Sebastião Paes de Almeida era um dos homens mais ricos do país. Amigão do JK, tinha sido presidente do Banco do Brasil e Ministro da Fazenda. Nasceu no município de Estrela do Sul, no distrito de Santa Rita, em 1912. Ergueu um império econômico como poucos houve no país.
Eram dezenas e dezenas de empresas de grande porte. Aqui em Uberlândia mesmo, ele possuía um Terminal de Asfaltos da Oleogazas S/A, que era a maior distribuidora de asfaltos do país; tinha uma filial da CVB, que era a única produtora de vidros planos do país; e uma agência da Real Aerovias, um dos maiores projetos aeroviários da América do Sul. Talvez mais alguma coisa.
Foi eleito deputado federal por Minas Gerais, em 1962, recebendo a maior votação do estado. Por denúncia da UDN, foi cassado em 1965 pela ditadura militar. Tinha se candidato a governador do Estado e seria eleito tranquilamente se não fosse impedido pelo AI-2. Em seu lugar, o PSD lançou o Israel Pinheiro que venceu facilmente a contenda.
Sebastião era conhecido como “Tião Medonho” (apelido da personagem central do filme nacional de grande sucesso de 1962, “Assalto ao Trem Pagador”) porque onde passava fazendo sua campanha despejava dinheiro a rodo. Mandava fazer escolas, hospitais, ajudava instituições e muita gente de dentro e de fora do império meteu a mão na cumbuca. Menos eu.
Ele tinha um primo residente em Botucatu, São Paulo, que era seu homônimo – também era Sebastião Paes de Almeida. O filho deste Sebastião, por questões políticas, para não ser preso, fugiu do país e asilou-se no Uruguai. O caçador de comunistas, delegado Fleury, achou-o e prendeu-o. Depois de algum tempo, com muita manifestação a favor de sua liberação, inclusive de jornais, o rapaz foi solto e não perdeu tempo, voltou para o Uruguai onde estudava numa Faculdade de Artes de Montevideo.
Lá um dia, seu pai, o segundo Sebastião, com a esposa, resolveu visitar o filho e se mandou num velho Gordini. Era um dos carros mais fracos e mais baratos que havia no Brasil. Quando chegava a Marília o carro pifou. Fundiu. Sebastião deixou o veículo numa oficina, tomou um ônibus da Cometa foi para Curitiba e de lá, noutro ônibus, tocou para Montevideo. Era época natalina. Ele pretendia fazer uma visita rápida e voltaria para passar o Natal em casa. Na divisa com o Uruguai, policiais federais, fortemente armados, pararam o coletivo e revistaram todo mundo.
Quando identificaram o Sebastião Paes de Almeida deram-lhe voz de prisão e o acusaram de estar fugindo do país. Ao que argumentou esse outro Paes de Almeida: “Se eu fosse o outro estaria no meu avião particular, não nesse ônibus velho. ” Consultas, pesquisas, informações, o ônibus parado, todo mundo com o saco cheio. Até que se apurou a verdade e o Sebastião Paes de Almeida que não era o Sebastião Paes Almeida pode seguir viagem pra ver o filho.
Em 1975, morreu um deles, o outro não sei quando, mas, por incrível que pareça, os dois morreram pobres.
Fonte: Pedro Rosa (Popó)
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