de muitos que seguem com medo de viver, mas não lembram que um dia estarão embaixo dos pés de outros.


*Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
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