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12/03/2024 às 08h00min - Atualizada em 12/03/2024 às 08h00min

Os Paes de Almeida

ANTÔNIO PEREIRA
Sebastião Paes de Almeida era um dos homens mais ricos do país. Amigão do JK, tinha sido presidente do Banco do Brasil e Ministro da Fazenda. Nasceu no município de Estrela do Sul, no distrito de Santa Rita, em 1912. Ergueu um império econômico como poucos houve no país. 

Eram dezenas e dezenas de empresas de grande porte. Aqui em Uberlândia mesmo, ele possuía um Terminal de Asfaltos da Oleogazas S/A, que era a maior distribuidora de asfaltos do país; tinha uma filial da CVB, que era a única produtora de vidros planos do país; e uma agência da Real Aerovias, um dos maiores projetos aeroviários da América do Sul. Talvez mais alguma coisa.

Foi eleito deputado federal por Minas Gerais, em 1962, recebendo a maior votação do estado. Por denúncia da UDN, foi cassado em 1965 pela ditadura militar. Tinha se candidato a governador do Estado e seria eleito tranquilamente se não fosse impedido pelo AI-2. Em seu lugar, o PSD lançou o Israel Pinheiro que venceu facilmente a contenda.

Sebastião era conhecido como “Tião Medonho” (apelido da personagem central do filme nacional de grande sucesso de 1962, “Assalto ao Trem Pagador”) porque onde passava fazendo sua campanha despejava dinheiro a rodo. Mandava fazer escolas, hospitais, ajudava instituições e muita gente de dentro e de fora do império meteu a mão na cumbuca. Menos eu.

Ele tinha um primo residente em Botucatu, São Paulo, que era seu homônimo – também era Sebastião Paes de Almeida. O filho deste Sebastião, por questões políticas, para não ser preso, fugiu do país e asilou-se no Uruguai. O caçador de comunistas, delegado Fleury, achou-o e prendeu-o. Depois de algum tempo, com muita manifestação a favor de sua liberação, inclusive de jornais, o rapaz foi solto e não perdeu tempo, voltou para o Uruguai onde estudava numa Faculdade de Artes de Montevideo.

Lá um dia, seu pai, o segundo Sebastião, com a esposa, resolveu visitar o filho e se mandou num velho Gordini. Era um dos carros mais fracos e mais baratos que havia no Brasil. Quando chegava a Marília o carro pifou. Fundiu. Sebastião deixou o veículo numa oficina, tomou um ônibus da Cometa foi para Curitiba e de lá, noutro ônibus, tocou para Montevideo. Era época natalina. Ele pretendia fazer uma visita rápida e voltaria para passar o Natal em casa. Na divisa com o Uruguai, policiais federais, fortemente armados, pararam o coletivo e revistaram todo mundo. 

Quando identificaram o Sebastião Paes de Almeida deram-lhe voz de prisão e o acusaram de estar fugindo do país. Ao que argumentou esse outro Paes de Almeida: “Se eu fosse o outro estaria no meu avião particular, não nesse ônibus velho. ” Consultas, pesquisas, informações, o ônibus parado, todo mundo com o saco cheio. Até que se apurou a verdade e o Sebastião Paes de Almeida que não era o Sebastião Paes Almeida pode seguir viagem pra ver o filho.
 
Em 1975, morreu um deles, o outro não sei quando, mas, por incrível que pareça, os dois morreram pobres.
 
Fonte: Pedro Rosa (Popó)


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